Capítulo II

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(Música: Ten thousand words, The Avett brothers.)


- Você vai ficar calado assim por muito tempo? - perguntei, começando a me sentir irritada de verdade com aquela atitude despropositada.

Ele nada disse, mas continuou me olhando fixamente. Eu respirei fundo e descruzei os braços.

- Thomas, o que foi? Por que você não fala nada?

Eu me aproximei, segurei sua mão e acariciei seu rosto levemente.

- Vai ficar assim, sem falar comigo? Hein?

Finalmente, ele se moveu e me abraçou.

- Sei que não é culpa sua se ele gosta de você, Beatriz. Aliás, entendo isso muito bem, mas me incomoda muito esse assédio constante. Espero realmente que ele agora entenda que você não está sozinha. - Ele olhava para a frente enquanto falava, sem me olhar. Ao mesmo tempo, caminhava rápido na direção do portão principal de sua casa e eu me dei conta de que não precisávamos mais nos esconder.

- Falei com meus pais - eu disse, demonstrando estar contente. Imediatamente ele parou, colocou as mãos nos meus ombros e perguntou:

- E então? O que eles disseram? - A ansiedade era visível em sua voz.

- Bom, na próxima quarta-feira você está convidado para jantar conosco. Minha mãe faz questão.

Thomas sorriu e me abraçou com força.

- Que ótima notícia, meu amor!

- Está feliz? - perguntei em voz baixa.

- Muito. E você?

- Também estou feliz.

Eu só não podia dizer a ele que a minha felicidade estava envolta em sombras. Porque nós não éramos um casal comum, que marca jantares em família a fim de assumir compromissos comuns, visando uma vida futura normal. Não. Nós éramos um casal impensável, cujo encontro devia-se a algum tipo de desordem cósmica, a um desvio de caminho entre o céu e a terra, e eu não fazia ideia do que nos reservava o minuto seguinte, muito menos o tempo futuro.

Creio que ele também estava pensando nisso, e principalmente em tudo que iria me contar. Que teria de me contar, porque eu estava disposta a arrancar dele toda a verdade e nada menos do que a verdade. Eu estava realmente decidida e ele sabia disso.

Como estávamos mergulhados em nossos pensamentos, fomos calados até a casa dele. Quando entramos, eu pude ver que havia três carros na garagem, significando que Catherine e Armando também estavam ali. Porém, não vi ninguém do lado de fora, a não ser Lourenço, que estava na varanda da casa maior. Ele nos viu e eu creio ter percebido um mínimo movimento de cabeça em nossa direção. Por isso, acenei para ele alegremente e percebi outro leve movimento em resposta. Sim, estávamos começando a nos comunicar melhor e eu gostei desse pequeno progresso.

A casa de Thomas já não estava mais tão arrumada, mas eu não me importei. Logo me joguei no sofá, recolhi as pernas e descansei a cabeça no encosto macio. Ele ficou de pé diante de mim e eu fiz um gesto convidando-o a sentar-se ao meu lado. Porém, ele fez que não com a cabeça e escolheu o chão, sentando-se com as pernas cruzadas. Foi quando entendi que, para que pudéssemos ter aquela conversa, realmente seria melhor evitarmos muito contato físico. Ou melhor, deveríamos evitar contato físico de qualquer tipo, pois a atração que existia entre nós era muito forte e quase incontrolável, mas aquele não era um bom momento para distrações.

- Então, você está pronto para me contar tudo? - perguntei, olhando-o nos olhos.

- Tudo? Não. Ainda não, Beatriz. Tudo é muita coisa. Mas vou contar o que você pode começar a saber. - Minha expressão mudou na hora e, antes que eu pudesse protestar, ele continuou: - Beatriz, confie em mim. Contar tudo é como tentar contar a história do mundo em uma única lição. Ou seja, é impossível. Então, seja sábia e paciente, por favor.

Prometidos - Para o bem e para o mal (Livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora