c a p í t u l o ✿ 1 8

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— Ei, Abelha! — Sentiu o estômago se revirar, como se um estouro de elefantes acontecesse lá dentro. Seu corpo traidor sempre reagia com muito mais intensidade do que se orgulhava em admitir quando o ouvia. — Pera!

Parou no meio do pátio e virou para encarar Daniel. Sob o céu nublado de fim de tarde, os olhos dele pareciam quase acinzentados sobre olheiras mais fundas do que o normal. Usava a jaqueta estilo estadunidense do colégio, as mãos afundadas no bolso da calça de moletom.

— Que foi? — perguntou, tentando não parecer tão grosseira (mas também não se incomodou muito ao perceber que falhou).

— Eu... Tava querendo falar com você. — A princípio ele desviou o olhar, mas se obrigou a voltar a encarar Bianca. — Desculpa, acabei ficando meio sumido depois de... Da festa. Eu tive uns problemas e... Enfim.

— Ahn... Tá, tudo bem — respondeu, o coração batendo com tanta força que tinha certeza que, se o mundo inteiro ficasse em silêncio por um segundo, Daniel seria capaz de ouvir mesmo da distância que estavam.

— Mas... Eu gostei muito de sábado — Ele tirou uma mão do bolso para levar algo até a boca e, quando soltou a fumaça, Bianca entendeu que era um vape. Nunca o havia visto fumar. Depois guardou no bolso e deu de ombros enquanto abria o sorrisinho que fazia a covinha se destacar. — Mesmo que tenhamos nos ferrado. Você teve que ouvir muito da diretora?

Bianca já havia lhe contado aquilo no dia seguinte à festa, mas Daniel só lhe respondeu horas depois, praticamente ignorando todas as mensagens e respondendo somente um "kkkk" à uma piadinha que ela fez. De qualquer maneira, engoliu o rancor e respondeu:

— Um pouco. Ouvi mais dos meus pais mesmo.

Foi apenas por um segundo, mas Bianca percebeu como Daniel trancou a respiração e desviou os olhos.

— É, eu também... — ele murmurou e sua voz estava tão fraca que por um segundo Bianca pensou que ele estava prestes a chorar. — Escuta, eu só... Queria ter certeza de que estamos na mesma página depois de tudo. — Daniel continuou falando, mas parecia ter dificuldade em encontrar as palavras certas. Começou a coçar o pulso direito com a outra mão e Bianca percebeu que ele não usava as pulseiras de couro naquela tarde. — Eu gostei muito de ficar com você, e do que fizemos no seu quarto... Mas a gente bebeu e tal. Eu só não queria confundir as coisas entre nós, sabe? Quero ter certeza que continuamos amigos.

Bianca imaginou que os elefantes que corriam em seu estômago com certeza deviam ter chegado até seu coração e aumentado 3x de tamanho, porque só isso conseguiria explicar os milhares de quilos que ele subitamente passou a pesar depois de ouvir aquilo. Daniel se esforçava para usar as palavras certas, mas a ênfase era clara: ele não queria que continuassem amigos (aquilo já eram), mas apenas amigos.

Ela não sabia o que responder. Como assim "a gente bebeu e tal? Claro que beberam, mas nenhum deles estava fora de si. Ele estava querendo sugerir que só ficou com ela porque estava bêbado? Que acordou no dia seguinte e se arrependeu, ou percebeu a merda que fez?! Quer dizer... Isso fazia sentido e explicaria porque ele simplesmente parou de falar com ela.

Então, no fim, não teve nenhum problema com seus pais? Daniel simplesmente havia ficado com ela e se arrependido?

Será que ele tinha se arrependido porque achou aquilo... O que quer que tivessem feito ruim? Bianca engoliu em seco, sentindo as bochechas esquentarem com vergonha de si mesma. Talvez realmente frustrou ele com a sua inexperiência, sugerindo fazer algo tão bobo, ao invés de transar de uma vez. Poxa, no começo ela estava super nervosa, mas vendo as coisas se desenrolarem tão naturalmente entre eles, sua vontade de tentar coisas novas superou a hesitação. Será que ele achou Bianca muito inocente? Ou, pior, será que odiou o corpo dela? Minha nossa, ela realmente era uma idiota de achar que um garoto que se relacionou com tantas meninas maravilhosas iria se contentar com ela.

CamelliaWhere stories live. Discover now