Capítulo 1

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ARIADNE DASKALAKIS

Nervosismo me definia naquele momento. Por quê? Estava sentada de frente para o homem que lia meu livro, um futuro agente, uma chance de publicá-lo, mas desde o momento que entreguei a história, ele não deu uma única palavra, o que só me deixava ainda mais nervosa. Eu não era do tipo que roía as unhas, mas se aquele silêncio continuasse, seria capaz de começar. O agente abaixou o calhamaço, tirou os óculos e me encarou.

- A história é boa, tem potencial. - Ele começou a falar e eu sentia que viria um, porém, não estava gostando nem um pouco disso. - Porém... - Não disse? - Falta tato, o romance é muito fantasioso.

- Fantasioso? - perguntei querendo saber onde ele queria chegar.

- De quem ainda não viveu essa experiência, falta esse tato. - Explicou. - Te falta um pouco de vivência nesse mundo, Ariadne...

Estava começando a me desanimar, a pensar que meu sonho de ser escritora não se tornaria realidade. O agente me encarava, ainda tinha algo a dizer.

- Não vou descartar totalmente - Foi alívio para mim. - Como eu disse, tem potencial e acredito que possa ser melhorado.

- O que sugere? - questionei, curiosa e ávida pelos conselhos. Eu sabia que havia uma chance de rejeição, mas sinceramente não queria ter que lidar com isso, acredito que ninguém queira.

- Um mochilão pela Europa - respondeu, recostando-se no encosto macio de sua cadeira. - É jovem, precisa viver sua vida, aproveitar, não ficar enfurnada em um quarto com um notebook ou uma máquina de escrever imaginando como poderia ser quando pode viver por você mesma.

Ele tinha um ponto, passei um bom tempo no meu quarto escrevendo, tudo o que eu sabia de romance aprendi com meus pais e sua convivência, livros, filmes, contos, fanfics, mas nunca vivi um amor, nunca senti a paixão arrebatadora de que todos falam, nem mesmo as tão famosas borboletas no estômago.

- Ficou idealizado demais - falei, pensando comigo mesma.

- Sim, por isso estou sugerindo essa viagem, vai me agradecer pelas memórias. - Ele se levantou e andou até a janela que ao longe era possível ver o mar. - Você tem muito potencial Ariadne, e não quero vê-lo desperdiçado. Vou aumentar seu prazo para entregar o livro.

- Vai? - Meus olhos brilharam de alegria, senti a esperança voltar.

- Um ano - ele disse finalmente. - Tempo suficiente para viajar e reescrever a história.

Era um prazo mais que razoável, ao menos assim eu pensava. O encarei, sorri feliz, havia uma chance mesmo que minúscula de ter meu sonho concretizado e agarraria essa chance com unhas e dentes, jamais desistiria. Levantei-me de supetão.

- Pois bem, em um ano reescreverei a história, custe o que custar - disse com determinação. - Eu tenho um dinheiro guardado, acredito que sim, vou conseguir viajar por um longo período.

- Espero que aproveite mesmo, Ariadne, não apenas para escrever, mas para viver, criar memórias - ele se ajeitou na cadeira. - Curta o que a vida tem de bom a oferecer, não viva apenas enfurnada em algum lugar, nesse tempo também vai servir para que encontre seu processo criativo.

O encarava, absorvendo suas palavras. Processo criativo. Um ponto que não havia parado para pensar, eu simplesmente pegava o que eu tinha à mão, fosse um bloco de notas, um papel, até mesmo meu celular quando não estava com o notebook por perto. Seria interessante.

- Vamos manter contato, senhorita - ele riu. - Não quero ninguém te roubando de mim, e para saber se está bem.

- Pode deixar. - Me despedi dele e saí quase correndo para casa, louca de vontade para contar aos meus pais sobre a reunião com o agente e sobre a viagem.

Primeira VezOù les histoires vivent. Découvrez maintenant