s/n narrative
─── Mãe, eu não tinha uma consulta agora?
Ela me olhou de canto, enquanto folheava um livro de Dostoevsky.
─── Eles remarcaram pra amanhã.
─── Então eu posso sair?
─── Depende, quer que eu te leve?
─── Não, é que o Boris tem uns quadros pra me mostrar. É aqui mesmo, no vigésimo andar.
─── Que legal! Ele é pinta o quê?
─── Eu ainda não sei ─── Dei de ombros, enquanto me levantava da cadeira, indo colocar o meu prato na pia. ─── Ele parece gostar muito de pintura, abri o estojo dele e tem um monte de lápis de cor.
─── Você tá precisando de lápis? Eu perguntei se você queria passar na papelaria mais cedo...
E pelo tom de voz dela, eu sabia qual era o assunto que estava por vir.
─── Não precisa, mãe ─── Bufei, enquanto lavava as minhas mãos na pia. ─── Tem os gastos com os remédios, e bom, vai que... Esquece.
Ela respirou fundo e colocou as mãos na nuca, tentando pensar em algo para me refutar.
─── Vai que o quê, S/N? ─── Ela repetiu o que eu iria falar. E eu a olhei, séria.
─── Você sabe ─── Respondi, vendo que os seus olhos estavam enchendo de lágrimas. ─── Para de chorar, mãe, eu estou aqui. Eu estou aqui.
Mas ela não parou, aquilo só fez com piorasse. Eu desviei o olhar, olhando para cima para que não desse tempo das minhas lágrimas caírem.
Então ela me abraçou.
─── Por favor, não fala mais isso, S/N. É isso que você pensa? É por isso que você não quis comprar os materiais?
─── Mãe, para de se preocupar com isso ─── Falei, enquanto pegava em sua mão. ─── Eu compro uma caneta amanhã, tá bom? Nem é obrigatório escrever nada. É sério.
─── E como você vai estudar? E as suas anotações?
─── Mãe...
─── Caramba, S/N! Qual é o seu problema? Por quê você não consegue parar de pensar dessa forma? Isso me magoa, tá bom? Me deixa muito triste!
─── Tá bom! ─── Gritei, fazendo com que ela me olhasse surpresa. ─── Eu vou fingir ser uma adolescente normal, mãe, eu vou.
E ela começou a chorar de novo. Me aproximei dela e abracei a sua cintura.
─── Mãe, eu não vou morrer ─── Falei, mentindo.
Até ela sabia que aquilo podia ser mentira.
─── O tratamento vai dar certo. Tá bom?
E então, ela começou à fungar.
─── Desculpa por ter gritado com você, S/N, me desculpa.
Ela pedia desculpas muito fácil.
─── Tudo bem, mãe. Eu não me importo se for você.
Ela sorriu fraco, e seu rosto estava vermelho.
─── Vou pro meu quarto, tá bom? Depois eu tomo o meu remédio.
─── Eu levo pra você, não se preocupa!
─── Tá.
Bom, essa era a minha rotina.
Cheguei ao quarto e me deitei na cama. Meu corpo estava quente, e meus braços estavam com várias marcas roxas. Tudo culpa dessa maldita doença.
Respirei fundo e fechei os olhos, tentando dormir. Então eu voltei a pensar no Boris, e de como ele parecia ser muito legal.
Ele era.
Logo, adormeci.
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𝐁𝐄𝐄𝐏-𝐁𝐄𝐄𝐏, boris
Fanfictionboris é um artista, que busca nas telas de pintura um preenchimento para o seu vazio. então ele conhece s/n, a aluna nova. aos poucos, ele percebe que ela pode estar escondendo algo. s/n tem leucemia.