Davi tinha saído antes, enquanto eu estava guardando a papelada. Apressado, levantei o mapa para dobrar e foi aí que vi uma discreta mancha onde Loreta havia colocado a sua taça, na noite em que nos encontramos. Os copos do The Wolf tinham formatos diferentes, um para cada tipo de bebida, a vodca com limonada e sangue era servida em um cálice triangular e quando ela pôs o dela em cima do papel, deixou uma pequena marca da condensação.

Coloquei mais contra a luz, o triângulo formado era um pouco menor do que deveria, mas as pontas praticamente ligavam os três primeiros crimes. Voltei a me sentar, dessa vez com um grafite em mãos. Usando um caderno como régua, tracei um equilátero perfeito. O quarto assassinato ocorreu alinhado com o primeiro, quilômetros para a direita e o quinto, às margens do Tietê na mesma distância do segundo. Liguei as duas últimas mortes e formava uma aresta de mesmo tamanho do primeiro triângulo.

Se minha intuição estivesse certa, uma sexta morte fecharia um segundo triângulo, entrelaçado ao primeiro. Para isso, ela ocorreria no Parque da Juventude, zona norte de São Paulo, onde ficava o antigo presídio Carandiru, palco de um famoso massacre em mil novecentos e noventa e dois. Era a melhor pista que tínhamos.

"Descubra se os detetives chegaram a esta conclusão também, vigie a delegacia e escute a movimentação, se for preciso, mas não deixe que os policiais cheguem perto do parque", avisei a Davi.

"Combinado, irmão, cuidaremos disso hoje."

*****

Abandonei os meus planos e fui direto para o parque. Estava calmo e tranquilo, com crianças e jovens se exercitando nas diversas quadras esportivas que havia ali. A natureza tinha tomado conta das antigas estruturas do presídio, trazendo o verde para as grades pintadas de laranja do que um dia foi uma das maiores penitenciárias do país. Se fantasmas existissem, ali seria o local perfeito para vê-los, mas não havia nada além da calmaria que a natureza me trazia.

Mesmo que fosse uma pequena área arborizada em comparação com a floresta que tinha em casa, ainda era prazeroso pisar na grama com os pés descalços. Eu estava no meu disfarce de universitário hipster, com camiseta branca por baixo de uma camisa de botão xadrez aberta, jeans e tênis. Óculos preto de aro, livro, caderno, lápis e cesta de piquenique, que continha três sanduíches bauru, uma garrafa de água e outra térmica com sangue.

Nenhum humano seria capaz de detectar meu fingimento. Os fones em meu ouvido não tocavam música alguma e eu permanecia focado nos arredores, enquanto estava apoiado em uma árvore, desenhando com carvão uma criança brincando com seu cachorro. Se os lobisomens eram presentes divinos para a humanidade, os pinschers tinham sido enviados pelo satanás. O diabinho tentou me atacar assim que foi colocado no chão pelo dono, mas bastou um rosnado baixo e ameaçador meu para que ele desistisse da empreitada.

O garoto de dez anos estava sozinho com o animal, sua camiseta era da cor da minha e dois dentes faltavam em sua boca. Antes que pudesse questionar onde estava sua mãe, uma mulher loira, que lembrava o padrão das outras, carregando um punhado de flores se aproximou. O vento vindo do outro lado do parque soprou por ela e trouxe o aroma até mim. Inspirei fundo, reconhecendo o perfume.

— Desculpe perguntar, mas que flores são essas? — chamei a sua atenção.

Ela olhou para baixo, envergonhada:

— Margaridas, a moça disse que eu podia pegar...

— Onde? — mal perguntei e já estava juntando minhas coisas para encontrar a tal mulher.

Quando cheguei mais cedo, não havia ninguém onde ela indicou e ao me deparar com a mulher em questão, sorri com pura satisfação. Resolveria meu primeiro caso em tempo recorde e voltaria para casa como um vitorioso salvador de jovens inocentes. Mudei o formato da minha unha, enviando a Davi a imagem da garota loira que também tinha o mesmo tipo físico das outras vítimas, distribuindo margaridas no possível local do próximo assassinato.

Era coincidência demais para dar errado.

"Se ela está aí e bem, como tinha o cheiro das flores na última vítima?"

Era um bom questionamento. Inspirei, sem notar nenhum aroma diferente das flores. Ela não emanava uma assinatura de poder, como um vampiro faria, mas estar sob o sol quente também eliminava essa possibilidade. Tampouco era uma loba, tinha certeza que eu reconheceria.

Não é?

Além do mais, não havia como ela ter ativado o dom da licantropia sem a mistura de sangue de Izzy e Heinz.

"Vai ter que cortá-la, irmão".

Eu não tinha notado que estava enviando meus pensamentos para Davi, mas ele estava certo. Precisaria testar. Aproximei-me com a desculpa de pegar uma margarida.

— Quanto custa?

A mulher sorriu e ela devia ter no máximo vinte anos, talvez menos. Eram raras as pessoas que tinham uma simetria facial como a dela.

— São de graça. — Ela me deu três unidades e eu, que mantive um lápis de ponta fina na mão, a furei "sem querer".

Fiz a minha melhor expressão de desculpas e passei o dedo pelo sangue, em uma falsa tentativa de corrigir o erro. Ela não se importou e sorriu com doçura, garantindo que não havia problemas. Nenhum aroma especial. Definitivamente, não era uma loba e nem podia se tornar uma.

Estranhei a pitada de decepção e agradeci a garota antes de me afastar com as flores. Ela parecia tranquila demais e eu só conseguia pensar em duas possibilidades: era apenas uma coincidência — improvável, mas não impossível — ou o vampiro manipulou a memória dela com alguma droga. Ora, podia nem estar acordada ao presenciar a última morte.

Assim que me virei de costas, levei o dedo aos lábios e o lobo acordou em resposta.

___________

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