Dunas de Ébano (Nome temporário)

1

O sol ruía nas dunas de areia negra enquanto a lua anunciava ser a próxima arauta do presente. As sombras se tornavam pontiagudas e ameaçadoras ,afiadas como navalhas, e o vento era gelado e variante como um espectro. A caravana era orientada em seu fronte, a pé ,por um nômade cameleiro que a guiava nas dunas de topo de forma ofídica com uma corda de sisal puxando os demais em fila. Era a cáfila mais curta que já levará, cinco camelos e dois tripulantes, mas o pagamento havia sido muito generoso. Ouro antigo quase sem adição de nenhuma liga, duas pedras enormes.

Avançavam já sem pressa, cambaleantes como se estivessem sobre um navio em alto mar. A animação pela chegada pelo menos para o Nômade e o Bibliotecário eram mais que evidentes.

Então você é filho do velho Jamalayo? - perguntou Ólizi, o bibliotecário, para o nômade.

Era inegável a semelhança parecia ter voltado nas estações passadas somente agora no último dia de viagem havia associado o nome ao rosto, o rosto do homem do deserto se projetava do traje negro de lã de camelo, já era mais que o suficiente para o comparativo, estava bem humorado. Seu sorriso parecia dobrar de tamanho devido ao grande bigode, possuia um grande nariz fino, pele bronzeada e sombrancelhas grossas que adornavam pequenos e afiados olhos negros.

Segundo o que minha mãe contou para ele, acredito que sim! - Ele respondeu, Ambos deram uma risada longa contrariando o clima soturno, seu sotaque era granulado como a areia.

As moscas de sangue os seguiram por quase toda a viagem com a esperança de tomar algum suco de gente, nem mais com a aproximação das estrelas elas desistiam.

Bomani, o Carrega Livros e terceiro membro da caravana, já não aguentava mais o bom humor dos dois conversando à sua frente em plena alegria enquanto ele lutava com tapas e insultos o avanço dos pequenos demônios-insetos na escuridão que se aproximava.

Jamal ,filho de Jamalayo, carregava uma espécie de cinzeiro de madeira em forma de tigela de onde saia uma fumaça, de odor cítrico, justamente para as moscas não se banquetearem, mas para Bomani aquilo não passava de fumaça de Narguile vencido para usar como desculpa para confortar o vício do guia.

Ele conseguia ver as luzes dos lampiões e postes alimentados a óleo de baleia ao longe se acendendo um por um como estrelas longínquas na linha do horizonte e no centro da cidade se projetava a grande montanha em que todos chamavam de "O Chifre" que era seu destino, o sol ainda matinha sua silhueta. Era enorme cerca de seis mil metros de altura, conseguia ver também a projeção e as luzes douradas do castelo no topo.

Imagina que tormenta! Carregar um filho em duzentos e setenta dias para nascer uma cópia de seu marido sem tirar nem pôr nem um fio de cabelo, aposto que já deve ter nascido de bigode fino e comprido também! Continuou Ólizi, o nômade não economizou na gargalhada.

Olhe Mestre! - Apontou Bomani para a cidade que se aproximava, já faziam quase três dias no deserto, não iria mais suportar nem mais uma hora naquela empreitada, mas sua tentativa em apressar a chegada da caravana não teve sucesso, nem atenção.

Realmente eles já estavam muito próximos, não era costume a viagem na escuridão, mas estavam quase em destino, era o suspiro final deveriam acampar na entrada para adentrar a cidade durante o dia, a noite somente o rei adentrava os portões metálicos.

Seu pai ainda tem aquele camelo manco? como era o nome hã.. - Puxou da memória já faziam mais de trinta anos.

Ah o Sultão, está logo ali. apontou para o ultimo camelo da fileira enrolando uma ponta do bigode com os dedos com a mão que estava ociosa sem a corda.

Realmente era um camelo memorável, ele andava lentamente mancando de uma perna, mas tinha patas tão longas que acompanhava naturalidade todos os outros, carregava uma quantidade de bagagem exorbitante e tinha mais adornos em suas rédeas que todos os outros quatro, era o último na fila da caravana.