Revisando as anotações

13 1 0
                                    

Não conseguia dormir, ficava pensando no bilhete.

"Seria uma brincadeira estar pesquisando sobre os óbitos?"

Não conhecia a letra, e só o Carlos e a Maria do outro plantão é que sabiam da pesquisa.

Fez um café, sentou-se e começou a ler novamente cada anotação de cada óbito. Parecia uma incógnita, algo estava errado, ele não conseguia enxergar onde estava a ligação apesar de algumas coincidências.

Três coincidências eram claras: idade entre 32 e 37 anos, sangue tipo "O" positivo e moravam na mesma região. Nenhum motivo para a hipoglicemia..."

Escreveu as três coincidências numa folha de papel e colou na parede em frente da sua escrivaninha.

Tocou o telefone, era o Carlos.

_ Oi, amigão! O que manda?

_ Não consegui dormir pensando nos pacientes que você está pesquisando. Nenhum foi para a verificação de óbito, não é? Pois já estavam no hospital a alguns dias...

_ Não, Carlos, todos foram, o Dr. André achou estranha a hipoglicemia; ele pediu a verificação. Todos foram para o IML... ah!

_ Então a resposta pode estar lá...

_ Pode ser, mas como vamos conseguir o acesso aos laudos?

_ É... - falou com voz de dúvida.

_ Não podemos chegar lá e pedir o laudo dos óbitos. Seria mais fácil se tivéssemos alguém que trabalhasse lá.

_ Fiquei pensando por que os óbitos aconteceram sempre na madrugada.

_ Carlos, não queria supor nada, mas acho que o motivo é criminoso. O horário varia entre 24:00 e 3:00 horas, justo o horário que estamos ocupados passando as medicações e checando soros, drenos, curativos e como nossos pacientes estão...

_ Pelo amor de Deus, será que alguém está provocando os óbitos? Então vamos ter que ficar mais atentos. Espera...se está acontecendo no horário que estamos muito ocupados, e se for criminoso, é alguém que conhece nossa rotina.

_ E isso pode acontecer no plantão da Maria, precisamos avisá-la, e claro, pedir sigilo, não temos provas.

_ Precisamos achar um jeito de ir ao IML ou SVO, para ver os laudos - disse Carlos, bocejando - Vou tentar dormir um pouco.

_ Vou fazer um trabalho da faculdade e depois dormir, ainda bem que hoje é sábado e estamos de folga.

Desligou o telefone, e começou o trabalho da faculdade. Depois do que o Carlos havia dito sobre ser alguém que conhece nossa rotina, não conseguia se concentrar para continuar. Resolveu dar uma volta para relaxar.

Havia um parque próximo da sua casa, ele gostava de caminhar por lá, tinha um lago e muitas árvores. Muitas pessoas levavam suas crianças e animaizinhos para passear alí.

Mesmo tentando "esfriar a cabeça", veio um pensamento no mínimo intrigante.

"Pois é, por que todos os óbitos e inclusive o rapaz que não morreu são da mesma região, mais precisamente no mesmo bairro? Será que tem alguma doença ou intoxicação no bairro? Vou falar com o rapaz que estuda comigo e trabalha na vigilância epidemiológica, talvez a resposta esteja aí."

Ele descobriu um caminho a mais e aparentemente mais fácil de conseguir resposta.

Voltando para casa pegou o celular e ligou para Carlos.

_ Alô! - disse Carlos com voz sonolenta - Aconteceu alguma coisa?

_ Acho que pode haver com a região, o bairro onde eles moravam.

_ Como assim? O que tem o bairro com as mortes no hospital?

_ Fiquei pensando enquanto caminhava, e se houve alguma intoxicação ou doença no bairro, sei lá, talvez pode ser o motivo.

_ É... Uma possibilidade remota, mas plausível. Mas como vamos saber?

_ Um cara da minha sala trabalha na vigilância epidemiológica vou falar com ele.

_ Uhu! Fechou. Tomara que tenha acontecido isto mesmo; melhor que alguém estar provocando os óbitos.

_ É isso aí, Carlos. Agora vou para a cama descansar e à noite ligo para a Maria. Tchau!

Anton consegui, enfim, dormir.

À noite ligou para Maria.

_ Oi, Anton! Fiquei sabendo que houve outro óbito por hipoglicemia no seu plantão.

_ Pois é. Andei vendo as coincidências nos prontuários e encontrei algumas, idade aproximada, tipo sanguíneo e a região onde moravam...

_ Eita! Está cada vez mais coincidente. Parece caso de polícia...

_ Sem provas não podemos acusar ou levantar uma investigação. A polícia ia achar que estamos ficando paranoicos.

_ E o que vamos fazer?

_ O Carlos levantou a hipótese de tentarmos ver os laudos do IML.

_ Pensei em outra hipótese. E se houve alguma intoxicação ou doença no bairro. Aí, lembrei de um colega da minha sala na faculdade que trabalha na vigilância epidemiológica...

_ Ótimo! Se for isso já teremos uma resposta... Amigo, tenho que checar pacientes, continua mandando notícias e eu vou te informando deste plantão.

_ Legal! Até, então.

Anton ainda queria acreditar que os óbitos eram apenas fatalidades. Passou o domingo inquieto, e o plantão à noite foi calmo. Ele e Carlos conversavam e reavaliavam juntos as anotações. Anton não via a hora de ir para a faculdade e falar com o colega da vigilância. Terminou o plantão e Anton saiu rápido.

Quando chegou na faculdade procurou o rapaz que trabalhava na vigilância.

_ Oi, colega! Meu nome é Anton, estamos na mesma sala, só não nos apresentamos antes, talvez pelo cansaço de trabalho e aula...

_ Prazer, Anton. Sou Hamilton... Realmente não havia falado com você ainda, mas sei que você é um dos melhores da sala, todos os colegas comentam...

_ Que isso... Apenas estudo muito. Quando não somos inteligentes temos que ser esforçados e estudar muito mais que os outros.

_ Verdade, ah... ah... ah..., você é legal. Mas, em que posso ajudar? Sei que quando alguém nos procura é por algum motivo...

_ Poxa... Você é esperto e direto - Anton conta pra Hamilton o que estava acontecendo, sem grandes detalhes.

Hamilton escuta e demonstra interesse pelo assunto.

_ Bem, aí pensei que você poderia nos ajudar a conseguir alguma informação a respeito de alguma intoxicação ou doença que possa ter acontecido no bairro; e se pode ocasionar hipoglicemia.

_ Claro, vou tentar acessar os arquivos da região e ver se encontro alguma notificação. Mas às vezes é difícil conseguir dados precisos; a população e mesmo as UBS's nem sempre notificam casos.

_ O que você puder ajudar será bem vindo.

_ Vamos para a aula; e conte comigo.

Parece que as aulas fluíram melhor, Anton tinha uma possibilidade de achar a causa real dos óbitos. Ou não...

A morte veste jalecoDove le storie prendono vita. Scoprilo ora