Meu Nascimento

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           Senti a decepção em teus olhos. Me vi um navio a beira do naufrágio, tudo oque residia em mim foi engolido por um oceano de palavras ácidas que me queimavam a pele, pude sentir meu corpo encolhendo; almejando
abrigo, tentando respirar em algum lugar dentro de si, onde não conseguiam chegar, quanto mais fundo, mais conseguia ouvir tuas vozes. Não me olhem assim, com pena nos olhos, me examinando entre suas lágrimas de raiva e desgosto. Não fiz nada de errado.
Puxaram meu corpo de volta à superfície, me fizeram sentir, em ondas e ondas, me afogaram incessantemente em meus próprios pensamentos, atordoado, eu não tinha uma rota de fuga, desisti e aceitei as palavras. Permiti que me matassem em meu oceano interior, que me moldassem a sua imagem. A imagem de um santo. Vi tudo acontecer de fora, a dor deixou meu corpo levando consigo parte de mim, a deixei ir, não possuía forças o bastante para me defender agora, seria em vão tentar mudá-los.
Anos ali, úmido e sombrio, um pagão das próprias emoções, esperei em silêncio.
       Sacrifiquei a mim mesmo repetidas
vezes, senti demais para poder continuar
a sentir, me calei, vendei meus olhos para não
machucar-me mais, esperando.
       Estremeci céus e terras com minhas lágrimas, escrevi aos mortos, orei; não a um deus, ou entidade, supliquei a meu ser coragem.
        Abracei o medo e esperei.
        Despertei em um crepúsculo com sangue nos olhos, tudo queimava, as águas ao meu redor se acalmaram, e das profundezas do mar que me cercava, pude vê-la no horizonte, em lágrimas, meu olhos ameaçavam fraquejar, mas não queria que ela me visse assim, não agora, seria forte a ela. Nadei por luas e sois, juntei minha ânsia até chegar ao coração de mim, abracei minha dor e a senti de novo. O rugido estridente que me estremecia a carcaça.
  Trago dentro do peito tudo que me afogaste aquela noite, um crime de fúria ao desconhecido, guardo essas memórias para continuar vivendo e continuar lembrando.
A estrela escaldante de meu décimo sétimo verão nasce em meus pés, envolve minha feição com um beijo e levanta uma muralha ao meu redor, guardai-me e me curardes.
Sussurrando a implorei de joelhos; "Por favor, me mantenha vivo."

Honey Where stories live. Discover now