Parte I

1.8K 97 2
                                    


Assim que foi transferida para trabalhar no laboratório de Hawkins e foi recebida pelo doutor Brenner, o rapaz de olhos de um azul tão denso, comparado ao céu do meio-dia, magnetizou seu olhar imediatamente. Dono de um porte esguio, cabelos loiros e um sorriso adorável, mantinha uma calma e uma postura digna de um príncipe, e você achou aquilo extremamente atraente. Sentiu seu corpo paralisar quando o médico sinalizou que viesse até onde vocês estavam de pé. Com passos calmos e largos, ele parou à sua frente e estendeu-lhe a mão. - Olá - disse ele, esperando que você retribuísse o cumprimento, mas ao invés disso, você só conseguia focar nas duas pérolas azuis que pareciam saber de tudo que se passava na sua mente. - este é Peter Ballard, senhorita. Um dos funcionários do laboratório. Ele vai te levar até seu dormitório, onde está seu uniforme. - o velho doutor interviu, e você se sentiu envergonhada por ter o deixado esperando. Então, subitamente apertou a mão do rapaz. Uma mão macia, gelada e leve. - Prazer, senhor Ballard -
Lado a lado, os dois foram caminhando pelos corredores, até que pararam em frente a uma porta e, solenemente, Peter a abriu. - aqui é seu dormitório. Suponho que o dr. Benner já tenha lhe mostrado a enfermaria, certo? - Um sorriso leve estampava seu rosto. 
-Sim. - você respondeu. - obrigada, senhor Ballard, por me acompanhar. Quando começam minhas tarefas?
- por enquanto, descanse. Te chamarei na hora do almoço. 
Ele esperou você entrar no quarto, para assim fechar a porta. O quarto era bem simples, como qualquer dormitório. Havia uma cama de solteiro, um armário e um pequeno banheiro. Também havia uma mesa de cabeceira próxima à cama, com alguns livros em cima. Seu uniforme estava pendurado dentro do guarda-roupas. Seguindo o protocolo de segurança, você tomou uma ducha para se desinfetar e o vestiu. Prendeu seu cabelo em um rabo de cavalo e pegou um dos volumes que jaziam na mesa de cabeceira, apenas para passar o tempo.
 Cerca de duas horas depois, você ouve uma leve batida na madeira de sua porta. - Você está acordada? - ele aguardou você abrir a porta e te acompanhou até o refeitório. Lá, vocês pegaram dois pratos e sentaram-se à mesa de plástico. A comida não era ruim, mas também não era uma refeição cinco estrelas. Era como qualquer comida hospitalar. Teria que se acostumar.
-Em que tipo de projeto o doutor Brenner trabalha? - você engoliu a primeira garfada e puxou o assunto com o homem que sentava-se à sua frente.
- Logo você vai ver. - ele respondeu, e você notou um tom melancólico em sua resposta.
- Faz tempo que trabalha aqui? - você perguntou.
- Bastante - Peter pôs a mão sobre a sua que descansava na mesa. - E quanto a você? É seu primeiro emprego?
Sentindo o toque dos dedos leves dele sobre as costas de sua mão, você respondeu; - Não. Já estagiei como enfermeira no hospital da cidade vizinha.
-Ótimo.- ele continuou, esboçando um sorriso; - Pelo menos você tem alguma experiência. Termine de comer e vá para a enfermaria. - E assim ele se levantou, mantendo sua postura e levando o prato até à pia. 
 Fazendo como ele disse, você se dirigiu até a enfermaria, onde trabalhavam algumas outras enfermeiras. Elas tinham o dobro da sua idade, na maioria. Arrumavam as macas vazias, prestes a serem ocupadas. Quando você se virou para arrumar algumas seringas, ouviu a porta se abrir e um guarda, vestido com um uniforme igual ao de Peter, trouxe em seus braços uma criança de cabeça raspada, com seu nariz sangrando e, aparentemente estava inconsciente. O garoto tinha no máximo treze ou quatorze anos. Você ajudou o homem a posicioná-lo sobre a uma maca, e cuidadosamente ergueu sua cabeça, para que o sangue não descesse às vias aéreas. - O que aconteceu, meu amor? - Sentou-se ao lado dele e limpou o fluido com uma gaze. - Como é seu nome? 
-Dez. - o garoto respondeu, quase desacordado.
Que nome estranho. Foi aí que você notou uma pequena tatuagem em seu braço esquerdo, como se fosse uma etiqueta. 010.
Você passou o polegar em cima, mas ele não esboçou reação alguma. 
Uma das enfermeiras sentiu sua estranheza perante aquilo e interviu; - Deixe que eu cuido dele, até a doutora Ellis chegar. 
naquele momento, outra batida na porta lhe chamou a atenção. Era Peter, e ele segurava a mão de uma criança igual ao outro garoto, só que um pouco mais nova.
-A 012 disse que está com dor de cabeça, enfermeira Lynn. - disse o homem, entregando a garota á outra enfermeira e dando um deve sorriso em sua direção. 
 Mas o que era aquilo? Um hospital para crianças com câncer? E aquelas tatuagens? Você foi dormir com uma pulga atrás da orelha. Aguardava o dia seguinte para perguntar ao seu colega de trabalho.

Recomeço | Peter "001" Ballard Where stories live. Discover now