c a p í t u l o ✿ 4 3

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Bianca assentiu, tomando o cuidado de ser discreta, sem saber se Emily falava aquilo num tom normal ou de "cuidado", como Daniel sempre se referia à mãe.

— Pode usar minha pantufa — Emily ofereceu e colocou no chão um par cor-de-rosa para Bianca usar. A convidada agradeceu, mas achou que Emily se esforçava para falar o mais baixo possível, como se não quisesse despertar um animal perigoso que podia estar à espreita.

A anfitriã assumiu a frente e guiou a convidada pelos cômodos enormes que se dividiam por arcos ostentosos. Tudo era decorado com muito bom gosto em tons claros e não havia nem uma almofada fora do lugar. Quando percebeu, Bianca estava até trancando a respiração, como se pudesse disfarçar o quão deslocada se sentia naquele casarão.

Os espaços eram tão amplos que só ouviu as vozes femininas pela primeira vez apenas quando chegaram à sala de estar. Atravessaram-na para chegar na sala de visitas, onde duas mulheres estavam de costas para a entrada, sentadas em poltronas acolchoadas. Seguravam taças de vinho tinto e conversavam em outra língua e Bianca precisou se esforçar um pouco para reconhecer que era Italiano. Sobre a mesa de centro, diversos doces chiques estavam dispostos em bandejas de metal.

— Oi, mãe.

Apenas quando Emily chamou, as mulheres se deram conta das visitas. Bianca jamais confessaria, mas de alguma maneira esperava que uma delas tivesse chifres ou um rabo pontudo pontudos, e assim reconheceria a mãe de Daniel. No entanto, as duas mulheres tinham aparências jovens, peles brancas sem qualquer marcas de expressão e cabelos recém cortados e hidratados. Só pôde presumir que a loira era a dona da casa porque foi ela quem se levantou, enquanto a de cabelos escuros simplesmente pegou seu Smartphone.

— Oi, filha — cumprimentou, numa voz cantada. — Você chegou cedo. Quem é sua amiga?

Bianca sentiu um arrepio percorrer o corpo. Não porque os olhos verdes fossem particularmente assustadores (na verdade, fora o número surpreendente de jóias e a maquiagem pesada para um final de tarde em casa, a mulher parecia... normal), mas porque antecipara tantas maneiras daquele encontro sendo um desastre que um simples olhar já a deixava ansiosa.

— É a Bianca. Eu perguntei essa semana se ela poderia dormir aqui.

— Ah claro, verdade! — Para a surpresa de Bianca, ela abriu um sorriso que parecia bastante simpático: — Olá, querida! Seja bem-vinda. Meu nome é Angela e essa é minha amiga Chiara. — A mulher virou para a outra e disse alguma coisa em italiano que lhe arrancou um risinho. Chiara desviou o olhar do celular para dar um aceno de cabeça sem vontade.

Apesar de estar pensando "que diabos está acontecendo?", Bianca não deixou o sorriso vacilar. Quem sabe se conseguisse fazer a mãe de Daniel gostar um pouquinho dela...

— Prazer! — falou. Atrás das costas, suas mãos suavam. — Sua casa é muito bonita!

— É, não é? — Angela abriu mais o sorriso e Bianca soube que falou a coisa certa. — Reformamos ela completamente há três anos, o projeto foi do De Lucca.

Presumiu que fosse o nome de um arquiteto. Sem fazer a menor ideia do que deveria responder, ergueu as sobrancelhas e suspirou um "uau" enquanto olhava ao redor. Angela falou mais um pouco sobre o projeto (que Bianca entendeu tão bem quanto se ela tivesse continuado falando em italiano) e só depois de algum tempo voltou a olhar para a convidada:

— Querida... Ahn, como é mesmo?

— Bianca!

— Bianca, Emily nunca tinha te trazido aqui, né? — Angela se aproximou um pouco e apoiou a cintura no encosto da poltrona. Era alta, com mais de 1,75, e Bianca lutou contra a vontade de encolher os ombros. Queria que Emily respondesse, mas a colega estava igualmente imóvel ao seu lado. A mulher tomou mais um gole da taça de vinho e perguntou: — Qual seu sobrenome?

CamelliaWhere stories live. Discover now