04 Querer Não É Poder

69 4 54
                                    

Joseline olhou dentro dos olhos do noivo. Levou sua mão ao rosto sério dele.

- Era o carro do meu patrão. Ele quis me dar uma carona... - o rosto dela se contorceu um pouco, numa expressão leve de desgosto, que logo se desfez. - Sei que parece inapropriado, mas achei feio recusar...

Maurício tirou a mão dela de seu rosto e a beijou.

- Tudo bem, amor. Se eu pudesse, eu mesmo teria ido buscar você, mas estou sem dinheiro pra gasolina...

- Eu sei, e não me importo nem um pouco com isso. Espero que não tenha ficado chateado - ela o olhou e um começo de riso surgiu no canto de seus lábios. - Nem com ciúmes.

- Não estou com ciúmes - garantiu o noivo, revirando os olhos.

- Sei! - Uma cutucada de Joseline e ele também começou a rir.

- Você sabe que não sou ciumento!

- Sei! - Ela repetiu, provocadora.

— Anda, vem! - Ele a puxou para dentro.

E entraram, conversando sobre o casamento, a construção da casa e fazendo planos.

Joseline estava feliz.




🌻

Ter um trabalho era uma benção e Joseline não deixou de agradecer por isso em um só daqueles trinta dias que se passaram.

 
Era bom ter uma rotina, levantar cedo todos os dias, adiantar o café para a mãe enquanto esta tratava de preparar os pequenos para a escola e, depois de comer alguma coisa, sair para trabalhar.

 
Para ela, tudo estava bem quando acabava bem, e poder deitar sua cabeça no travesseiro todas as noites sem maiores preocupações era demasiado gratificante.



🌻

Jane mantinha seus olhos fixos na professora de Biologia, que, naquela manhã, anunciava sobre a próxima excursão que a turma faria. O destino seria a capital do estado, a apenas cem quilômetros dali, e visitariam o Aquário Real, e o Zoológico Municipal. Tudo isso, claro, resultaria em um trabalho que valeria boa parte da nota do semestre. Por fim, poderiam passear no shopping, antes de voltar para casa.

Jane não conhecia a capital, nem um aquário, muito menos o Zoológico. Em seus treze anos de vida, ela não conhecia muita coisa, além das praças de sua cidade e o sítio da avó. Seria incrível conhecer a capital, com seus prédios enormes, os chamados "arranha céus", com shoppings centers e supermercados gigantescos. Um lugar com inúmeras possibilidades.

Aquela excursão seria tudo.

- Como vocês ainda são de menores, cada um deverá levar para casa uma autorização para os pais ou responsáveis assinarem. Quem não trouxer o papel assinado, não poderá ir - a professora dizia, enfaticamente, enquanto circulava entre as carteiras. - Amanhã eu trago a autorização para vocês e terão até uma semana para me trazerem ela assinada. Além, é claro, de uma pequena contribuição de quarenta reais.

Jane deixou os ombros caírem um pouco. Do jeito que as coisas estavam difíceis em casa, não tinha certeza se poderia contribuir com a quantia exigida. Mas não ia desistir daquela viagem, não mesmo!

- Não vai ser o máximo? - Ela se virou para falar com Heitor, seu amigo mais próximo, que se sentava logo atrás. - A gente vai se divertir muito! Eu tô animada, e você?

Heitor sorriu para ela, dedicando-lhe toda sua atenção. A franja castanha caía sobre seus olhos meigos e ele a afastou com uma virada de cabeça que fazia grande parte das garotas daquela escola suspirarem. Mas antes que pudesse abrir a boca para responder, alguém foi mais rápido:

MoreauWhere stories live. Discover now