capítulo 3

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"Depois da primeira mentira, toda verdade
                            vira dúvida"

                                        — Autor desconhecido

                                 ~~×~~

Sua cabeça pulsava com uma intensidade que quase a fazia sentir como se estivesse à beira de uma explosão iminente. Ao seu redor, vozes murmuravam indistintamente, como se vindas de um mundo distante, inalcançável. No entanto, antes de ser arrastado de volta para a escuridão que parecia envolvê-lo, conseguiu captar uma frase curta, mas suficiente para fazê-lo fraquejar e cair da cama.

- Chame Sírius Black.

Um toque delicado e gentil acariciou seu rosto, um gesto que trouxe certo conforto mesmo em meio à confusão de sua mente atordoada. Lutando contra a dor que irradiava de sua cabeça, ele tentou abrir os olhos, mas a luz que invadia o quarto parecia cortante, agredindo seus sentidos já fragilizados.

Piscou repetidamente, permitindo que sua visão se ajustasse gradualmente à luminosidade excessiva, revelando nuances e detalhes que antes estavam ocultos na penumbra. O ambiente ao seu redor ganhou vida, os tons mais vivos e definidos, delineando os contornos da sala de forma nítida.

Ao virar a cabeça, deparou-se com um rosto que conhecia, mas que não deveria estar ali. Era uma presença que desafiava a lógica, afinal, fantasmas não existem, certo?

- Eu morri?- questionou, e uma risada escapou dos lábios do homem à sua frente, como se achasse graça da ironia do momento.

- Não, Harry, você não morreu. Está vivo e bem, embora ainda pareça um pouco magricelo-  respondeu a voz, tão familiar e reconfortante que Harry se perguntou se estava mergulhado em mais um sonho torturante.

- Bem, se eu não morri, então isso deve ser um sonho, já que você está morto- murmurou, a dor da perda ressurgindo em sua garganta. A figura à sua frente assumiu uma postura mais séria, como se percebesse a gravidade da situação.

- Harry, precisamos conversar- disse, colocando uma mão firme em seu ombro.

Foi então que ele percebeu: o toque quente e sólido em seu ombro, a sensação tangível de presença. Aquilo não era um sonho. Estava longe demais da etérea volatilidade dos sonhos que o assombravam. Era real.

Com um misto tumultuado de emoções transbordando de seu ser, Harry deslizou da cama, levantando-se abruptamente. Tristeza, raiva, confusão e uma série de outras sensações se entrelaçavam em seu rosto, como os fios de uma tapeçaria complexa.

"Não, você está morto. Eu mesmo te enterrei", murmurou Harry para si mesmo, como se pronunciar as palavras em voz alta pudesse tornar aquilo verdade.

"Não, Harry. Estou vivo. Bem aqui, diante de você", respondeu o homem, avançando alguns passos em sua direção.

"Não, não, não. Isso não pode ser real. Eu devo estar enlouquecendo. Você morreu. Eu vi seu caixão. Estive lá quando o enterraram", protestou Harry, balançando a cabeça em negação, como se pudesse afastar a realidade que se desdobrava diante de seus olhos.

"Tem certeza? Você não sabe o que pode ter havido dentro daquele caixão", provocou o homem, num tom que deixava transparecer um conhecimento além do alcance de Harry.

"Eles disseram... Eles disseram que o caixão precisava ficar fechado, que... que o estado do corpo era terrível", murmurou Harry, a voz embargada pela dor ao rememorar aquele momento de desespero.

"Harry, olhe para mim", pediu o homem, erguendo o rosto de Harry com gentileza, forçando-o a encarar aquele rosto tão familiar, tão marcado pela vida e pelas experiências compartilhadas. "Estou bem aqui, na sua frente. Eu não morri. É uma longa história, e preciso que você se acalme."

A Ordem|| DrarryWhere stories live. Discover now