Capítulo 1

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  A chuva caía fina em Curtsville, fria e dolorosa para Alina Stevens, que caminhava silenciosamente para o pátio da escola nova. O diretor disse que ela podia começar quando quisesse, afinal estava de luto pela mãe. Seu pai desapareceu depois de deixá-la ali, o que fazia com que ela se sentisse mais frustrada e com medo do que nunca. Se os demônios voltassem, ela não saberia o que fazer e nem como fugir, pois nunca tinha estudado em um colégio interno, se eles atacassem, poderiam machucar muito mais pessoas.

  O cheiro de água sanitária e comida embrulhava seu estômago, o que a fez dispensar o ensopado que estava no cardápio do dia, ela pegou uma tigela com uma salada de frutas e se sentou no canto mais ventilado, ao lado de um vaso transbordando lírios malcuidados. Ela ajeitou seus cabelos escuros num coque, quando seus olhos pousaram no rapaz, que caminhou e logo se sentou à sua frente. Ele vestia um casaco azul marinho por cima da camisa branca, os lábios cheios se abriram num sorriso lentamente, enquanto ele se preparava para comer.

  - Bem-vinda -Ele sorriu.
  - Obrigada.
  - Eu sou Evan, se você precisar de alguma coisa, pode me procurar...
  - Eu não preciso de nada - Alina interrompeu, se retirando com rigidez -, é um prazer te conhecer.

  Alina sabia que não podia fazer amigos, por isso sempre tratava os colegas de todas as escolas anteriores de maneira rude ou formal, a intimidade poderia causar a morte, afinal, a perseguição dos demônios a atormentava desde a infância, o que fazia seus pais sempre se mudarem.
  Mas agora tudo estava diferente. Era seu último ano e ela sabia que teria que aprender a se virar sozinha, as coisas nunca chegaram ao ponto que estavam. Ela tentava entender o porquê de tudo aquilo estar acontecendo, mesmo nunca tendo as respostas que buscava desde menina. Os demônios são reais, mesmo que ninguém pudesse vê-los, ela podia e era só isso que importava.

  Ela se afundou nos cobertores felpudos que tinha trazido de casa, até então sua única lembrança boa de uma vida de fugitiva, olhando para a tinta descascada do teto. Seu celular estava sem sinal, mas isso não era muito importante, visto que a única pessoa que se importava com ela tinha sido assassinada por um demônio e, mesmo que ela tentasse explicar, não poderia e ninguém acreditaria. A porta rangeu ao se abrir e a garota atravessou o quarto silenciosamente, deitando-se na outra cama.

 - Oi, Alina, né? Eu sou Brya.

 - É um prazer te conhecer.

 - Gostando da escola?

 - Não - ela sorriu.

 - Todo mundo se sente largado aqui, mas com o tempo você vai entender que aqui nós somos como uma família... Estamos sempre unidos.

 - Não me leve a mal, mas não é o tipo de coisa que eu costumo curtir. Gosto de ficar sozinha.

 - Você não precisa bancar a durona comigo.

  Alina ignorou, se virou e caiu no sono. 

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 "O vento gélido arrepiava os pelos dos braços cansados de Alina, ela chorava e gritava por socorro no meio da estrada. Quando a polícia chegou, Anastasia já estava morta. Em seus braços, as últimas palavras de sua mãe foram um pedido para que ela nunca desistisse de encontrar as respostas e, que ela nunca dividisse isso com ninguém. Seu pai, sempre ausente, nunca soube de nada, demorou dias para aparecer e nem sequer foi ao velório. Os demônios sufocaram a mulher, mas a causam da morte foi dita como parada respiratória."


  Alina desperta com o som do secador de Brya, já era de manhã, mas ela ainda não estava pronta para aparecer na aula, se remexeu na cama e tentou cochilar novamente. Brya se aproximou, deixando suas longas madeixas vermelhas tocarem as orelhas de Alina.

Alma CondenadaWhere stories live. Discover now