Bianca, bastante acostumada com provocações desnecessariamente inflamadas entre irmãos, parecia perfeitamente confortável, ainda que não desviasse os olhos do pedaço de pizza de lombo com abacaxi meio-mordido em sua mão:

— Caras, eu não acredito que isso é bom mesmo!

A noite inteira se seguiu naquele clima deliciosamente leve, interrompido apenas nos curtos segundos em que a mãe deles surgiu na porta, completamente produzida, para avisar que estava de saída. Mesmo em tão pouco tempo, ela ainda conseguiu soltar uma de suas provocações de tom inocente: "Emily, tá fazendo charme para a sua visita? Fingindo que não fica trancada no seu quarto o dia inteiro?".

Daniel quase arranjou uma briga ali mesmo, mas 1) sabia que apenas correria o risco de ouvir coisas ainda piores; 2) não queria deixar Bianca desconfortável. Mesmo que sua comunicação com Emily não fosse mais das melhores, ver como Angela parecia fazer de tudo para atacá-la o deixava indignado. Era tão cruel e não parecia ter qualquer finalidade além de humilhar a filha, mesmo por coisas tão bobas... Como se fosse um ultraje vê-la feliz sem ser nas condições impostas por ela.

Aquele comentário murchou Emily como uma flor, mas Daniel sabia que não era nenhuma sensibilidade às palavras, apenas a mesma exaustão que ele compartilhava por nunca se sentir em paz na própria casa. O filme ainda estava começando e ele imaginou que a noite acabaria ali mesmo, quando reencontrou a típica apatia nos olhos de Emily. Porém, a cada comentário genuinamente interessado de Bianca (em conjunto com aquele tom doce de quem parecia temer assustar um cervo), a irmã pareceu lentamente se distrair da frustração. Pela primeira vez em muito tempo, Daniel até encontrou uma brecha para engajar em uma conversa com ela, fingindo ter algo a adicionar à discussão das amigas.

Atitude que (quase) prontamente se arrependeu quando Emily abriu um sorrisinho debochado e disse:

— Para de fingir que você está assistindo, Dani. Você não tirou os olhos do shorts da Bianca nem por um segundo. — E a expressão tranquila da irmã quase fez valer a vergonha que sentiu. Mas definitivamente não foi o suficiente para impedi-la de receber uma almofadada em cheio na cara, que só não escalou para uma guerra de proporções incalculáveis porque Bianca mandou os dois "pararem de macaquice e prestarem atenção na merda do filme."

Algo muito irônico para ser dito pela demônia que atualmente não parava de passar a maldita/maravilhosa mão pela sua virilha enquanto os créditos do filme rolavam pela tela. Enquanto ele juntava os lábios em uma linha fina para tentar disfarçar o quão excitado estava, Bianca tinha a cara de pau de continuar conversando com Emily como se não estivesse tentando destruí-lo naquele instante.

Ele já tinha tomado banho, mas precisava de outro. E de uma punheta. Tipo, muito, se esperava durar mais de trinta segundos depois que Bianca pisasse no seu quarto.

— Ahn... Vocês já vão subir para dormir? — Emily perguntou, algum tempo depois, quando ela e Bianca já tinham se levantado para ajeitar a sala e levar os pratos para a cozinha. Daniel sequer saiu do sofá ou tirou o cobertor estrategicamente posicionado no seu colo, fingindo que estava concentradíssimo com sua timeline no Twitter.

— Vou subir e tomar um banho, você se importa em cuidar do meu bichinho mais um pouco? — Ele ergueu o olhar do celular, tentando desesperadamente parecer distraído.

O sorriso de Emily aumentou. E o da demônia ao seu lado também, mas a alegria de Bianca parecia envolver mais a completa bagunça em que o havia transformado com menos de três minutos de carícias do que qualquer outra coisa.

— Ah, claro. Sem problemas — Emily falou.

O coração de Daniel derreteria um pouco quando Bianca segurou a mão da sua irmã, se ele não estivesse ocupado demais tentando não ter um curto circuito. Minha nossa, que mistura estranha de emoções.

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