FINAL ALTERNATIVO

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- Seu filho da puta! Você me enganou! Olha só o que você fez! Eu sinto desprezo por você! Você é um monstro, Henry Creel! É isso que você é! - lágrimas de ódio escorriam por seus olhos. - Como você pôde fazer isso? Eu te amava… e eu pensei que você me amava também! Solte a Onze! Nós estávamos planejando viver juntos, Peter! Só nós três, como uma família! Mas olha o que você fez! Essa era sua verdadeira vontade, Peter? Ou melhor, Henry Creel? Você me contou sobre as aranhas, e eu li o relatório do doutor Brenner. Eu sei que não é você! Não dê ouvidos ao que as vozes falam, Peter! Eu sei que você se sentiu mal por vir para essa cidade, e sei que você nunca se sentiu compreendido! Mas eu sei que você não faria algo assim! Pelo menos, o Peter que eu conheço jamais faria! Me mostre quem você verdadeiramente é; um monstro? Ou você está se deixando levar pela raiva, por essa tal Aranha? Eu te amo, Peter. Não machuque-a! -
As suas palavras atingiram a mente de Peter como uma bala. De repente ele começou a tremer, abaixando lentamente a mão. Sua visão estava turva. Sua coluna virou para trás, retorcendo-se. Você e Onze viram uma sombra preta amorfa, sair de dentro do corpo dele. A criatura parecia vir em sua direção, mas a menina a conteve com seus poderes. Arriscando-se, você puxou o corpo de Peter, que até então, você não sabia se estava vivo. Na parede a qual a sombra estava sendo empurrada, formou-se uma enorme rachadura vermelha, parecia algum tipo de portal. Mas não tinha tempo para pensar. Apoiando o braço de Peter sobre seu ombro, você andou o mais rápido que pode, tentando não tropeçar nos corpos. Onze ainda ficou lutando contra a criatura, devolvendo-a para seu mundo de origem. Você queria levá-la junto, mas ouviu passos em outro corredor. Poderia ser a polícia, ou quem sabe até mesmo Brenner, caso ele desse a sorte de ter sobrevivido. 

Com o cartão de segurança ainda no seu bolso e apenas uma mão livre, você abriu a porta de entrada, chegando no estacionamento. Você pôs Peter no banco de trás, e sentou-se no banco do motorista. Dirigindo o mais rápido possível. 

Você dirigiu por horas e horas sem pensar no combustível, quando um grunhido no banco de trás desviou seu foco na estrada. - Não! - Ele gritou, se levantando abruptamente. Olhando ao seu redor, sentiu-se confuso. - Onde eu estou? O que… aconteceu? O laboratório…
-Peter, acalme-se. - Você respondeu. - estamos livres agora. 
- Como conseguimos sair… do laboratório? - Ele parou por alguns segundos, ainda racionalizando a situação.
- Você não se lembra?
- Não. Tudo que me lembro é de estar no laboratório com você. 
- Mas você se lembra… das coisas do laboratório?
- Lembro das aranhas… as malditas aranhas… mas não lembro de como vim parar aqui. Aquelas pessoas… quem matou?
- Peter, - Você prosseguiu com cautela. - você estava fora de si. Não era você, quando fez aquilo. Eu tenho certeza.
- Eu as matei? Eu matei todos? O Brenner, as crianças, os enfermeiros…? C-como?
- Não foi você. Eu vi uma sombra preta deixar seu corpo assim que eu cheguei na sala arco-íris.
- Meu Deus! - Ele exclamou, agarrando os cabelos. Sentiu um flashback invadir sua mente. Se viu pequeno, no sótão da sua antiga casa, mas logo estava num mundo escuro com névoas vermelhas e tempestades que nunca acabavam. Lá estava a sombra da aranha, e ele se sentia hipnotizado por ela. 
- Vamos dormir em um hotel, hoje. Amanhã partimos para o Canadá. 
Vocês alugaram um quarto de hotel, com uma cama de casal. Peter teve que vestir um moletom seu na cor cinza, e uma calça larga para não entrar no hotel com as vestes brancas sujas de sangue.
 
Peter estava sentado entre suas pernas, com a cabeça apoiada no seu peito, dentro da banheira da suíte. Seus pés estavam apoiados na quina. Ele estava de olhos fechados, relaxando enquanto você massageava o couro cabeludo dele. Você fazia alguns penteados engraçados com os fios loiros encharcados de espuma.
-Meus poderes… - ele disse, com os olhos entreabertos - Não sei se ainda funcionam.
Ele levantou a mão de dentro d'água, erguendo-a até uma toalha pendurada ao lado da pia. Ele se concentrou no objeto, mas nada acontecia. Peter soltou a mão de uma vez. - É melhor assim… - ele suspirou, rindo - Não sou mais uma 'aberração'.
-Peter… - Você disse, passando a mão no pescoço do homem, no lugar onde o chip fora retirado. Um pouco de sangue escorreu e ele sibilou. - Quem você é, exatamente?
Você estava com o seu Peter naquela banheira. O seu amado Peter. Mas sua mente não descansava. Você temia que o ser que você viu mais cedo fora a verdadeira face do seu amado, temia que ele estivesse fingindo, e que no fundo ele fosse o monstro que cometeu aqueles assassinatos. Temia que ele estivesse se aproveitando de você, para depois quebrar seus ossos, quando não lhe fosse mais útil, assim como fez com as pessoas do laboratório, assim como quase fez com Onze, a garota com quem vocês três pretendiam fugir e formar uma família.
-Quem eu sou? -  ele virou a cabeça para trás, para poder olhar nos seus olhos. Peter respirou fundo antes de responder. - Nem eu sei quem eu sou…
- Creel. Henry Creel. Esse é o seu nome verdadeiro, não é?
- Era. Henry Creel está morto. Ele morreu há muitos anos atrás. Quando a família dele morreu. Eu não quero me lembrar disso, mas é importante que eu diga, agora que estamos juntos. Imagino que você não tenha segredos comigo, logo não vejo motivos para esconder. - Ele se ajeitou para que ficasse mais reto. - Minha família se mudou para Hawkins no ano de 1959. Eu não queria vir pra cá, não mesmo. No sótão da casa, eu achei um ninho de aranhas. Eu já contei essa história para você. Ela dizia nos meus sonhos que eu era especial, e que a humanidade era apenas as presas dela, que mais cedo ou mais tarde ela devoraria. Ela disse pra mim o quanto as pessoas eram cruéis, e como elas não mereciam viver. Desde pequeno eu via os objetos se mexerem quando eu chorava ou ficava irritado, e conseguia escutar o pensamento dos outros. A aranha me falou que eu poderia me aproveitar da raiva para amplificar meus dons. Eu treinava com pequenos animais primeiramente. Coelhos, pássaros… depois de um tempo, eu percebi que conseguia entrar na mente dos meus pais, e eu vi as coisas horríveis que fizeram no passado. Aquilo alimentou o sentimento de ódio que crescia cada vez mais dentro do meu peito. Meu pai pensava que eu estava possuído, já minha mãe pensou que eu estava ficando louco. Eu nunca me senti amado. Não me lembro do momento em que fiz aquilo, exatamente. Era como se não fosse eu. Eu não queria fazer aquilo, querida! Eu não queria! - Ele soluçou. Seu rosto tinha um tom avermelhado, e lágrimas grossas escorriam de seus olhos. - Ela me obrigou! Ela queria que eu fizesse aquilo! -
Você beijou a bochecha dele, sentindo as lágrimas em seus lábios. - Está tudo bem, Peter. Já passou. Eu te amo.
Vocês saíram da banheira e secaram um ao outro com as toalhas. Rapidamente se enrolaram no edredom e dormiram um nos braços do outros. Livres, pela primeira vez. 

Recomeço | Peter "001" Ballard Where stories live. Discover now