— Eu posso pensar em pedir perdão por ele.

O rei sombrio riu, mas não demorou a voltar à seriedade. Ao encarar sua própria mão, percebeu que estava esmaecendo.

— Vou acordar em breve, mas quero que saiba de algo... — ele começou a falar e aguardou até verificar que tinha minha atenção antes de continuar. — Realmente está sendo uma péssima governante.

— O quê?!

— E vai continuar sendo enquanto estiver presa a tentar adivinhar como seu pai agiria em cada situação. Enquanto a coroa estiver na sua cabeça, esse é o seu governo e você precisa pensar por conta própria. Você é a rainha, Helene. Não deve seguir as pegadas dele ou as minhas. Precisa fazer as suas, por mais que eu vá discordar do que imagino que você fará a seguir. Não pense no que Malkiur faria. Pense no que a Helene fará.

Recuei surpresa e sorri, sentindo o alívio crescer em meu interior.

— Era o conselho que eu precisava. Muito obrigada.

— Eu dou bons conselhos, princesa, mas eles não são gratuitos. — O rei me lançou uma piscadela.

— Kardama... — Estreitei meus olhos.

Mas, tão repentinamente quanto cheguei ali, fui arrancada daquele sonho. Demorei a reconhecer que estava em meu quarto quando abri os olhos, como se ainda não estivesse completamente desperta.

Levantei da cama tentando ignorar a pontada de frustração pelo pouco tempo que durou. Além disso, também não sabia se ele realmente estava ali ou se era apenas um truque da minha mente.

De toda forma, aquele conselho era tudo o que eu precisava naquele momento, por mais óbvio que fosse.

Naquele dia, chamei o arauto e o escriba para fazer outro anúncio. Um anúncio meu, não uma pegada de Kardama ou do meu pai.

— E façam todos saberem que quem trouxer um suspeito sem provas, apenas pela recompensa, será preso nas masmorras do castelo, julgado e punido por colaborar com o traidor, adiando o julgamento dele. Estou em uma busca séria e meu tempo é valioso demais para ser desperdiçado com falsos rastros. Por fim, se o traidor se entregar, ele será anistiado.

Os dois se entreolharam e Dahle, que estava passando por perto, parou para me encarar.

— Mandem o mensageiro vir avisar quando o anúncio for divulgado. Por agora, podem ir.

Os dois curvaram seus corpos em reverência e saíram do salão após tomarem notas das minhas palavras.

— Pretende perdoar o traidor, Helene? — Dahle se aproximou curiosa quando percebeu que agora estávamos sozinhas com os guardas.

— Não, mas ele não se entregaria se soubesse e eu preciso dele.

Ela torceu o rosto em desaprovação.

— Seu pai não aprovaria essa atitude.

— Meu pai não está aqui para aprovar, Dahle. Estou fazendo isso para conseguir o antídoto dele...

— Essa não parece a forma como minha Helene agiria — ela resmungou, então curvou seu corpo. — Com sua permissão, majestade.

— Pode ir — por mais que quisesse continuar aquela conversa, permiti que ela partisse para seus afazeres.

Por mais diferente que fosse, aquela era eu. Pela primeira vez, estava agindo conforme meu próprio julgamento e talvez por isso eles não me reconhecessem.

Todos os anúncios foram entregues aos argians e as buscas pelo traidor pareciam promissoras. Isso aumentou meu otimismo em relação ao antídoto que acordaria meu pai.

A Coroa de Luz [COMPLETO]Where stories live. Discover now