Fiquei reparando em seu quarto para passar o tempo quando vi alguns porta-retratos na cômoda que não estavam ali antes. Levantei-me colocando Batman na cama e fui até lá.

Eram três retratos com nossos amigos em tempos diferentes: quando éramos crianças, no primeiro ano do ensino médio e uma recente. Mas o que mais me chamou a atenção não foram esses, mas um em específico, sem foto alguma. Tinha apenas um papel escrito "Quando acontecer".

Confesso que fiquei intrigada. O que ele estava esperando acontecer para deixar registrado no porta-retrato? Poderia ser a formatura, o primeiro dia da faculdade ou o primeiro emprego.

Ouvi a porta do banheiro abrir e Daniel saiu de lá apenas com uma calça jeans escura. A toalha branca estava envolta de seu pescoço e ele a esfregava no cabelo molhado de onde caía algumas gotículas de água que escorriam pelo seus ombros largos e abdômen.

Pisquei, atordoada pela segunda vez naquele dia e desviei a atenção para o porta-retrato fazio.

Por que eu tinha de reagir desse jeito? Acorda, Lauren, recomponha-se!

- Lauren? - Ouvi sua voz me chamar e eu o olhei rapidamente.

Agora ele já estava com uma blusa do Nirvana, com uma mochila nas costas e olhava para mim de testa franzida.

- O quê?

- Vamos, já estou pronto. - Apontou com a cabeça para a porta.

Acariciei Batman pela última vez e saímos do quarto.

Fomos até a imensa garagem e partimos.

- Vamos tomar sorvete por lá ou vamos levar? - Perguntei.

- O que você acha? - Olhou-me por alguns segundos antes de voltar a atenção para a rua.

- Melhor tomar lá, se não vai acabar derretendo. - Dei de ombros e ele assentiu.

Paramos na frente da sorveteria e entramos. Dessa vez, pagamos pelas casquinhas de três bolas, pegamos nossos sorvetes favoritos e escolhemos uma mesa ao ar livre.

- Tintin! - Estendi o sorvete em sua direção e ele brindou comigo.

- Não esquece que temos que passar no Duck's para comprar a torta. - Lembrei-o e ele assentiu.

- Sim, madame. Mais alguma coisa? - Brincou sarcástico.

Revirei os olhos e raspei com a pá um pouco da primeira bola de baunilha.

- Se eu pudesse tomava todo dia. - Suspirei contente com o sabor gelado em minha boca.

- Pena que eles não vendem mais aqueles potes de um litro. - Ele lamentou e pegou um pouco do sorvete de sua casquinha.

Tomamos em um silêncio confortável enquanto observavamos o movimento do local e da praça que tinha do outro lado da rua.

Quando cheguei na minha última bola, o sorvete já começava a derreter e melar as minhas mãos. Talvez teria sido melhor se tivesse colocado no pote colorido.

- Eu estou me sujando toda desse jeito. - Bufei pegando um guardanapo para colocar envolta da casca.

Daniel olhou minha situação e gargalhou.

- Como você consegue ser tão lerda para tomar um sorvete? - Zombou.

- Não enche. - Revirei os olhos tentando limpar minhas mãos.

Ele balançou a cabeça, levantou-se e entrou dentro da sorveteria novamente. Voltou alguns segundos depois com um pote colorido na mão e colocou em cima da mesa. Sentou-se e pegou o sorvete da minha mão sem se importar se ia sujar ou não as suas.

Um Retorno Inesperado | ✓Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin