5 - A xícara de café

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                      Era um Táxi, desses particulares, quase todo 'insulfilmado', que só se pode ver o motorista e ter uma leve ideia se está livre ou não. Para mim,  míope que sou, nunca era possível ver se havia ou não alguém dentro... Passava por mim todos os dias e ultrapassava-me entre a Padaria e a Locadora de Vídeos.

                   No terceiro dia passou a me acenar, como quem deseja bom-dia e eu como sigo meu caminho, sempre lentamente, aprendi a responder. Nunca mudava de humor, o mesmo sorriso, logo depois de me ultrapassar e entrava a esquerda, como eu, mas parava na quinta casa,. Dali surgia uma mulher, com uma avental Azul e branco, com os cabelos à la Dona Florinda e um sorriso largo... 

                 Na verdade, eu não o via parar na casa, quando entrava na rua, já estava parado e ela ou vinha surgindo ou já estava parada oferecendo a xícara de café ao homem. Ele sorria para ela, com um olhar forte e recebia sua xícara e eu seguia meu caminho.

                 Todos os dias essa rotina. A dela, a minha nunca é a mesma, embora fazer o mesmo caminho seja usual, pois como toda a paulista que se preze, seja aqui em São Paulo, ou no Amazonas, sempre prefiro passar entre bairros do que cruzar as grandes avenidas... Embora em Manaus esse expediente seja quase inviável, dado a falta de retorno que há nas Avenidas principais... 

              Foi justamente pela variedade de caronas que acabei por me acostumar com o taxista. Sempre tinha um colega a perguntar-me se eu o conhecia. E invariavelmente eu dizia que era o taxista da xícara de café. Fato que a pessoa reconhecia quase que imediatamente, quando virávamos à esquerda e víamos a mulher surgir, com sua xícara. Que era azul, quase uma pirâmide invertida...

               Fazendo sol, ou chuva, a cena se repetia. E me acostumei com o fato. Como nunca saia de meu ritmo, esse era quase preciso.

                 O que ainda não disse era que sempre quis parar e pedir do café. Isso porque um dia, uma das poucas vezes que era eu ao volante,  aconteceu de alguém me ultrapassar justamente perto deles e tive que parar exatamente em frente à mulher, pois a rua não era tão larga. Foi então que descobri como seu café era cheiroso! 

               Acredito que ela passava o café exatamente no momento em que ele me dava seta, avisando que iria me ultrapassar. Só isso explica aquela fumaça e o perfume delicioso daquele líquido sagrado.

              Sempre me perguntava quem era, a mulher e o taxista, curiosidade comum de alguém como eu. professora e escritora, dupla curiosidade... Entretanto, protelava. Um dia quem sabe? Seguia meu caminho. E nem bem estacionava o carro na garagem da Escola, corria para a Copa para fazer um cafézinho, pois aquela cena matinal me assanhava...

                Se bem que para tomar um café fresco, pela manhã, não se precisa de nada...

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