04.

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Algo entre o ombro e pescoço de Harry queimava fervorosamente, como se atravessasse sua pele como uma adaga afiada em chamas, o cortando e o mantendo na carne viva, de dentro para fora.

Ele olhou Louis uma última vez pela janela, e percebeu seu alfa com as mãos apertadas sobre o mesmo lugar enquanto seu rosto estava contorcido como se estivesse prestes a morrer.

Harry não pode pensar sobre isso nem por um milésimo de segundo, não quando seu corpo todo entrava em combustão com uma dor anormal e várias e várias pessoas entravam em seu campo de visão, tampando Louis e o transformando em apenas mais um em meio aquela multidão.

Entre uma mordida árdua no lábio para conter o grito agonizante que estava preso no fundo de sua garganta, a visão do ômega ficou turva o suficiente para que ele cedesse ao cansaço emocional e apenas relaxasse seu corpo mole, caindo no chão como uma maldita gelatina.

[...]

oito horas antes.

Louis dirigia calmamente pela rodovia de volta para a casa.

Eles nunca teriam certeza, mas o alfa sabia que compartilhava exatamente o mesmo pensamento que o ômega naquele momento.

De alguma forma não convencional, a sensação de quase conseguir ler a mente do garoto ao seu lado o manteve com o coração acelerado e as mãos frias.

Certas coisas pareciam involuntárias perto dele, e mesmo que esse não-relacionamento já tivesse começado à meses, ainda parecia tão novo, assim como parecia tão usual e comum. Sabe? A sensação de estar perto do ômega. Era tão comum assim como era uma novidade sem igual. Uma tendência a ser explorada, porquê, porra, a parte que já conhecia Harry sabia que ele era o inferno do garoto mais doce que já tinha visto e o mais quente debaixo dos lençóis, enquanto a parte desconhecida só queria se afundar no pescoço do ômega e inalar tudo que ele tivesse para oferecer.

E novamente eles pareciam dividir o mesmo pensamento, porquê Harry soltava seus feromônios naturais e involuntários sem perceber, e aquilo inebriava o carro e toda a atmosfera. Aquilo fazia o contrário de causar uma ereção no alfa. Aquele cheiro grandioso fazia seu alfa interior querer se curvar diante do ômega e lamber suas bochechas até que ele estabelecesse que seria seu para sempre - indo contra todos os princípios da sua classe.

- Me desculpa. - Harry soltou repentinamente. E Louis diria que o cacheado estava se desculpando por seu perfume aconchegante espalhado em cada canto daquele carro, mas algo como seus dedos trêmulos e seus cílios úmidos o mostravam que talvez não tivesse nada a ver com aquilo.

Talvez Louis já soubesse e só estava tentando evitar aquele tópico, porquê ele só tinha tido o melhor fim de semana da sua vida e nem sabia o motivo de estar com todas aquelas coisas dentro de si, você sabe, aquele frio na barriga gigantesco e literalmente todos os fios do seu corpo em pé.

- Me desculpa, Louis. Por isso não poder ser de verdade. - o ômega fala, a voz baixa e entrecortada. Como se ouvir aquilo de si mesmo fosse ainda mais difícil do que dizer.

- Para mim foi de verdade. - o alfa responde de imediato, quase como se tivesse desesperado pra mostrar que as palavras de Harry não faziam sentido algum, porquê pra ele nenhum ínfimo segundo passou a ser uma mentira desde que conheceu o ômega de cachos e olhos adoráveis.

- Você sabe que não foi isso que eu quis dizer.

Louis passou a mão nos lábios e pigarreou, sentindo a pele tremer debaixo da camisa. Ele parou o carro e estacionou próximo a uma lanchonete perdida no mapa.

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