Bianca assentiu, tomando o cuidado de ser discreta, sem saber se Emily falava aquilo num tom normal ou de "cuidado", como Daniel sempre se referia à mãe.
— Pode usar minha pantufa — Emily ofereceu e colocou no chão um par cor-de-rosa para Bianca usar. A convidada agradeceu, mas achou que Emily se esforçava para falar o mais baixo possível, como se não quisesse despertar um animal perigoso que podia estar à espreita.
A anfitriã assumiu a frente e guiou a convidada pelos cômodos enormes que se dividiam por arcos ostentosos. Tudo era decorado com muito bom gosto em tons claros e não havia nem uma almofada fora do lugar. Quando percebeu, Bianca estava até trancando a respiração, como se pudesse disfarçar o quão deslocada se sentia naquele casarão.
Os espaços eram tão amplos que só ouviu as vozes femininas pela primeira vez apenas quando chegaram à sala de estar. Atravessaram-na para chegar na sala de visitas, onde duas mulheres estavam de costas para a entrada, sentadas em poltronas acolchoadas. Seguravam taças de vinho tinto e conversavam em outra língua e Bianca precisou se esforçar um pouco para reconhecer que era Italiano. Sobre a mesa de centro, diversos doces chiques estavam dispostos em bandejas de metal.
— Oi, mãe.
Apenas quando Emily chamou, as mulheres se deram conta das visitas. Bianca jamais confessaria, mas de alguma maneira esperava que uma delas tivesse chifres ou um rabo pontudo pontudos, e assim reconheceria a mãe de Daniel. No entanto, as duas mulheres tinham aparências jovens, peles brancas sem qualquer marcas de expressão e cabelos recém cortados e hidratados. Só pôde presumir que a loira era a dona da casa porque foi ela quem se levantou, enquanto a de cabelos escuros simplesmente pegou seu Smartphone.
— Oi, filha — cumprimentou, numa voz cantada. — Você chegou cedo. Quem é sua amiga?
Bianca sentiu um arrepio percorrer o corpo. Não porque os olhos verdes fossem particularmente assustadores (na verdade, fora o número surpreendente de jóias e a maquiagem pesada para um final de tarde em casa, a mulher parecia... normal), mas porque antecipara tantas maneiras daquele encontro sendo um desastre que um simples olhar já a deixava ansiosa.
— É a Bianca. Eu perguntei essa semana se ela poderia dormir aqui.
— Ah claro, verdade! — Para a surpresa de Bianca, ela abriu um sorriso que parecia bastante simpático: — Olá, querida! Seja bem-vinda. Meu nome é Angela e essa é minha amiga Chiara. — A mulher virou para a outra e disse alguma coisa em italiano que lhe arrancou um risinho. Chiara desviou o olhar do celular para dar um aceno de cabeça sem vontade.
Apesar de estar pensando "que diabos está acontecendo?", Bianca não deixou o sorriso vacilar. Quem sabe se conseguisse fazer a mãe de Daniel gostar um pouquinho dela...
— Prazer! — falou. Atrás das costas, suas mãos suavam. — Sua casa é muito bonita!
— É, não é? — Angela abriu mais o sorriso e Bianca soube que falou a coisa certa. — Reformamos ela completamente há três anos, o projeto foi do De Lucca.
Presumiu que fosse o nome de um arquiteto. Sem fazer a menor ideia do que deveria responder, ergueu as sobrancelhas e suspirou um "uau" enquanto olhava ao redor. Angela falou mais um pouco sobre o projeto (que Bianca entendeu tão bem quanto se ela tivesse continuado falando em italiano) e só depois de algum tempo voltou a olhar para a convidada:
— Querida... Ahn, como é mesmo?
— Bianca!
— Bianca, Emily nunca tinha te trazido aqui, né? — Angela se aproximou um pouco e apoiou a cintura no encosto da poltrona. Era alta, com mais de 1,75, e Bianca lutou contra a vontade de encolher os ombros. Queria que Emily respondesse, mas a colega estava igualmente imóvel ao seu lado. A mulher tomou mais um gole da taça de vinho e perguntou: — Qual seu sobrenome?
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Camellia
Romantikus🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2023! 🏆 O Madre Cordélia era o internato dos sonhos, mas havia se transformado em um pesadelo para Bianca. Um cyber café no centro da cidade se torna seu refúgio em meio ao caos. Ela só não esperava conhecer um aluno de outro...
c a p í t u l o ✿ 4 3
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