🍄Caminhos da Floresta 1🍄

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Anna sentada aos pés de sua cama de carvalho colocava suas botas que seriam usadas para caminhar durante todo o trajeto no qual ela estava se preparando, durante uma vez ao mês a menina ficava encarregada de levar suprimentos alimentícios a sua avó Sarah, a senhora de idade avançada morava em um chalé no final da floresta que ficava atrás da vila de Gracefield, o pequeno vilarejo com poucos habitantes era cercado por aquela floresta densa e escura, onde nem mesmo os homens criavam coragem para se aventurar até o fundo, diziam que a floresta era lar de diversas criaturas dentre elas uma em especial na qual todos comentavam com medo, o lobo negro, um lobo negro com olhos brilhantes tão escuros como a noite, aqueles que o virão dizem que ele carregava um sorriso malicioso nos lábios, um ar astuto como de um caçador farejando sua presa, as pessoas tinham medo, afinal todos que entraram na floresta ousando desafiar o tal lobo nunca retornaram para contar histórias, mas Anna não gostava de ouvir esses boatos, ela preferia ignora-los para não alimentar o medo que ela própria sentia quando entrava na floresta. Isabella sua mãe também temia pela vida da filha, indo ela próprio realizar esta tarefa se tivesse em melhores condições de saúde, mas com um corpo frágil e desgastado do trabalho árduo como costureira a mulher não tinha tamanha resistência, Anna termina de amarrar os nós de suas botas e se levanta conferindo a roupa para andar até a floresta, nisso sua mãe se aproxima limpando as mãos sujas de farinha no avental branco.

- O último pão ficou pronto, a cesta já está completa.

- Certo.

Anna pegou a cesta constatando o peso, ali dentro havia vários suprimentos de comida como pães, massas, legumes, grãos e outras coisas de necessidades básicas, vovó Sarah por ser uma senhora de idade já avançada que não sai de casa desde a perda do marido há quase dez anos não ia até o centro do vilarejo abastecer a casa, mesmo com a insistência da filha de vir morar com ela e a neta vovó Sarah se recusou dizendo que ali era o lugar que iria morrer, aonde morreu seu marido, Anna realmente não entendia, era coisa de gente velha a garota pensava, ela segura a cesta com as duas mãos e vai se afastando mas antes que pudesse sair na porta Isabella lhe para.

- Aonde a mocinha está indo sem sua capa?

A capa vermelha, Anna não gostava dela, era longa e comprida, arrastando na terra e pesando seus ombros, além do que era muito chamativa desse jeito até quem não enxergava iria lhe ver com essa capa gritando "Olhem pra mim", a menina bufa e coloca a cesta na mesa, deixando a mãe amarrar a parte da frente em seus ombros, e puxar o capuz para esconder seus cabelos longos e loiros, Isabella ajeita par que não cubra seus olhos e prejudique sua visão, quando termina ela se afasta e coloca as mãos no peito olhando admirada para seu trabalho.

- Está perfeita!

- Como sempre...

Resmunga Anna baixinho para si mesma.

- Agora vamos repassar as regras.

Anna solta uma exclamação e pega a cesta se virando para a mãe.

- Ah mamãe! Eu já conheço as regras, são sempre as mesmas do mês passado e do mês retrasado e desde que a senhora tinha a minha idade!

- Regras servem por um motivo Anna...

- Para nos proteger eu sei, eu sei.

Anna revira os olhos parecendo saber todos os argumentos que a mãe iria usar, a mulher sorria amavelmente e coloca sua mãos nos ombros da menina que parece ficar mais aliviada.

- Eu só quero que volte pra casa segura...

-  Não se preocupe. Eu voltar mamãe.

A mãe beija carinhosamente a testa da filha e a mesma sorri, Anna se sentia grata por todo amor que recebia da mãe, no fundo ela entendia sua preocupação, mas sabia que tudo isso poderia ser evitado se sua avó viesse morar com elas. Assim que a menina saiu de casa ela constatou o dia nublado, com nuvens cobrindo o sol e um vento gélido anunciando a entrada do outono, a menina segue pelas ruas de terra cruzando com as pessoas do vilarejo, onde cumprimenta algumas, e vai andando calmamente até chegar na última trilha que levava para a entrada da floresta e acaba logo ali mesmo, Anna para e respira fundo, aperta a capa mais contra o corpo, e segura firme a cesta sentindo as mãos suarem frias, ela olha uma última vez para seu vilarejo, as pessoas ao longe andando e as casas com suas chaminés saindo fumaças, ela estaria de volta antes do pôr do sol... De passo em passo a menina vai andando pela trilha de terra, aonde dos dois lados só se via árvores escuras e densas, o som das folhas balançando com o vento, o som de um galho se quebrando aqui e ali, o uivo de um animal ao longe, Anna se lembra de no começo cada barulho até mesmo o mais simplório que fosse lhe assustava, ela temia que fosse o lobo negro a sua espreita esperando o momento para lhe devorar, com o tempo ela foi sabendo distinguir o uivo de uma raposa ao de um lobo o som de um galho se quebrando ao de alguém andando, porém mesmo com seu básico conhecimento de sobrevivência na floresta, havia algo que sempre deixava a loira inquieta... A sensação de estar sempre sendo observada por alguém, durante todas as vezes que Anna seguia por aquele trajeto, parecia que olhos lhe olhavam por entre as árvores, era como se uma sombra sempre estivesse escondida entre o breu da floresta, lhe observando, e o mais peculiar era que isso somente acontecia quando a menina ia para a casa da avó, quando ela pegava o caminho de volta parecia que tudo estava normal, não havia sombras, sons, uivos, era apenas uma floresta como qualquer outra.

Depois de um tempo andando, no qual Anna não sabia quanto tempo havia se passado e se ainda faltava muito ou pouco a menina ia segurando a cesta com as duas mãos na frente do corpo quando avistou embaixo de uma das árvores dentro da floresta saindo da trilha, margaridas, pequenas e belas flores, era um milagre elas estarem vivas e tão bem cuidadas já que não estava na época de nascerem estás plantas, seu hobby de jardinagem falou mais alto e mesmo sabendo que estaria descumprindo uma das regras da mãe ao estar saindo da trilha, Anna se viu tentada a ir até ali colher algumas flores para plantar em casa, afinal não era muito longe da rota e em dois minutos ela estaria de volta. A menina adentra a floresta e larga a cesta no chão, ao seu lado enquanto ia puxando delicadamente as flores pegando até suas raízes, nisso o som de algo se quebrando fez Anna levantar a cabeça num pulo, ela olha para todos os lados, nada, a garota então decidi se apressar e quando termina de pegar suas preciosas flores se levanta.

- Yo!

Anna sente aquela mão pesada e frio tocar seu ombro, aquela sensação familiar de medo e desespero, ela reconhecia o dono da mão, lentamente ela se vira.

- Eu te assustei dessa vez não foi?

- Ray...

Ali parado a sua frente, trajando seu típico termo cinza de lã batida já desgastado assim como a velha cartola escondendo suas orelhas peludas acinzentadas estava aquele das histórias de ninar contadas para assustar as crianças, e fazer os adultos temerem entrar na floresta, o lobo de olhos negros como a noite sem lua, os cabelos escondendo um de seus olhos, aquele que sempre está pronto para lhe transformar em sua verdadeira forma, Anna nunca tinha visto a forma de lobo, e agradecia aos céus por isso, Ray apareceu para ela há cinco anos atrás, em um inverno rigoroso, logo por suas pegadas na neve, e suas orelhas a menina decifrou quem ele era, mas apesar dos boatos ele não havia lhe devorado, pelo menos não ainda.

- O que você está fazendo fora da trilha Anna? Se sua mamãe souber disso ela vai ficar muito desapontada...

Ray fala com ironia sorrindo mostrando seus caninos pontudos, sagaz, humor ácido e calculista, ele era assim, Anna nunca tivera uma conversa decente com este e nem gostaria de ter, ela apenas o evitava já que o mesmo gostava de provocá-la. A menina pega a cesta e vai voltando para a trilha.

- Eu só fui colher flores.

- É perigoso sair da trilha sabia? Ouvi dizer que tem um lobo enorme a espreita dessas árvores...

A menina revira os olhos e segue andando em silêncio com Ray logo atrás, ele não iria embora tão fácil, nunca ia.

- Pelo tamanho da cesta a velha ainda não morreu.

Anna morde o lábio inferior contendo sua raiva, está certo que ela não era lá todo amor com sua avó, uma senhora rabugenta que toda vez que era visitada gostava de contar todas as suas indignações e sua história de vida apontando sempre as partes trágicas, mas ela não gostava que outras pessoas chamassem sua avó assim.

- A cesta parece maior que a do mês passado o que tem aí dentro?

Ray estende sua mão para colocar dentro da cesta mas Anna o impede colocando a cesta do outro lado e andando mais a frente, deixando o lobo irritado, ele sorri, um sorriso amarelo.

- Ei Anna aposto que está pensando que se ficar em silêncio eu irei embora logo acertei?

Anna não diz nada o ignorando, mas Ray astuto começa a caminhar ao seu lado.

- Pela sua cara eu acertei! Mas eu lamento estragar seu plano, pretendo lhe fazer companhia até chegarmos ao chalé da vovozinha . Do que será que ela vai reclamar hoje?

- Por que você ainda não me devorou?

A pergunta surgiu depois de mais um tempo de caminhada onde ambos os lados estavam em silêncio, Ray olhou para Anna como se isso fosse uma pergunta de matemática, logo em seguida ele deu de ombros.

- Huh por que? Vai saber. Talvez eu esteja esperando o momento certo.

- Então o que está esperando? Se transforme em lobo e me devore!




Por favor leiam a continuação ❤️❤️ --->

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