A última lembrança parecia tão vívida que quase me esqueci de onde estava.

Deus...como é difícil largar seus sentimentos para lá.

- Acho que podemos cortar essa parte, o que acha? - Ouvi ele perguntar.

Olhei rapidamente para a tela, sem saber muito do que ele estava falando, mas resolvi concordar.

- Também acho. Não é tão essencial. - Sorri torto e ele só murmurou um "certo" e voltou a editar.

Ficamos por mais um tempo quietos, apenas dando curtas opiniões a cerca da construção da última parte do documentário.

- No final, enquanto aparece os créditos e nossas informações, podemos colocar alguns erros de gravação que eu separei. O que acha? - Ele perguntou abrindo outro arquivo destinado apenas a isso.

- Acho que ficaria legal. O que você tem? - Perguntei e ele me mostrou alguns momentos engraçados nossos desde o primeiro dia de gravações.

Ao final de tudo, me peguei sorrindo como uma idiota.

Nunca tinha reparado em como pareciamos tão bem juntos. Quer dizer, tínhamos uma certa química. Tenho que confessar.

Ah, Lauren. Acorde. Você não está em um conto de fadas!

Minha própria mente me alertou, trazendo algumas más lembranças à tona e fazendo meu sorriso virar apenas um rastro do que um dia foi.

- Ahm...eu vou no banheiro. - Falei e ele assentiu, concentrado no que fazia.

Entrei no corredor ao lado da cozinha onde tinha duas portas de madeira e entrei na primeira, onde era o banheiro de visitas.

Apoiei minhas mãos na pia e me olhei no espelho.

- Por que fica pensando nisso? - Murmurei para mim mesmo, irritada.

A cada dia que passa, mais eu fico confusa em relação o que devo realmente fazer.

Eu gostaria, sim, de me entregar. Mas, o medo sempre fica para me convencer do contrário.

Como agora.

Imagens do Daniel vem a minha mente, mas logo Carter invade tudo isso, trazendo as lembranças do dia em que terminamos. Apenas três meses antes de voltar para cá.

Flashback

- Perdoe-me por dizer isso tão repentinamente. Porém, creio que precisamos conversar sobre a nossa relação. Quer dizer, eu preciso. - Carter diz, com seu sotaque britânico londrino que eu tanto admirava.

Suas bochechas estavam coradas, como se ele estivesse sem graça de alguma coisa.

Larguei o lápis que usava para fazer alguns exercícios do livro, pois estávamos na biblioteca da escola estudando para a prova de física que aconteceria no dia seguinte, e virei-me para ele.

- Como assim? - Perguntei, confusa.

- Eu...vou ser direto. - Ele suspirou e eu comecei a ficar preocupada. - Eu...eu acho que acabei confundindo as coisas. - Disse, sem olhar em meus olhos. - Quer dizer, eu gosto de você, de verdade, mas...talvez não seja da forma que eu pensava, entende?! - Desabafou como se tivesse tirando um peso que estava em suas costas.

Arqueei as sobrancelhas.

- Não, não entendo. - Cruzei os braços tentando entender aonde ele queria chegar.

- Nesses meses que estamos juntos, eu venho percebendo que os meus sentimentos não são o que achei que fosse. - Ele aproximou-se mais de mim e falou mais baixo na tentativa de deixar as coisas mais discretas. - Talvez eu não seja apaixonado por você, mas com certeza tenho um carinho muito grande e amo como nós gostamos de tantas coisas em comum. - Sorriu, constrangido.

Um Retorno Inesperado | ✓Where stories live. Discover now