Parte final I

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Obs: essa história terá dois finais; este e um final "feliz", que será lançado em breve.

-Onze, - Você a chamou no canto da sala arco-íris e disse; - eu tenho algo para te falar. Você gostaria de sair daqui, comigo e o Peter? Ir morar bem longe daqui, só nos três. Como uma família.
Confusa, a criança parou alguns segundos e perguntou o porquê.
-Aqui não é seguro, meu amor. Você ouviu o que Peter falou, não foi? Peter e eu vamos nos casar, e vamos morar fora dessa cidade. Eu vou cuidar de você, Onze. Nós dois vamos. Você não vai mais precisar viver como um experimento, você vai ser uma garotinha normal! Vamos te dar roupas, bonecas, jogos, o que quiser! Só basta vir conosco! -
A menina refletiu sobre suas palavras. Ela queria muito isso, de fato. Mas não queria deixar o laboratório. Vivia lá desde que nasceu. Porém, memórias ruins sobre aquele lugar, assim como Peter dissera, surgiram em sua cabeça. E finalmente ela concordou. - Ótimo, querida. - você disse. - Quando for a hora certa, eu te falo. 
 A partir dali, você e Peter se esforçaram para deixar tudo o mais discreto possível. Por um momento, vocês pareciam felizes.
-Peter, - Você perguntou a ele, enquanto os dois se deitavam na sua cama. - Os pesadelos que você disse ter, o que eram?
Ele relutou um pouco para dizer, mas desabafou; - Aranhas… Elas… me consomem como uma presa. Sabe aquela aranha vermelha que eu te falei? Parece que ela entrou na minha mente, e parece que ela ainda está aqui dentro, se alimentando de minha raiva, ira e medo cada dia que se passa. Ela enche minha mente de coisas ruins. E cresce. Cresce. Cresce. Enquanto eu vou putrefando, me tornando uma carcaça repleta de ódio, e de desprezo.
-Sonhos são só sonhos, Peter. - você tentou confortá-lo. - Eles têm só um significado simbólico, como diria Freud.
- Não… Não é só um sonho. É real. Vou ser consumido por ela, completamente. 

O dia marcado chegou.
Era uma manhã ensolarada de 1979. Você estava extremamente feliz, e ninguém conseguia explicar o porquê. Mas você sabia muito bem. Você pôs seu uniforme, prendeu o cabelo, arrumou algumas coisas. Todas as suas coisas importantes já estavam dentro do carro. Agora, era só esperar o sinal. 
Peter veio te dar bom dia, com um beijo apaixonado. Você arrumou o cabelo dele (ele estava tão empolgado que se esqueceu disso) enquanto ele dava algumas instruções. Depois, cada um seguiu seu caminho. Você foi para a enfermaria, arrumar algumas coisas, e Peter foi fazer seus deveres. As crianças brincavam na sala arco-íris, completamente despreocupadas. Doía saber que você só poderia levar uma delas, e que as outras ficariam lá sofrendo, mas você não tinha escolha. Apesar disso, aquele era o dia mais feliz da sua vida; dentro de algumas horas, Peter e Onze seriam livres. 
Tudo que você precisava fazer, era conseguir a chave de segurança para sair do laboratório, e esta estava no escritório do doutor Brenner. Você não tirou o olho dele um segundo se quer, e quando ele finalmente foi para um dos quartos com o número Dez, para testar os dons psíquicos dele, você sorrateiramente correu para o escritório do velho.
Trancando a porta, para ter certeza de que ninguém entraria, você checou se havia alguma câmera de segurança, e pelo visto não tinha. Mas tinha um grande monitor que mostrava a visão de todas as outras câmeras do laboratório.
Rapidamente abriu uma gaveta na escrivaninha de madeira lá presente. A chave estava lá, porém os olhos da sua curiosidade viram alguns papéis debaixo. Eram registros. Registros das crianças que o doutor Brenner rapitara para realizar seus experimentos desumanos. "Jane Ives" dizia a ficha de número 011,"filha de Terry Ives". Ela tinha um nome, e ela tinha uma mãe. Mais uma prova contra Martin Brenner. Você folheou ainda mais, a fim de encontrar o registro de Peter, mas a última folha, marcada com 001, não tinha o nome do seu namorado, mas registrava "Henry Creel"; nascido em 24 de julho de 1950. Como? Henry Creel morreu há quase vinte anos atrás! Impossível! Ele mentiu para você. Foi esta sua conclusão. Não, mas ele devia ter um bom motivo. Ele não podia dizer que era o filho de Victor Creel, que todos acreditavam ter morrido. "O assassinato da família Creel. Só pode ter sido obra de Brenner e seus cúmplices. Ele o raptou quando criança e o trouxe para esse inferno!" Você pensou, com um crescente ódio dentro de si.

Recomeço | Peter "001" Ballard Where stories live. Discover now