Capítulo VII- Um Beijo

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— Por favor, Hansan! Vamos, vai ser rapidinho... você nem vai sentir. Vamos, por favor!

— Não.

— Eu preciso disso ou vou enlouquecer!

— Não adianta, Dae-ho, eu não vou fazer isso.

Haviam se passado oito dias, dez horas e quarenta e seis minutos desde que sua monografia fora entregue nas mãos do seu orientador e, sim, Dae-ho estava contando até os segundos passados, porém, como ainda não tivera um retorno de Na-moo, estava prestes a se ajoelhar para continuar implorando para que Hansan deixasse novamente aquela birra de lado, ligasse para o primo e, despretensiosamente, lhe perguntasse sobre sua pesquisa.

— É só uma ligação rapidinha, Sr. Lee. Ele não vai te morder nem arrancar um pedaço.

— Até porque ele já arrancou uma perna inteira, não é mesmo?!

Aigo, que exagero! Nem foi a perna toda, foi só um pedacinho dela.

Hansan largou um talher na pia e girou o pescoço, lhe fuzilando. Estava começando a se irritar por ter tido aquela ideia de apresentar Dae-ho ao seu primo, mas não chegava a se arrepender, pois sabia que aquela orientação poderia futuramente abrir muitas portas ao fisioterapeuta. Entretanto, reconheceu que aquele pedido não sairia barato desde o momento em que pediu a Benjamin para repassar o convite e ele se negou a falar com o ex-marido, lhe obrigando a deixar o orgulho e quebrar seu voto de silêncio, que já perdurava por quase um ano.

Haviam terminado o almoço e o estudante de fisioterapia estava, mais uma vez, tentando convencê-lo a fazer uma simples ligação. Ele mesmo poderia ligar, já que a primeira coisa que Hansan fez, ao ouvir o primeiro pedido, foi lhe enviar o contato do primo. No entanto, após ouvir parte daquela história que os envolvia, estava determinado a ser mais uma vez a ponte de ligação entre ambos e, quem sabe, conseguir reaver a convivência pacífica entre eles.

— Olha, Dan-ah — amenizou a voz e respirou fundo. — Você já tem o número dele. Com certeza se você ligar, ele vai te atender, numa boa. Não me pede mais isso, ok?

— Você o culpa, não é?

Sabia que sim, mas precisava ter aquela conversa com o Lee.

— Claro que culpo!

Girou o corpo, ficando de costas para a pia e apoiando as mãos ensaboadas em sua borda. Desistira da ideia de esconder a prótese das vistas de Dae-ho e estava tentando passar o maior tempo possível com ela e fazer, aos poucos, alguma atividade da casa. Sempre sob o olhar atento do fisioterapeuta que, assim que o viu virar o corpo e se apoiar para não se desequilibrar, levantou prontamente da cadeira de onde o observava, para auxiliá-lo, segurando-o pelos quadris.

Com a proximidade, Dae-ho podia ver nas íris castanhas do artista toda a dor daquela culpa que ele, inutilmente, transferia para quem o salvou.

No fim, o amargor da verdade sempre estava ali, lhe corroendo a alma.

— Pelo quê? — instigava-o a falar.

Além de toda aquela culpa escondida, podia ver em seu olhar e postura defensiva, alguém que silenciosamente gritava por socorro.

— Pelo que você o culpa?

— Por isso! — Abriu os braços, mostrando ser a razão. — Olha para mim, Dae-ho! Esse não sou eu! Eu morri naquela droga acidente! O que sobrou de mim depois que o Sora se foi, morreu dentro daquela merda de carro!

— Não! — ditou duramente, assustando a Hansan, que já tinha as vistas embaçadas.

Não conseguiu se conter ao vê-lo naquele estado. Iria fazê-lo entender que aquela não era a sua verdade.

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