𝐌𝐞 𝐝𝐞𝐬𝐜𝐮𝐥𝐩𝐞

Começar do início
                                    

- Me desculpe. - Apertei a mão dele. - Eu não pude salvá-la, eu não...me desculpe.

- Foi uma fatalidade, meu filho. Não se culpe - Se soubesse que a sua única filha morreu por gostar de mim, me mataria. E eu não me defenderia disso. - Você amava ela, é disso que vou me lembrar.

      Esperei todos saírem, me sentei na grama ao lado do túmulo. Fiquei lá por horas encarando o chão e sentindo o vento fresco no rosto. Não tinha reparado no sol tão forte, sequer poderia estar embaixo do sol.

- Trapaceira. Dissemos que eu ia morrer primeiro. - Ri leve - Eu não tenho mais uma pessoa para me parar quando estiver fazendo os meus vícios, foi mal.

     Olhei para a lápide branca ao meu lado, as dezenas de flores deixadas nela - algumas minhas - e desde que tudo aconteceu, essa foi a primeira vez que me vi chorando, onde a minha visão turvou e as lágrimas molharam a grama à minha frente.

- Ia estar me chutando na bunda por ficar me desculpando, eu sei. Mas não consigo evitar. - Tusso para afastar o peso na garganta - Vai fazer falta...E por favor, não puxe os meus pés a noite, se quiser falar comigo, mande um raio.

      Fiquei ali até o início do anoitecer, prometi estar em casa para a janta, então fui embora.
Quando cheguei em casa fui direto para um banho, troquei de roupa e fui para a cozinha, a mesa do jantar já estava posta.


Morgan

     Sei que não deveria ir nesse funeral, não conheço a família dela e também mal conhecia ela. Além de sentir raiva sempre que a via, me sinto culpada ainda por isso. E cemitérios me dão arrepios e eu também não gosto do clima pesado.
     Não consegui fazer nada hoje, fiquei maior parte do dia na cama depois que Constantine saiu de casa. Me levantei e caminhei o quarto todo, prestando atenção em coisas que não prestava antes.
     Achei dentro do armário alguns livros, meus livros! São livros de matemática, ciências da computação e engenharia da computação. Sempre que Scott me deixava em casa sozinha, acabava estudando coisas que estavam guardadas antes de eu nascer. Para falar a verdade, peguei alguns desses livros de um vizinho e o resto eu achei guardado nas coisas do Scott.
Aproveitei o escritório do Constantine e me tranquei lá dentro sem nem perceber.
     Tirei algumas coisas de cima da mesa e coloquei sobre o sofá que fica perto da porta, pus meus livros na mesa e me sentei. Peguei um caderno não utilizado e um lápis e caneta, comecei a estudar sozinha. Se tem uma coisa que sou boa, é em matemática, nunca precisei de explicações para contas avançadas, meus professores não acreditavam quando eu fazia as contas sem as explicações deles.
     Alguns desses livros já estão empoeirados de tanto tempo que estão guardados, usava eles sempre que podia. Às vezes lia enquanto limpava a casa ou antes de dormir. Não tinha apoio de ninguém para isso, mas agora já consigo programar uma simples coisa na teoria, não na prática ainda.
     Não vi a hora e nem o tempo passar, quando anoiteceu, eu ainda estava no escritório fazendo cálculos em cima de cálculos, nunca tirando os olhos da folha do caderno e do livro.

- Preciso de livros novos, mas isso vai ser impossível de conseguir agora. Pelo menos a senhora deixou bons livros. - Estão assinados com o nome da mamãe na capa, ela é era a dona, por isso estavam guardados com o Scott. - Mas, se eu conseguir edições novas, posso estudar melhor e até mesmo entrar em uma faculdade.

      A porta do escritório se abriu e o Tine entrou. Olhei para ele e me levantei, fechando os livros e o caderno.

- Desculpe, ia arrumar antes de você chegar.

- Não ligo para isso, o jantar está pronto.

- Certo, já estou indo. - Empilhei os livros em um canto, para quando eu terminasse de jantar, vir estudar de novo.

Marriage of ConvenienceOnde histórias criam vida. Descubra agora