A morte da velha Anastasia

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Naquele momento, a cada chicotada que ele me dava, depois das três primeiras eu me recusei a expressar qualquer reação sequer. Não sei se foi a realização crua de que me apaixonei por um monstro ou o fato de que cada milímetro do meu coração estava em estado que ultrapassa qualquer reparo futuro, estou tentando buscar em minha mente um momento feliz na minha vida para me manter longe desse inferno na terra.

Já nem sei quantas chicotadas Christian já me deu, mas pelo sangue que sinto escorrer pelas minhas costas creio que ele não irá parar tão cedo.

Somente volto a realidade quando escuto o baque forte do chicote no chão e em seguida o sinto se aproximar de mim, mesmo estando com tontura e sangrando, arrumo forças e o empurro com toda minha força, sinto dentro de mim que estou fria como nunca fui e acima de tudo o que agora prova que ele não é para mim e nunca será é o fato de que nem um contrato de Dom e Sub assinamos e mesmo assim ele quis se impor para mim.

Olho para seus olhos confusos e um sorriso irônico nasce nos meus lábios ao olhar aquele monstro que agora tenta me amolecer com seu olhar perdido, mas para mim isso terminou.

– Nunca mais pense em chegar perto de mim e muito menos me tocar, eu quero você o mais longe possível de mim, agora sei o motivo de procurar erguer seu império e nunca ter um relacionamento duradouro, pois você é um monstro que usa como desculpa sua infância fodida para justificar seus atos.

– Ana... Por favor.

– Por favor? Por favor digo eu, suma da minha vida, não quero ter mais nada a ver com você, nunca. E eu saindo por aquela porta, se ver um segurança seu sequer perto de mim e me vigiando, irei diretamente a polícia

Seus olhos arregalam e sua boca abre e fecha diversas vezes, mas não me intimido mais pelo seu olhar duro e muito menos sinto compaixão por seus olhos perdidos e sem brilho, apenas pego minhas roupas que ficaram pelo chão, mesmo com dor, visto a mesma e saio daquele maldito quarto e desço correndo para chegar ao elevador, mas dou de cara com Sra. Jones que me olha com espanto, dou um sorriso mínimo para ela e entro no elevador já apertando o botão do Lobby, não irei pegar meu carro, pois o mesmo pertence ao Christian e não quero ter nada dele na minha vida.

Conforme vou andando, sinto que a cada passo mais sangue está saindo das minhas costas e coxas me deixando zonza, quando passo por uma senhora que estava sentada esperando no ponto de ônibus, me encosto no poste e escuto vagamente o que a senhorinha diz vindo ao meu encontro, quando ela me segura para me auxiliar para me sentar, meu corpo amolece e caio com tudo no chão e depois disso tudo fica preto e quieto.

Não sei ao certo quanto tempo se passou, mas um bip constante acaba me irritando e aos poucos vou abrindo meus olhos e vejo um ambiente tão branco que tenho certeza de que está mais do que esterilizado, hospital.

Nem dois minutos ao abrir os olhos e escuto uma comoção no quarto, quando tento me deitar de costas, me arrependo deixando um gemido de dor escapar meus lábios o que faz com que a comoção pare imediatamente, a primeira que vem até mim é Grace, o que me faz fechar os olhos, pois nesse momento sei que irá começar a inquisição.

– Minha querida, como está se sentindo?

Tento manter minha voz o mais calma possível e olho Grace nos olhos e imediatamente me vem a questão 'como alguém que teve amor em casa, pais maravilhosos e irmãos se torna naquele monstro'.

– Estou bem, Grace. Não precisava se preocupar

– Como não? Estava de plantão quando chegou aqui toda ensanguentada e desacordada, me diga o que foi que aconteceu?! A polícia está esperando para falar com você

Quando consigo dar uma boa olhada pelo quarto, o vejo ali, parado com olhar perdido como se isso não fosse culpa dele, raiva me consome pelo cinismo dele e deixo minha raiva me levar

– Desculpa Sra. Grey, mas deveria perguntar ao seu filho, tenho certeza de que ele saberá explicar melhor – Ao falar isso vejo os olhos de Grace e Christian arregalarem, ela olhando com descrença para o filho e ele me olhando com um olhar mortal.

– O que você quer dizer com isso Ana?

– Apenas a realidade, também pergunta para ele quem o ensinou a ser assim e se distanciar da família, creio que terão uma conversa bem interessante. E Christian, deixei bem claro que não quero nem você e nem seus seguranças próximos de mim e/ou me seguindo, não pensa que minha ameaça foi em vão, pois creio que se chamar o delegado estará aqui em segundos.

Not even time could fix itWhere stories live. Discover now