Meu Céu Nublado

capítulo 2

Chegando na esquina três quadras depois da minha casa, já vejo de longe o lugar de todos os meus tormentos, respiro fundo e cubro a cabeça com o capuz do meu moletom.
Mesmo que não fosse adiantar nada, ainda tinha esperança de que aquilo iria me esconder de todos, assim como a capa da invisibilidade do Harry Potter.....aaaa....como eu sentia falta de assistir aquele filme.... eu assistia todos os dias junto com minha mãe, antes de sua morte por conta de um maldito câncer....era o único momento em que eu estava feliz de verdade.
Chegando na entrada, foram poucos segundos de paz, até sentir um impacto em minhas costas....tinham me empurrado na chão de concreto, e se eu não estivesse acostumada com a dor de um joelho ou cotovelo ralado, provavelmente já estaria chorando.

"Ei baleia gorda! Machucou?"

Ouvi a voz masculina e esganiçada rindo, enquanto ouvia os passos se aproximando do meu rosto, levantei o olhar, vendo Nicolas, o garoto popular que me atormentava desde que me conheço por gente.

"Devia olhar por onde anda gorda....e tira esse capuz, está ridícula"

O mesmo cuspiu perto do meu rosto e enquanto ria com seus amigos e o restante das pessoas que estavam no pátio, se virou e saiu.

"Essa garota é patética"

Ouvi os comentários das garotas da minha turma, enquanto eu me levantava com dificuldade do chão.
Já de pé, olhei em volta e vi que todos tinham entrado, respirei fundo limpando a sujeira de minhas roupas e entrei no prédio enorme á minha frente, parecia o inferno sem fogo....era frio e cinza, assim como o restante do mundo ao meu redor.
Tudo á meu redor parecia passar em câmera lenta, o rosto das pessoas eram escuras, no lugar de seus olhos tinha apenas um buraco escuro, e seus corações eram cinzas...sem vida....sem compaixão ou empatia. Parei de andar quando estava na frente da porta da sala de aula, de cabeça baixa e as mãos suando, respirei fundo e peguei a maçaneta, abrindo o portal do inferno.
Tudo estava quieto, sentia os olhares, cochichos e risadas em direção á mim.

"Vai ficar parada na porta senhorita Davis?!"

O professor perguntou com desgosto na voz e sem paciência. Dei dois passos para frente e fechei a porta atrás de mim, olhei rapidamente para todos na sala, mas não tive coragem de permanecer os olhando, abaixei a cabeça novamente e andei ligeiramente para o fundo da sala, me sentando na última carteira.