Aqueles seis olhos cansados me fitavam, aguardando por alguma resposta.

— Continuem em busca do antídoto para acordar o rei Malkiur. — Foi tudo o que pensei em falar. — Agora vão.

Os três homens levantaram e saíram da sala em silêncio. Voltei a encarar o tampo da mesa até que a porta fechasse e eu tivesse certeza de que estava completamente sozinha ali.

Então, mergulhei meu corpo naquela cadeira, desabando em meus sentimentos negativos como raramente me permitia fazer.

Senti que era inocente e inútil, exatamente como quando fui traída pelos soldados de luz. Dessa vez estava ainda mais irritada, porque agora podia ver as consequencias da minha mansidão com clareza.

Não era apenas sobre insubordinação, meu pai estava adormecido e sem qualquer cura conhecida.

Eu queria encontrar o responsável por aquele ataque e punir como merecia, mas a vingança era tudo o que surgia em meus pensamentos e era óbvio aquilo não me levaria a lugar algum.

Se não tivesse foco e frieza para resolver aquela situação, poderia afetar também pessoas boas, que não tinham nada a ver com a traição.

E, pensando friamente, eu não sabia o que fazer diante de uma traição.

Levantei da cadeira e comecei a andar de um lado para o outro enquanto pensava "o que o rei faria no meu lugar?".

Encarei o papel e a pena que estavam sobre a mesa. Eu conhecia alguém que sabia lidar com aquela situação, e meu pai disse certa vez que suas atitudes eram ensinamentos nesses casos.

Comecei a escrever, mas recuei. Kardama certamente viria resolver o problema, mas deixaria Senka sem um líder. Além disso, eu deveria ser respeitada pelos argians também.

Por fim, decidi ir até o local onde refletia desde meu retorno: o quarto onde papai dormia. Ele não respondia, mas eu gostava de deixá-lo a par de tudo o que estava acontecendo.

— Pode ir descansar, mãe — toquei o ombro de Nair ao falar.

Minha mãe estava ainda mais abalada do que eu com tudo o que aconteceu. Meu pai era muito mais do que seu marido, como também um grande companheiro desde o dia em que casaram quase trinta anos antes. Para ela, era muito difícil estar no castelo sem a presença dele, principalmente quando sabia de sua condição.

Ela não saía daquele quarto, de seu posto de sentinela ao lado da cama onde ele dormia, exceto quando ia ao templo fazer orações para que ele retornasse sem sequelas. Ninguém entrava sem que ela visse, e assim acreditava também que nenhum mal a mais o alcançaria.

— Você deveria dormir — comentei, mas ela balançou a cabeça para negar.

— Eu vou ao templo fazer orações. — Foi tudo o que disse antes de sair.

Torci meus lábios e encarei o corpo adormecido de papai, então sentei ao lado da cama e comecei meu longo desabafo.

Eu preferia acreditar que, apesar de não poder responder, meu pai ouvia tudo o que eu falava. Assim, parecia mais fácil supor o que ele gostaria que eu fizesse.

No dia seguinte, chamei o general Alípio para conversar. Ermy também estava presente, e embora ainda estivesse magoado, continuava amigável como sempre.

— Majestade — Alípio ajoelhou-se em frente ao trono quando entrou e cruzou o grande salão vazio. — Como posso ser útil?

— Os outros soldados ainda não sabem, mas o que aconteceu durante o último ataque morroian foi resultado de traição. Quero que envie os guardas por todo o território em busca do responsável. — Fui direta. — Quem trouxer o culpado será generosamente recompensado.

A Coroa de Luz [COMPLETO]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora