Ela estava sentada sobre uma pedra, em meio ao amontoado de folhas secas das árvores nuas, os olhos direcionados a mim, captando cada sutil movimento meu, pude sentir a sua curiosidade. Me levantei com esforço, para instantaneamente cair no chão, minhas pernas estavam entorpecidas, talvez pelas coisas que ocorreram ultimamente. Respirei fundo, tomando fôlego para me sentar novamente e voltei a encarar a mulher, que nunca tirou os olhos de mim, ela então sorriu.

"Cansada?" Uma voz assustadoramente rouca deixou seus lábios, como se não tivessem pronunciado uma única palavra há meses, quem sabe anos. Ela estendeu a mão para acariciar meu rosto, suspeitosamente gentil, tentei afastá-la, ainda hesitante com sua presença, mas meu corpo estava fraco demais para resistir. Pude apenas observá-la se aproximar lentamente e trazer-me rente a si, repousando novamente minha cabeça em seu colo, traçando com os dedos finos os cabelos que cobriram meu rosto, colocando-os para trás.

Não saberia descrever o quanto ela se destacava em meio àquele cenário fúnebre, achei-a linda, mas também a temi. Não ousei deixar-me levar pelo deleite que senti ao vê-la, tampouco confiei nos atos gentis que me foram demonstrados, sua presença ali era indubitavelmente suspicaz. Fui embalada em um abraço terno e confortável, lutei comigo mesma para resistir ao sono que subitamente pesou em minhas pálpebras, perguntei-me se ela havia me enfeitiçado ou se era apenas o cansaço de um dia traumatizante.

Com o corpo ainda inerte e entorpecido, movi os olhos para longe, e pude avistar a beira do rio, a calmaria silenciosa das águas privando-me do agradável som das ondas, vi a água tocar graciosamente o solo vermelho como vinho, refletindo os raios lunares e o que pareciam ser correntes espalhadas por toda a beira.

Olhei para os braços que me envolviam, e por um momento senti mais do que apenas medo e desconfiança, fiquei surpresa, não haviam mais correntes prateadas circundando os braços da mulher, estavam agora livres, diferente de quando encontrei-a pela primeira vez. Minha visão escureceu lentamente enquanto eu adormecia em seu abraço.

Desta vez, não sonhei com nada, havia apenas um breu interminável, o tempo se passou rápido para mim, e em um piscar de olhos, despertei. Fui saudada pela ofuscante luz do sol, demorando um pouco para me acostumar com a claridade repentina.

Fiz uma careta, me sentando sobre o que parecia ser uma cama improvisada com folhas secas na entrada de uma caverna, de um lado, vi as árvores iluminadas pelo sol, e do outro, uma escuridão impenetrável, como se houvesse uma passagem a se explorar, mas não me atrevi a cogitar a possibilidade de percorrê-la. Olhei à minha volta, havia resquícios de uma fogueira a uma distância segura de mim, com galhos de árvore queimados e algumas brasas remanescentes exalando fios fracos de fumaça.

Respirei fundo enquanto verificava a situação do meu corpo, não havia mais dor, como se o dia anterior nunca tivesse ocorrido, os ferimentos haviam se curado e até a exaustão se fora, me sentia disposta novamente. Levantei-me e pus-me a caminhar em direção à saída da caverna, não gostava da sensação de articulações rijas, estar em movimento me trazia momentos raros de felicidade fugaz.

Caminhei por um tempo considerável, explorando a área ao redor da caverna, mas nunca me afastando demais, não queria me perder novamente e aquele lugar era o único ponto de referência que eu tinha.

Estiquei meus membros até que estivesse satisfeita, então voltei para a caverna e sentei-me novamente na cama de folhas, sem saber ao certo o que fazer em seguida.

Não me arrependia de ter vindo para cá, não tive escolha, este era meu último fio de esperança, e eu também havia notado uma ligeira mudança nas marcas em meus braços: sua coloração negra clareou um pouco, como se tivessem sido parcialmente apagadas, e eu não sentia mais a dor pungente nelas, isso era inédito. Ainda estava tentando me acostumar com não sentir dor ao olhar para as marcas quando um leve barulho tirou-me de meu devaneio.

Era ela novamente, a mulher envolta de mistério estava escorada na entrada da caverna, me encarando com um pequeno sorriso, com os braços cruzados e um galho fino quebrado em sua mão, parecia estar aqui a algum tempo, decidindo por chamar a minha atenção com o estalo do galho se quebrando. Olhei para ela, em dúvida sobre agradecê-la ou me manter na defensiva. Seu sorriso se alargou um pouco.

"Está melhor agora?" Desta vez, sua voz era mais suave, como se a rouquidão anterior nunca tivesse existido. O vestido vermelho estendia-se um pouco abaixo do joelho, e ela pareceria ainda mais elegante, se não fosse pelas mãos um pouco sujas de poeira e alguns pedaços de folha seca presos entre os fios de cabelo, ela notou o meu olhar em si e passou a mão pelos cabelos para retirar os pedaços de folha.

"Oh, perdoe-me por esta minha aparência pouco adequada, ainda estou me acostumando a estar em terra firme novamente. Mas, diga-me, de todos os lugares para visitar, por que aqui?" Senti a confusão estampada em sua face, mas não pude deixar de desconfiar, o sorriso continha uma sagacidade quase imperceptível, era suspeito, muito suspeito. Senti que não descobriria sobre ela nada que ela não permitisse.

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