c a p í t u l o ✿ 2 3

Começar do início
                                    

No instante em que ouviu aquele nome, Daniel virou a cabeça tão rápido que nem teve como disfarçar. Como sempre, estava com os cabelos casualmente desordenados e as eternas olheiras. Assim que suas íris azuis se encontraram com as de Bianca, os dois coraram e imediatamente desviaram o olhar.

A segundanista tentou parecer natural enquanto cumprimentava os meninos, explicando que a data de uma prova havia sido adiada, por isso resolveu vir, mas sequer conseguia disfarçar a falta de jeito. Abraçou VH, Twister e Nathan e, quando parou na frente de Daniboy, prendeu a respiração.

— E aí? — Daniel deu um sorriso e tirou a mão do bolso para mexer nos cabelos claros. Bianca percebeu que hoje ele não tinha esquecido das pulseiras. — Que bom que você pôde vir!

— Pois é — ela deu um sorrisinho. — Sorte a minha!

Os dois se olharam por alguns segundos e, felizmente, o resto dos garotos estava ocupado demais conversando com Andrei para reparar no quão tensa estava a situação daquele duo. Por fim, Daniel deixou um longo suspiro escapar:

— Escuta, Bee... Posso conversar com você?

— Pode, ué! — respondeu, mas não conteve a surpresa na voz, que saiu completamente aguda. Meu Deus, ela não aguentava mais o estouro de elefantes-borboletas que simplesmente falar com ele lhe causava. Isso nem era justo, ela devia odiá-lo!

— Tipo... Lá fora. Rapidinho. — Ele colocou as mãos de volta nos bolsos da jaqueta. Na verdade, parecia não saber o que fazer com elas. Então voltou a falar, num sussurro para que apenas ela ouvisse: — Eu sei que você tá brava comigo. Eu mandei mal, queria poder conversar direito... E te explicar o que houve.

Bianca quis negar. Se não fosse uma completa idiota, falaria que eles não tinham nada a resolver e mandaria ele seguir com a própria vida e deixá-la de fora daquela enroação toda. Abriu a boca para lhe dizer exatamente isso:

— Ah, claro... — Ela era uma completa idiota. — Quer dizer, não estou brava, mas podemos...

Resolveu calar a boca, calçar os tênis e se levantar do sofá. Percebeu Daniel olhando-a de cima abaixo e reconheceu que estava mais arrumada do que de costume, com delineados de gatinho, saia e meias ⅞. Ele desviou os olhos no momento em que ela o pegou no flagra e murmurou para os amigos que iria... Nem Bianca entendeu. Então apontou com a cabeça para a escada e ela o seguiu para o andar de baixo.

— Lá fora?! — perguntou, vendo-o sair pelas portas de vidro da Cyber e parar sob a marquise das lojas.

— Vou ali do lado pegar um café pra gente, os do Andrei são horríveis — Daniel explicou. No instante em que Bianca pisou fora da lan house, ele tirou a jaqueta e colocou sobre os ombros dela.

Ergueu os olhos para agradecê-lo e sentiu seu coração bater mais forte quando foi recebida pelo sorriso de canto que destacava aquela covinha desgraçada. Ele estava lindo, com as típicas roupas de playboyzinho e uma carinha de sono que era insuportavelmente meiga. Bianca meio que queria socá-lo e beijá-lo na mesma proporção.

As lembranças da noite da festa a atingiram como uma flecha; o olhar de interesse dele enquanto flertavam, e a forma como parecia não aguentar um segundo com as mãos longe dela; lembrou do calor que sentiu quando estavam na cama, e de como foi bom apenas ficar deitada ao seu lado no escuro. Mas, também como uma flecha, a lembrança do que aconteceu em seguida doía. De como ele se afastou dela, ou de como o encontrou com Zoe apenas alguns dias depois... Era difícil entender o que sentia, o que era rancor, vergonha, insegurança... E o que era aquele sentimento latente que a dominava cada vez que chegava perto dele.

Pararam sob a marquise em frente ao café. Àquela altura, a tempestade já havia se dissipado para uma chuva comum. Bianca se aninhou na jaqueta, sem realmente saber se era por causa do frio, ou porque tinha o cheiro dele.

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