30 | Arrière, en

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Diante a resposta não-verbal, Bongcha continuou:

— Eu e a Jina percebemos que você e o Minnie estão meio estranhos. Então... Na verdade, só queria saber se você quer conversar.

— Desculpa, acho que não quero.

— Onde já se viu pedir desculpas por isso?! — Bongcha arregalou os olhos, em uma expressão cômica e teatral. Conseguiu arrancar a primeira risada sincera de Jungkook. Jimin não só possuía o sorriso do pai, mas também os sermões prontos. — Não precisa querer, tá bom? Em nenhum momento mesmo. Mas gostaria que você soubesse que, se você mudar de ideia, a qualquer momento, tô aqui, tá? Eu e a Jina. E o Minnie também, mas isso você já sabe. Se você precisar de qualquer outro tipo de ajuda, sem ser uma conversa, também estamos aqui! Eu e a Jina trabalhamos na área de saúde, somos cheeeios de contatinhos, é uma alegria!

— Por que eu tenho a impressão de que você sabe o que aconteceu mesmo sem eu ter contado nada? O Jimin mandou alguma mensagem?

— É um dom sobrenatural que vem junto da paternidade! — O tom de voz era pomposo e humorado. Porém, deixou-o suavizar antes de completar: — O Minnie não contou nada pra gente. Duvido que contaria, na verdade; mal conta as coisas sobre ele, imagine sobre você! Só... somos atentos a alguns detalhes, sabe?

Jungkook, então, acompanhou o olhar de Bongcha. Até seu pescoço. Por não enxergá-lo sem um espelho, havia esquecido dos arranhados e roxos pintando-o. Esfregou-o, tenso, querendo cobrir a pele marcada.

— Mas, Kook... Vou fazer um pedido, tá? Se você achar qualquer forma mesmo da gente te ajudar, mesmo que seja trazendo um sorvete que você gosta, é só falar. Nem eu nem a Jina vamos nos meter sem sermos chamados, porque você e o Minnie já não são crianças e, nesse caso, é complicado se o outro lado não quiser receber ajuda. Mas falar que não é difícil ver vocês assim, sem poder fazer nada, seria uma mentira do caralho. Então, se puder, peça. A gente vai ficar feliz em ajudar.

— Tenho certeza que sim...

Após uma longa inspiração, Jungkook tomou coragem de escorregar até mais próximo de Bongcha e apoiar a cabeça no ombro dele. Daquela vez, gostou de ser enlaçado pelos braços calorosos. A tristeza persistia, mas era acalentada também. Uma lágrima escapou dos olhos.

— Gostaria que vocês fossem minha família... — confessou Jungkook.

— Enquanto for bom pra você e pro Minnie, a gente é — Bongcha afirmou. — Sei que a gente não é substituto perfeito e sei que tem algumas coisas que a gente quer e espera da nossa família de sangue. E essa expectativa que a gente constrói durante nossa vida faz com que fique, sim, algo faltando; mas gosto do conceito de ter a família que a gente escolhe também. Às vezes, sinto que o que falta fica um pouco menor, por outros cantos ficarem cheios.

— Às vezes parece que você tá na minha cabeça.

— É que já virei tiozão! Vivi muita coisa, então aumentam minhas chances de entender um pouco do que você passa pra falar um pouco do que eu penso. Mas é aquilo: se um dia quiser contar o que você passa de verdade, tô por aqui.

— Obrigado... — murmurou Jungkook, com a voz trêmula. — Será que é muito feio se eu chorar no ombro do senhor?

— Feio é me chamar de senhor, só. Ainda sou jovem. De alma, claro. O resto tá liberado!

Jungkook riu, mas as lágrimas já escorriam em abundância. Sentiu seu corpo ser enlaçado com ternura enquanto enterrava o rosto no ombro alheio e voltava a chorar, frustrado com a expectativa que construíra em cima de seus pais. Ao menos, conseguia reconhecer a existência dela. Ao menos, atestava que, assim como os sorrisos e sermões, Jimin também tinha puxado do pai a capacidade de dar os melhores abraços do mundo.

Uma suposta facção de balé • jikookWhere stories live. Discover now