— Sim, majestade?

— A condessa falou sobre um suspeito, que usava capa branca. Por que não citou isso antes? Sabia que poderia ajudar nas buscas...

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, mas não virei meu corpo para encará-lo. Na verdade, aquela resposta não importava e por isso não me importei em verificar se parecia estar falando a verdade.

— Eu não sabia como abordar esse assunto sem contar o que aconteceu, majestade...

Respirei fundo e balancei a cabeça para mostrar que entendi, sentindo ainda mais decepção. O que eu diria a seguir não seria fácil.

— Ermy, se o homem com capa encardida for realmente o traidor, você perderá seu cargo na guarda real e precisará voltar para o centro de treinamento, para morar com os outros soldados.

— O quê? — Ele perguntou desesperado.

— Se ele for o traidor, isso significa que você teve a chance de impedir que tudo acontecesse, parando o suspeito, mas falhou por estar entretido com atividades pessoais quando deveria estar a postos. E, nesse caso, sua irresponsabilidade nos custou o rei por tempo indefinido... Ou para sempre. — Fiz uma pausa para me recompor, porque meus olhos marejaram e minha voz falhou. — Eu não o perdoaria, nesse caso. Guardas reais precisam ser confiáveis.

— Mas, Helene... — Ermy começou sua argumentação.

— É como será. — Interrompi, então o encarei. — E, se a pessoa for culpada, também significa que você pôde contribuir com pistas desde o princípio, mas não o fez. Isso torna sua situação ainda pior.

O soldado encarou suas botas bege, desanimado e pensativo, como uma criança que é repreendida.

— Espero que isso não passe de um mal-entendido — falei antes de retomar minha caminhada.

Não demorei a parceber que Kardama estava parado no pátio aberto ao lado do corredor, nos observando, então me aproximei do rei.

— Jakin escreveu. Ele disse que será um prazer nos receber — Kardama contou quando me aproximei, mantendo seu tom de voz frio e distante.

Ele me entregou a carta para que eu lesse os detalhes do que o imperador dos elfos disse. Li brevemente antes de devolver o papel ao rei.

— Tudo bem. Vamos partir amanhã — falei.

— Ótimo — ele concordou, então ficamos em silêncio, ouvindo apenas o canto dos pássaros naquela manhã ensolarada.

Meu vestido púrpura tinha mangas curtas, adequadas ao calor daquele dia.

— O que você estava falando com o guarda? — Kardama quebrou o silêncio para perguntar tentando disfarçar seu incômodo.

— Estava falando sobre o que a condessa contou. — Fiz sinal para que começássemos a andar e ele concordou.

— É mais ciumenta do que aparenta, princesa — o rei disse com certa amargura.

Arqueei as sobrancelhas para encará-lo.

— Eu não sinto ciúme de Ermy — respondi.

— Ontem alertou sobre a possibilidade de sentir algo por ele, princesa, e após refletir, concluí que faz sentido. Até nosso noivado repentino, você estava comprometida com esse soldado. Sentimentos não somem tão rapidamente e imagino que ainda reste algo.

Estreitei os olhos, então dei de ombros e relaxei antes de sorrir.

— Meu compromisso com Ermy não era muito sentimental. Na verdade, sempre foi mais como uma amizade — contei, então encolhi meus ombros. — O que falei ontem era mera provocação, não precisa sentir ciúme.

— Eu não sinto ciúme. — Kardama respondeu rapidamente.

— Eu discordo — sorri novamente.

O rei revirou os olhos, mas voltei à seriedade para continuar falando.

— Na verdade, não contei tudo sobre o motivo da minha conversa com Ermy. Talvez o tenha feito dessa forma apenas para provocá-lo novamente, já que estou admitindo.

Kardama parou de andar e tocou meu braço para que eu parasse também e o encarasse.

— Quer tanto que eu sinta ciúme de você? — ele riu.

Senti minhas bochechas queimarem, mas fiz esforço para manter minha postura e não demonstrar meu constrangimento.

— Estou determinada a fazer você sentir algo por mim, mesmo que seja ruim — expliquei enquanto observava sua expressão finalmente sorridente.

— Por que determinou para si um objetivo impossível?

Dei de ombros.

— Eu gosto de ser desafiada.

— Ou está desesperada para que eu sinta o mesmo que você.

Comecei a rir.

— É claro. Eu estou perdidamente apaixonada e preciso desesperadamente do seu amor — fui sarcástica e ele riu.

— Eu percebi que sim — o rei brincou, então voltamos a caminhar.

— E eu percebi o seu ciúme.

— Não sinto ciúme de Ermy. — Kardama fez uma pausa, então riu mais uma vez. — Já que estamos admitindo, devo contar que não gosto daquele guarda. Apenas por isso fico incomodado com a proximidade de vocês.

Isso fazia sentido.

— Ermy não gosta de você também. Parece que vocês tem sentimentos recíprocos, devo ficar enciumada? Quer dizer, você era meu inimigo até inventarmos esse casamento — brinquei.

— Eu serei seu inimigo para sempre, princesa, não se preocupe.

— Somente meu inimigo?

— Somente seu.

Sorri, então paramos de andar em frente ao escritório.

— Que bom que admitimos tudo o que estamos sentindo — provoquei.

Ele estreitou os olhos e sorriu antes de usar o mesmo tom provocativo.

— Eu concordo. Sinto-me até mais leve agora, princesa.

— Ótimo.

— Ótimo — o rei disse pausadamente.

Quando toquei a maçaneta redonda de ouro para abrir a porta do escritório, Kardama segurou minha mão para impedir. Os alquimistas já estavam ali dentro para falarmos sobre a poção.

— Qual o motivo da sua conversa com o soldado?

Respirei fundo desanimada, como se estivesse revivendo aquela cena recente.

— Explicar que, caso seja confirmado que a figura de capuz é o traidor, ele perderá seu posto na guarda real e será apenas mais um soldado, porque terá falhado em seu dever de proteger a coroa por distrair-se com questões pessoais. Também disse que não o perdoaria se não encontrarmos o antídoto do meu pai, porque além de poder ter impedido a traição, também ocultou essa pista relevante — contei, então encolhi meus ombros e desviei meu olhar. — Parte de mim espera que estejamos errados.

Ele me observou em silêncio por alguns segundos, então olhou em volta e aproximou seu rosto para beijar minha testa.

— Admiro sua atitude e concordo com ela — então o rei fez uma pausa e deu uma breve risada. — E não estou falando isso apenas por não gostar do guarda.

Torci meus lábios em um sorriso desanimado, então entramos no escritório para contar aos alquimistas que iríamos ao território dos elfos procurar a fórmula da poção que salvaria meu pai.

Passei o resto daquele dia ansiosa, porque sentia que cada hora que passava era uma a menos que meu pai estava preso ao sono profundo.

A Coroa de Luz [COMPLETO]Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin