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De corpo e alma 

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A noite começava a cair do lado de fora, não sei quanto tempo fiquei divagando mas o suficiente para Alícia estar ali.

—Terminou de ajudar lá em baixo?

—Pode se dizer que sim — ela fechou a porta empurrando-a com o pé — Ajudei pegando algumas mantas e almofadas para Mila, Julian está terminando com o resto.

—Pensei que ia ficar mais tempo por lá?

—E eu fiquei, estava preparando isso — ela se aproximou deixando uma das tigelas no pequeno criado mudo enquanto mantinha a outra em mãos — Agora vamos, vire-se para eu cuidar da sua perna.

Levei alguns segundos para assimilar aquela informação.

—Você fez isso?

—Mas é claro, por que a surpresa?

—Só tenho receios da minha perna acabar caindo caso tenha usado as ervas erradas.

Vi um enorme O se formar em sua boca.

—Nafila me ensinou muito sobre emplastros, unguentos e infusões, e além do mais, se sua perna for cair vai ser por conta da sua teimosia em não descansar!

—Até parece que a machucada aqui é você.

—Chega de papinho furado — ela se aproximou o suficiente para eu sentir seu perfume — Vire-se para eu poder limpar essa ferida.

—Eu mesmo posso fazer isso.

—Não teste a minha paciência.

Sem escolhas me virei cruzando os braços sob o travesseiro, poucos segundos depois senti Alícia sentar na extremidade da cama e segurar minha perna.

—Vai doer? — brinquei.

—Nada que não possa aguentar.

Não sabia dizer se seu tom era sincero ou não mas, antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa senti seus dedos desfazerem o nó que segurava as bandagens antes de um liquido frio ser despejado sobre a ferida ainda aberta. A dor era incomoda mas, como ela mesma havia dito, não era nada do que eu não pudesse suportar.

—Bom garoto.

Não contive um sorriso debochado.

—Vai demorar muito?

—Está com pressa?

—Sim.

—Como se pudesse ir a algum lugar desse jeito.

—Não duvide das minhas capacidades.

Ela se calou mas seus dedos continuavam a trabalhar, dessa vez senti quando uma sensação áspera raspou minha pele.

—Deveria cuidar mais de sí mesmo, se não quer fazer isso por você faça pelas pessoas que se importam.

—Tipo quem?

Minha mãe e Galadriel eram quem sempre se preocupavam com meu bem estar mas elas não estão mais aqui. E nunca mais vão estar.

—Eu não conta?

Fui surpreendido por aquela resposta.

—Afinal, se não fosse por mim seu corpo provavelmente estaria jogado no deserto das almas agora.

A memoria daquele inferno de areias escaldantes me arremataram a outros momentos.

—E se não fosse por mim você provavelmente teria morrido várias vezes, ou já se esqueceu disso?

—Não muda o fato de que eu te salvei primeiro.

Podia sentir seu ego se inflamando. Sem vontade alguma de entrar em alguma discussão me concentrei na noite que começava a se apoderar da pouca claridade do quarto.

—Sabe, eu ainda acho surpreendente você ter um rabo de leão.

Inconscientemente revirei os olhos.

—Esqueceu de falar das garras.

—E garras.

Suspirei.

—Minha especie é assim, por isso sou assim.

—E de que especie você é Amenadiel?

—Isso não importa.

—Você não querer falar também tem algo a ver com as cicatrizes na sua costa?

Senti o ar fugir dos meus pulmões com aquela pergunta. Tinha me esquecido completamente que passei o dia com o dorso nú, provavelmente Mila e Julian também viram mas não tiveram coragem de perguntar, diferente de Alícia e sua língua afiada. Enquanto me perdia mais uma vez em pensamentos senti o peso do seu corpo avançar sobre mim.

Pare...

Mas não conseguia impedi-la.

Por favor...

Quando seus dedos deslizaram pela minha pele alcançando o lugar onde antes deveria haver dois pares de asas não contive um gemido de dor assim como as lembranças de varias mãos arrancando uma parte do meu corpo.

—Quem fez isso com você?

Seu sussurro carregado de compaixão era como um êxtase, desde a minha queda jamais aceitei que alguém nutrisse sentimentos como aqueles por mim, só precisava do ódio e a raiva para manterem minha vontade de vingança.

Mas ela bagunçou tudo...

E continuava bagunçando naquele exato momento. Seu toque continuava, leve, morno, carinhoso, transparecendo a serenidade que só ela tinha, acalmando meus pensamentos e fazendo meu corpo arrepiar.

—Alícia... — mal reconhecia minha voz — Por favor...

Sem que eu esperasse senti seus lábios tocarem a minha pele deixando um rastro ardente por onde tocou ao mesmo instante que um som rouco surgia do fundo da minha garganta. 

Faça a parar...

O abismo me puxava, conseguia ver a escuridão e sentir o medo do desconhecido em uma queda sem fim cada vez mais perto, minha cabeça gritava para me afastar, correr dali para o mais longe possível em um instinto de sobrevivência quando um par de olhos dourados surgiu junto de uma voz suave e tranquilizadora.

"Viva Diel, apenas viva..."

Que se dane o abismo...

Sem conseguir mais me controlar movi me corpo até estar frente a frente com Alícia, nossos olhos se encontraram no brilho tênue que lutava para permanecer no quarto quando a puxei contra mim reivindicando seus lábios.

Pelos céus...

Cada parte de mim clamava por ela, pelo seu doce perfume, pelo seu calor, pelo seu corpo.

Amenadiel...

—Shh...

 Deixei minhas mãos deslizarem pelas suas curvas, com uma onda de calor percorrendo minhas veias a puxei para meu colo rasgando o tecido que usava por de baixo do vestido enquanto abria a baguilha da minha calça. Precisava daquilo, meu corpo implorava por ela, sem me impedir senti os dedos de Alícia irem até minha nuca puxando meu cabelo, aquilo bastava e com um movimento único a possui. Os grúnidos que sairam da sua garganta se misturaram aos meus enquanto nossos corpos se adaptavam um ao outro.

Amenadiel...

A encarei, o olhar carmelo carregado de desejos com a escuridão já tomando conta do quarto.

Sim...

De corpo e alma...

A puxei para mais perto encostando sua testa na minha.

De corpo e alma.

Amenadiel (Pausado)Where stories live. Discover now