CAPÍTULO 1

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Desde que eu me conheço por gente, os vampiros comandam a nossa cidade, nosso sistema e, claro, nossas vidas. Perguntei várias vezes a minha mãe quando foi que todo esse terror começou e como as pessoas puderam deixar isso seguir adiante, mas ela também não tem a mínima ideia. Assim como meus avós, bisavós e muito menos meus trisavós. Quando minha mãe ainda era criança, ela fez essa pergunta aos avós dela e a resposta parece ser a mesma em todas as nossas gerações. Minha irmã um dia cismou de que iria pesquisar a fundo essa história, se gabando de que seria a primeira a ter respostas.

Não preciso dizer que ela fracassou nessa missão.

Meu pai nos avisou desde sempre que era melhor não mexermos no desconhecido e que caso os vampiros soubessem, ou seja, o rei e seus filhos, iriam sugar nosso sangue até a morte. Papai sempre teve muito medo deles e do poder que eles têm sobre nós, afinal, foram os vampiros que mataram os pais dele.

A nossa pequena cidade é governada pelas mãos frias e mortas do rei Alexandre, um vampiro que ninguém sabe ao certo quantos anos tem. Alexandre mora em seu castelo no alto da colina para poder mostrar o tamanho do seu poder e nos intimidar com a visão da sua fortaleza toda vez que nós, humanos, sentimos qualquer resquício de esperança quando acordamos. Além do rei, os seus outros cinco filhos vivem ao seu lado. Apollo é o filho rebelde que anda pelas nossas ruas a qualquer hora do dia em busca de uma alma solitária. Benjamin é o segundo filho mais velho e o mais viável a assumir o trono pelos boatos que rondam pela nossa cidade. Ian é o mais novo e toda vez em que esbarramos com ele andando com Apollo, ele sempre tenta parecer tão autoritário quanto o irmão. Lucca é o primeiro no comando depois do pai, o braço direito que comanda os irmãos e o castelo quando o rei está fora. Victoria é a única garota em meio a todos eles, mas, apesar disso, ela não parece ser melhor do que os irmãos ou qualquer um da família segundo os rumores.

Tirando os passeios de Apolo e Ian nas horas alheias do dia, o resto dos irmãos nunca nos incomodaram. Mas para compensar isso, em todos os anos, de todas as décadas em que as linhagens antigas da minha família se estabeleceram aqui, há a Contribuição. Esse evento, que nós humanos preferimos chamar de ''Colheita'', consiste nos vampiros fazerem uma pesquisa da nossa cidade sobre os moradores, de preferência sempre os mais jovens, e nos escolherem para servirmos de alimento para o rei, os príncipes e a princesa durante 365 dias.

Todos os anos seis jovens sortudos são sorteados para se apresentarem ao castelo e servirem ao seu determinado membro da família real. No fim, eles se tornam os nossos donos, das nossas ações, das nossas escolhas e movimentos dentro do castelo.

Depois que o nosso tempo de serviço se esgota, poucas pessoas têm a sorte de serem devolvidas para casa. Geralmente eles gostam de fazer uma brincadeira em que escolhem apenas um dos seis jovens que foram para retornar vivo.

É diabólico, cruel e proporciona falsas esperanças as famílias das vítimas que torcem durante um ano inteiro para que seu filho seja o sortudo que não será morto pelos vampiros.

E este ano será minha vez novamente.

Minha irmã, Aurora, passou a fase toda da sua adolescência nas sombras do seu medo de ser escolhida. Mesmo nova, lembro da agonia e desespero dos meus pais no dia em que saíam os resultados e me partia o coração vê-los daquela maneira quando eu mesma já sofria por dentro com medo de perder a Aurora. Hoje em dia, ela já tem 25 anos e está fora da faixa etária exigida para a Colheita, o que é um alívio para a família.

Mas não no meu caso.

Já faz alguns meses desde que fiz aniversário, que completei meus dezenove anos e que espero por esse dia. O motivo da minha empolgação? Depois dos 20 anos, os jovens não são mais analisados pelos vampiros e deixados de lado para viverem e procriarem mais bolsas de sangue.

PredestinadosWhere stories live. Discover now