𝐔𝐦 𝐟𝐢𝐧𝐚𝐥 (𝐢𝐧)𝐟𝐞𝐥𝐢𝐳

Começar do início
                                    

◇◇◇◇

    Não consegui dormir, a noite passou rápida como um raio enquanto discutia com Morgan, mas depois disso ela foi insuportavelmente lenta. Quando o horário ao qual deveria estar acordando bateu eu fui tomar um banho gelado, Morgan ainda está dormindo - e espero que fique assim até eu sair de casa. Ela poderia facilmente ir depois com outro motorista. Infelizmente o deus ou as entidades não ouviram essa prece, ela se levantou depois de alguns minutos para se arrumar para o colégio. Eu já estava vestido e tomando café puro quando ela desceu e se sentou à mesa. Estudamos na mesma escola, mas eu nunca, nunca, tinha esbarrado com ela num corredor sequer, agora não posso ignorá-la por mais que eu queira. Todos vão estar falando com a gente ou sobre a gente, não sei o que vai ser pior...As aulas, as fofocas ou essa garota perto de mim. Talvez tudo junto. Agradeci a Íris - minha babá, governanta, segunda mãe - por trazer o bolo para a mesa.

 Morgan

    Observei Constantine com a mulher que parecia ser a avó dele, talvez seja uma empregada antiga da família ou só esteja aqui para supervisionar o que estamos fazendo, ele parece outra pessoa, é calmo e agradece por cada gesto dela, se eu não estivesse aqui, posso apostar que estaria até brincando, o que é estranho para alguém como ele, agir como uma pessoa normal. Ainda não dei bom dia por pura birra com ele, por mais que essa senhora não tenha nada haver com a nossa briga.
    Só peguei uma fatia de bolo, mas quando percebi que era de coco, devolvi para o prato e só tomei uma xícara de café. Talvez eu devesse pedir para fazer outro sabor de bolo, só psicopatas gostam de bolo de coco! Loucura, até nisso esse cara é estranho.

- Algum problema, senhorita? - Íris perguntou enquanto me olha, ela é uma senhora sorridente, com cabelos já grisalhos.

     Continuei tomando o café, não prestei atenção em mais nada ao meu redor e espero continuar assim até o fim desse casamento. Decidi olhar para Constantine de canto, o mesmo me encarava com os olhos cerrados, a xícara paralisada no meio do caminho até sua boca, a senhora parada ao meu lado parecia sem graça.

- O que? Pensei que estivessem conversando - parei de tomar o café, agora eu quem estou sem graça. Não imaginei que alguém do lado da família do Constantine fosse falar comigo.

- Me ignore o quanto quiser, eu não ligo. Íris está fazendo o trabalho dela, tenha o mínimo de educação e a responda.

- Não ignorei de propósito, procure saber antes de falar - Ele voltou a tomar o café e não olhou mais para mim.

- Está tudo bem, ela só devia estar distraída... - A senhora disse me olhando, depois repetiu a pergunta.

- Eu não gosto de coco, é só isso. - Respondi a pergunta dela, talvez o ódio por mim tenha crescido gradualmente...Mas confesso, ter que olhar duas pessoas ao mesmo tempo é difícil, não sei se consigo continuar fazendo isso.

- Posso fazer o bolo que quiser, é só me dizer qual sabor.

- Gosto de chocolate, mas se der trabalho não precisa fazer.

- Fique tranquila. Quando chegar, o bolo estará aqui.

- Obrigada. - Sorri de leve para ela e terminei meu café, me levantei e peguei minhas coisas escola - Vou esperar no carro, tente não demorar por favor.

     Assim que saí de casa, fui direto para o carro. Não pretendo me atrasar para aula, se ele demorar, vou sem ele. Felizmente o idiota é pontual, não demorou mais que 2 minutos para vir até o carro.

- Obrigada por não demorar. - Agora eu quem estou sendo ignorada, Constantine está olhando anotações num caderno, concentrado.

    Logo saímos de casa e fomos para o colégio, no caminho não falei nada e imagino que ele também não tenha falado.
    E a nossa chegada foi totalmente como o esperado, garotos e garotas encarando o carro ou olhando torto, cochichos e risadas. Constantine pegou minha mão quando saímos do carro, imediatamente puxei ela de volta. Ele me olhou com julgamento, não precisou falar nada para eu entender que andar de mãos dadas com ele era um mal necessário. Inferno.

- Só vá para sua sala e pare de me importunar - Falei em um tom baixo para que só ele escutasse, não faço ideia se a tentativa foi falha ou não.

    E funcionou. Ele beijou minha bochecha e seguiu no corredor até a sala de aula, eu fui para a minha sala. Ele deve ter limpado a boca quando ninguém estava olhando.
    As aulas foram iguais às dos outros dias, não entendi nada do que os professores falaram ou passaram, mas pelo menos não tive que ouvir os cochichos e fofocas das pessoas, por mais que elas estivessem falando descaradamente.
    Não sei se devo agradecer por isso ou se devo odiar isso, graças ao meu bondoso pai, fiquei surda ainda pequena. Com 7 anos, sofremos um acidente de carro, Scott estava bêbado e fora de si - até hoje continua assim, na verdade. Ele avançou no sinal e um carro bateu contra o nosso, e pelo que parece eu fui uma das mais afetadas nesse acidente. Perdi a audição e tive que aprender a ler lábios e linguagem de sinais. Scott nunca ligou quando eu falava sobre isso, ele apenas ignorava e eu precisava entender o que ele falava.
    Voltei a prestar atenção à minha volta quando vi que todos já tinham saído da sala de aula, pelo visto a hora passou rápido. Me levantei e arrumei minhas coisas, saí da sala e fui pra fora do colégio. Constantine não estava lá, então fui atrás dele. Pátio, salas de aula, refeitório, quadra, banheiros - entrei no masculino e ninguém pareceu estranhar uma garota lá dentro -, o único lugar que faltou foi a biblioteca, então fui até lá. Entro quieta, a bibliotecária me olhou com os olhos dizendo claramente: faça silêncio. Procurei entre as fileiras do andar de baixo, olhei nas mesas, todas vazias. Eu o encontrei no segundo andar, acompanhado.

Marriage of ConvenienceOnde histórias criam vida. Descubra agora