O Demônio do Necrotério

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Sexta-feira, o último plantão.

O odor acre de carne pútrida que impregna o ambiente era rotina na vida de Eddie,  que devora um hambúrguer banhado de molho cheddar e "ketchup" – um prenúncio do que em, alguns minutos, teria que sujar suas mãos enluvadas.

Com as pernas descansadas sobre a ampla mesa de mogmo, olhos revirados alheios à porta a frente, ele não se importou com as manchas vermelhas na camisa branca ou na barba grisalha por fazer; relâmpagos estrememeciam fora do escritório, acompanhado pelo bombardeio incessante da chuva que caia àquela noite.

00:00, o relógio marcava em seu braço gordo e peludo, ele era o último funcionário.

Eddie embrulhou o guardanapo engordurado, atirou-o à lixeira rende à janela de persiana fechada, atrás da poltrona. Ao despedir sua bunda preguiçosa do seu assento, ele galgou vagarosamente até a próxima sala, sorrindo de orelha a orelha.

Ela estava lá... estática sob a mesa, no centro da sala, em seu sono natural.
Os fios negros emolduravam o rosto de traços joviais e bem trabalhados, realçados com a maquiagem gótica e o batom avermelhado.
Eddie apalpou os seios fardos sob a camisa preta com a imagem de uma caveira com assas de morcego. Entrementes, seus hormônios masculinos afloraram com tamanha beleza de sua nova namorada, mas se conteve com os ruidos de espasmos que vinham das gavetas frigoríficas à esquerda.

"Quer saber? Eu não vou perder essa oportunidade".

Antes de ler o documento repousado sobre ela e constatar o laudo médico da jovem, Eddie levou suas mãos  às calças, desabotoou para libertar a ereção pungente e levantou a saia escura de Thifany.

Entre o piscar intermidente do refletor suspenso sobre o corpo da paciente, Eddie se entregou aos seus instintos naturais, penetrando com força aquela vagina fresca.

A intensidade do ato aumentava uníssono ao ruído   de dois corpos e da intempérie fora daquele necrotério; o suor escorria pelo rosto redondo dele, os olhos injetados de puro êxtase...

"Se pelo menos ela acordasse..."

Mas forte e mais forte... e sua semente jorrou entre as pernas dela. Eddie suspirou aliviado e, pouco a pouco, sua expressão suavizava. Antes de colocar o casaco de couro e apagar às luzes, ele a envolveu sob um cobertor branco.

Mas nada poderia prepará-lo para o que  viria.

O auxiliar de necropsia entrou minutos depois do ato na sala fria, onde o cadáver o aguardava. Ela estava envolta no mesmo lençou, que mal ocultava as marcas de violência em seu corpo. Eddie respirou fundo e puxou o tecido, revelando o rosto pálido e os olhos vidrados da vítima. Um calafrio percorreu sua espinha, mas ele queria mais. Ele pegou o bisturi e fez um corte na barriga da mulher, esperando ver os órgãos internos. Em vez disso, ele viu algo se mexer. Algo vivo. Algo horrível. Uma criatura negra e peluda saiu de dentro do corpo, rasgando a carne e os ossos com suas garras afiadas.

A coisa era peluda, com chifres, presas e olhos vermelhos. Ele soltou um grito agudo e saltou para trás, largando o bisturi. A criatura o encarou com um olhar maligno e saltou sobre ele, cravando seus dentes em sua garganta. Sangue jorrou de sua veia jugular, enquanto a dor e o terror tomavam conta de sua mente. Ele caiu no chão, agonizando, enquanto a criatura se alimentava de suas entranhas. Ele tentou gritar por ajuda, mas ninguém ouviu. Ele estava sozinho com o bebê-monstro que saiu de sua acompanhante.

Na manhã seguinte, os policiais prenderam as náuseas com o odor mórbido do que restou de Eddie. Mas seus olhares se arregalaram com a macabra cena do crime: sobre todo o piso tingido de sangue e órgãos carcomidos, braços, pernas e partes do tronco do auxiliar formavam um quebra-cabeças por todos os cantos. O tronco estava separado em três pedaços.

Os policias vasculharam mais até se depararem com o quadril da vítima. Ao examinarem mais, o metal encharcado de sangue coagulado empalava fundo o ânus formando imagens bizarra nos oficiais com as mãos repousadas sobre a coronha.

O mais jovem deles, aparentando ser o novato na corporação, vomitou na lixeira próxima, atônito.

- Os legistas irão trabalhar muito nesse caso - comentou um dos policias, levando a mão ao nariz.

"Desde então, a polícia investigou à rigor o assasinato misterioso do necrotério durante trinta anos. Eles nunca encontraram o autor do assassinato e arquivaram o caso. Mas, aquela criatura. Aquela coisa.... vagueia pelas ruas escuras de algum bairro de sua cidade, ela espreita como um vulto pela residência daqueles que ouviram sua história, religiosamente por volta das 03:00 da madrugada, independente da mídia ou arquivo de texto. Esperando... até a hora de sua vítima dormir, enquanto sua bocarra de dentes afiados saliva por sangue".

Flores Negras - Contos De Terror E Morte Where stories live. Discover now