Capítulo 4

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CEDO DEMAIS PARA UM ADEUS

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CEDO DEMAIS PARA UM ADEUS

Tobias

A sensação de estar sendo observado não some conforme os dias se passam. Ela me acompanha desde a morte de meu irmão. Não conto a ninguém, porque todos já me acham estranho o suficiente, dizer isso seria só mais munição. Ainda não consigo dormir à noite, porque parece que há olhos escondidos nas sombras do quarto, me observando, analisando, é desesperador.

Só consigo dormir quando o sol começa a sair, lá para as cinco e meia, e, levando em consideração que preciso estar de pé às oito, durmo menos de três horas por dia. Tento ao máximo não deixar isso transparente, pois minha mãe não precisa de mais uma preocupação. Já basta ser viúva, sem um filho e com um cunhado alcoólico.

Ela chega até mim no corredor de casa, carregando duas caixas de papelão e sacos de lixo preto. Hesito por um instante e ficamos nos encaramos, sem saber qual o próximo passo. Ela está cansada, mas é tão boa quanto eu para mostrar o contrário. O cabelo vive permanentemente preso, frisado, e o rosto murcho, não por conta das expressões faciais, e sim de tristeza. Faz tempo que não vejo um sorriso verdadeiro em sua face.

Ela pisca para mim, em um ato de cumplicidade e esboça um sorriso que não alcança os olhos. Não posso devolver o gesto, então respiro fundo e abro a porta do quarto que Mateus estava ocupando.

O interior do cômodo muda minha mãe, faz todas as suas ações serem lentas e comedidas e seus olhos brilham, cheios de lágrimas. Ela coloca as caixas e as sacolas no chão e abre o armário, se demorando mais do que o necessário em cada peça de roupa que pega, silenciosa.

Sento na cama e observo a fileira de remédios dele juntando poeira. É tão injusto. Quando resolveu se dar uma segunda chance… Ele morreu. Matt entra no quarto, mas antes disso  fica um tempo na entrada, avaliando se pode ou não entrar, por fim ele entra e vai até minha mãe, se deitando aos pés dela, as orelhas em pé.

Queria estar na Central, na sala provisória, lendo e relendo relatórios arquivados, invadindo o email do meu tio e descobrindo o que acontece nas demais agências do país, bisbilhotando. Queria estar em meu quarto, com meu aparelho de VR jogando Wins, um jogo de realidade virtual onde construi uma vila subterrânea e me tornei rei de uma pequena civilização de NPC's. Queria estar em qualquer outro lugar que não fosse o quarto do meu irmão, fazendo qualquer coisa que não fosse se livrar de suas coisas.

— Tobias, me dê uma sacola. — Minha mãe pede, sem olhar para mim.

Levanto e lhe entrego uma, na qual ela começa a pôr roupas bem dobradas. Serão doadas, os objetos pessoais vendidos e o dinheiro terá o mesmo destino das roupas. Dinheiro. Jorge havia transferido toda a poupança do meu irmão para mim e isso é algo que me incomoda. Mateus tinha planos para aquele dinheiro, e o melhor que posso fazer com ele é comprar apetrechos para meu personagem em Wins.

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