24 | Glissade

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— Por que eu não posso fazer sozinho? — Jimin insistiu. — Sempre fiz sozinho.

— É bom que você tenha alguma experiência em colaborar com os colegas antes de formar — retrucou o professor, mas seu tom não era complacente como a fala. Na verdade, a agressividade implícita na voz deixava bem claro só querer deixar Jimin desconfortável. O professor direcionou-se à sala: — Alguma dupla quer virar trio para incluir a Jimin?

Jimin amarrou ainda mais a cara. Por mais que se identificasse como garoto, o pronome não o irritava, e sim o desprezo imbuído nele, como se o feminino fosse inferior. Desejava esganar aquele homem nojento. Observou as duplas já separadas na sala, tentando identificar se alguém queria tê-lo no grupo, apesar de saber que a resposta era não.

E ali, na frente da sala e com o professor chamando toda atenção para si, Jimin encarou de queixo erguido os olhares. Alguns de medo e remorso, a maioria de nojo e incômodo. Nada inesperado; mas puta merda, como os detestava.

— Chungho, vamos fazer com o Jimin. Ele tem cara de inteligente — Jungkook sussurrou para a dupla, que arregalou os olhos como se tivesse sido convidada a dar soco em idosos na pracinha. Jungkook bufou, frustrado.

— Não acho uma boa ideia...

— Professor! — Jungkook elevou a voz, sendo encarado com espanto por toda a sala e, principalmente, pelo professor. Ninguém conhecia sua voz, ainda mais em um volume tão alto. Mas o pior foi sentir a encarada de Jimin: prestes a cortar sua cabeça. — O Chungho disse que quer fazer trio com esses dois. — Apontou uma dupla aleatória que foi pega de calças arriadas junto ao Chungho. — Aí eu faço dupla com o Jimin.

Jungkook não saberia dizer quem o olhou mais feio: o professor ou o Jimin. Contudo, sabia muito bem qual olhar temia, por ter o poder de impor uma greve de beijos. Certamente estava enrascado, mas não se arrependia.

Como ninguém falou nada, Jungkook caminhou até uma das carteiras vagas na frente, perto de onde Jimin sentava, e acomodou-se lá. Ainda o encaravam como se fosse uma assombração, então pegou o caderno para começar a fazer o trabalho. Até que gostava de trigonometria. Ou melhor, foi ensinado a gostar.

A sala foi tomada por um burburinho estranho. Jungkook sentia uma espécie de frio na barriga por causa da adrenalina. Não que tivesse medo da opinião dos outros, mas sim da possibilidade de chegar aos ouvidos de seus pais. Mas achara que o risco valia. Não era grande coisa, os outros que tornavam a questão em grande coisa.

O silêncio pouco silencioso foi cortado por Jimin:

— Não quero fazer dupla com ele, professor! — O tom de voz era rouco e esnobe. Jungkook impressionou-se em como gostava até daquele tom de voz. Fazia o doce, baixinho e envergonhado oferecido a si, parecer ainda mais precioso.

— Você não tem opção. Agradeça o fato de alguém querer fazer dupla com você — o adulto respondeu, no ultimato mais nojento que Jungkook já vira. Jimin cruzou os braços, indignado, e foi até sua mesa batendo as plataformas com força no chão.

Quando sentou, não olhou para Jungkook, apenas inclinou-se para pegar o próprio caderno de matemática. Puxou a caneta cor-de-rosa e com cheirinho de morango do estojo e escreveu em uma das últimas folhas: "Eu vou te matar".

Jungkook pegou a própria lapiseira e logo um: "De beijo? Por favor" enfeitava as páginas. Deixou a mensagem apenas tempo o suficiente para que Jimin lesse e corasse, apagando logo em seguida. Estavam sentados muito perto do professor. Uma ameaça não era problema ele ver, uma "viadagem"? Enrascaria mais ainda ambos.

Jimin, de fato, ficou todo vermelho de vergonha, ainda mais quando Jungkook escreveu um "eu te amo" efêmero devido à ação compulsória da borracha. Mas logo amarrou a cara de novo e o encarou com um tom de aviso. Jungkook engoliu em seco porque, no fundo, viu mágoa refletida no olhar.

Uma suposta facção de balé • jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora