O BEIJO DA VIZINHA

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Acordei de supetão. Assustada olho para a janela... ainda está escuro. Vejo meu novo relógio sobre minha cômoda indicando em grandes números vermelhos que são apenas três da manhã.

Então ouço novamente o barulho que me faz acordar, ouço outro baque na porta da frente de casa. Incontrolável meus olhos já se enchem de lágrimas, mas as impeço e apressada levanto da cama pegando um casaco que sempre deixo reservado em minha poltrona (ela foi da minha mãe na verdade, usou para me amamentar segundo contava... meu pai havia tentado por fogo nela uma vez, por isso a mancha escura em um dos braços). Desço as escadas apressada quando ouço o baque de seu corpo caindo com força no chão da sala, ouço-o murmurar coisas sem qualquer sentido e finalmente chego à sala e lá está meu pai, aquele homem só sorrisos ontem de manhã? Puff'... esqueça! Corro até ele já acostumada a erguer seu peso.

– Vamos lá pai... Deus do céu, onde esteve em uma lixeira? – digo irritada sentindo um cheiro horrível de lixo podre vindo de suas roupas.

– É o meu lugar... – murmura. Com certo esforço consigo levá-lo até o banheiro, deixo o chuveiro na água fria e o sento no chão com roupa e tudo claro, ligando o chuveiro logo em seguida, ele urra com frio... mas vai deixá-lo pelo menos um pouco mais sóbrio.

– Fique ai até se lembrar da droga do seu nome está me ouvindo seu velho... – me calo quando eu iria xingá-lo e ele ergue seus olhos vermelhos e vejo que não era água do chuveiro que escorria de seus olhos – ah pai... só fique ai um tempo ok? Eu vou preparar um café ou alguma coisa para amenizar sua ressaca amanhã. – digo saindo do banheiro quando ele não diz nada, apenas abaixa a cabeça deixando aquela água fria escorrer por seu corpo.

– Desculpe – sussurra quando o estou colocando na cama vestido com o devido pijama de flanela azul e um pouco mais sóbrio, eu o abraço forte.

– Como em todas as vezes pai, não me peça desculpas se vai tornar a fazer.

– Eu não vou.

– É claro que não – digo lhe dando um beijo na testa e oferecendo um pequeno sorriso – boa noite pai.

– Boa noite Luci.

***

E o mesmo se repetiu por mais dois dias seguidos... aliás tudo se repetiu, as reuniões exaustivas, Willian pegando no meu pé por causa do novo sócio que não dava as caras ainda e estava preocupado que ele já tenha outra agência de publicidade, mas eu lhe dizia que ele não iria simplesmente para outra empresa sem ao menos falar conosco sobre sua decisão, já que quem veio até nós foi o misterioso sócio.

Willian acalmado ok. Depois foi chegar em casa e constatar mais uma vez que meu pai não estava e distraidamente olhar para a casa vizinha e perceber que era uma mulher bem diferente da que veio na primeira vez, esta era loira também, bonita, claro. Definitivamente não era casado... o que me faz pensar na pequena Clear, o que será que se passa na cabeça desse idiota para trazer mulheres diferentes para apresentar a menina? Como ela não deve se sentir?

Nesta terceira noite temos mais uma mulher diferente, esta era negra com cabelos longos e cacheados como uma cascata escura as suas costas, parecia mais uma deusa do que qualquer outra mulher que eu já tenha visto.

– Boa noite Luci – grita ele como nas noites anteriores e exatamente como as outras fecho a cara e entro em minha casa e como nas outras madrugadas tenho que dar banho gelado em meu pai.

***

São quatro da manhã, tenho que ir para o trabalho daqui duas horas, mas estou em minha sala, sentada no sofá olhando para o nada com meus shorts de boxe, uma regata cinza, cabelos presos num coque desleixado e com a mão enfaixada depois de treinar um pouco na pequena academia que montei no sótão, estou pensando em como tudo seria diferente se minha mãe ainda estivesse aqui, meu pai não teria se tornado esse pedaço inútil de homem, eu não estaria tomando esses malditos remédios para os nervos (mais falho do que realmente tomo, o boxe tem surtido um efeito bem melhor em mim), minha vida seria mais recheada de alegrias...

Meu vizinho tatuado (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora