Capítulo 1

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Aruna nunca teve dias tão cinzentos antes, mesmo durante os invernos.

Era como se o reino da luz já não brilhasse, mas acredito que essa era apenas a minha visão sobre o que estava acontecendo ali.

Sentada no trono do meu pai, com minha nova coroa, aquele salão parecia grande até demais para uma única pessoa.

Era como eu passava meus dias: sempre parada, encarando as gigantescas portas entreabertas que levavam ao exterior do castelo, aguardando por alguma notícia de Senka ou dos responsáveis pelo escudo. Raramente acontecia.

Não percebi o passar do tempo desde que voltei para Aruna, mas sabia que já fazia um vagaroso mês.

Os responsáveis pelo escudo do castelo tentavam descobrir como foi destruído, enquanto todo o exército real ajudava os magos de luz a reerguerem Aruna. Todos no reino estavam ocupados.

Agora que eu estava de volta, os arunienses tinham a falsa impressão de que estariam protegidos de novos ataques e eu aproveitava a oportunidade para deixar claro que estávamos seguros, mesmo que fosse mentira.

Aruna não precisava do caos causado pelo pessimismo naquele momento, então eu deveria encarar esse medo sozinha.

Kardama e eu trocamos algumas cartas, mas era como se escrever não fizesse sentido. Éramos muito mais distantes e formais daquela forma, falando apenas sobre a política dos reinos.

Os magos responsáveis pelo escudo do castelo finalmente apareceram com uma conclusão sobre o que tinha acontecido na noite do ataque. Estávamos sentados em volta da mesa de madeira, na sala de reuniões do meu pai.

— E então, como um dragão conseguiu destruir a barreira? Ela não era indestrutível? — perguntei impaciente assim que sentei.

Eles se entreolharam, escolhendo silenciosamente quem falaria.

— Ela era, a menos que fosse enfraquecida — o mais velho, Henner, disse com cautela.

Dei uma breve risada amarga. Dragões não tinham esse poder. Aquela explicação parecia com uma piada e eu não tinha mais tempo para perder com todas as dúvidas. Precisava de certezas, porque o rei de Aruna estava adormecido em sono profundo e não sabíamos quanto tempo restava.

— E como o dragão conseguiu enfraquecer a barreira? — perguntei com certo deboche, mas meu sorriso desapareceu imediatamente quando entendi o que eles queriam dizer.

— Ele não poderia fazer isso. Foi feito por dentro do castelo. Naquela noite, o rei e a rainha estavam dando um banquete para os arunienses, em comemoração ao seu casamento — o mago esclareceu.

— Estão supondo que fomos traídos? — perguntei olhando em volta, para os rostos de cada um, em busca de algum sinal de humor.

Eles desviaram seus olhares como se fossem repreendidos. O único a continuar olhando em minha direção, o mago mais velho Henner, ajeitou sua postura antes de responder:

— Não. Isso é uma certeza, majestade. Já encontramos o círculo de Kein que foi colocado próximo à oração do escudo.

— Círculo... De Kein? — Arregalei meus olhos. — Mas isso é...

— Magia obscura — ele completou.

A sala mergulhou em um silêncio perturbador. Eu estava encarando o tampo da mesa, enquanto os magos Henner, Zilo e Ludo me observavam.

Os três já tinham seus rostos marcados pela idade. Henner, o mais velho, era calvo e o pouco cabelo que lhe restava, branco. Zilo tinha longos fios pálidos, constantemente presos. Ludo era grisalho e tinha uma barba cheia.

A Coroa de Luz [COMPLETO]Where stories live. Discover now