Capítulo 10

Depuis le début
                                    

O Senju era um homem, um amigo seu. Como poderia ter feito isso com ele? Como ele poderia ter feito isso consigo?

Nunca havia de fato tido uma conversa do tipo com ninguém. Homossexuais eram um tabu que nem ao menos desejou quebrar em sua família e em seu meio. Nunca viu algum, ou pelo menos não viu um que soubesse o que fazia. Não entendia este mundo, muito menos queria entender. Nunca fez parte de sua realidade, então não se fazia ao trabalho de ouvir nada sobre.

No entanto, agora era outra história. Havia beijado um homem. Havia gostado, e se martirizou mais uma vez por se pegar imaginando isso e corando, sentindo o corpo arrepiar só de imaginar os lábios do loiro novamente. Uma sensação estranha carregou seu corpo para o meio da sala onde estava tomando chá — ou pelo menos deveria —, e engoliu em seco ao colocar a mão sobre a própria testa, a enxaqueca sendo carregada desde a noite passada.

Será que sou...

Sua linha de pensamento foi cortada assim que a porta da sala de estar se abriu, e a Beaufay entrou, com uma cara meio desanimada.

Outra coisa que também estava lhe tirando o sono era aquele jeito recente dela. Desde que havia voltado tarde daquela vez com Marcel, não estava mais com seu humor ou atitudes habituais. Ela parecia sempre tão distante quando a via, pensativa, como se estivesse a todo instante em um mar de nuvens que cheiravam à desconfiança.

— Delilah... — se levantou do sofá, arrumando o paletó que vestia, indo até ela

A morena nem mesmo pareceu perceber sua presença no mesmo momento, o olhando intrigada depois de um tempo, entretanto, somente quando parou à sua frente.

— Ah, olá, Izuna.

— Será que podemos conversar um pouco?

A sugestão pareceu assustá-la, tanto que olhou para seu rosto com incredulidade, e logo se afastou um passo, o rosto se tornando meio pálido.

— Como assim?

— Eu percebi que você está afastada. — justificou — Afastada de mim. Eu... Eu fiz algo de errado? Algo que a magoou?

A menor parou para observá-lo por alguns segundos. Ele estava realmente preocupado consigo, e mentiria se dissesse que não estava fazendo aquilo de propósito. Sentia como se aquilo fosse uma pequena vingança, por mais que não gostasse de a fazer nem do sentimento que ela trazia. Não queria nem ao menos olhar em sua face. Sabia que aquilo tudo era um fingimento, que não existia um fio de sentimento por debaixo dos panos — somente por parte dele —; mas ainda assim sentia o sentimento amargo da traição, como se ele tivesse a assistido por todo aquele tempo e rido de si. Uma sensação quente e má contornando o estômago e coração, um veneno pulsando junto ao sangue que fazia seus membros paralisarem em frente à ele, a dolorosa lembrança de dias atrás voltando com intensidade, acertando-a como uma grande árvore caída em meio a um desabamento de terra. Era injusto deixá-lo no escuro quando estava tão aflito em relação à si, contudo, na sua visão, sua situação era muito pior. Já tentou avaliar completamente a situação, pensado em caminhos mais otimistas, em que ele só falava aquilo para alguém comum, e que não tinha nada demais. Porém, nada tirava aquela risada e aquela voz de sua cabeça...

Você é tão adorável...

— Não, Izuna. — respondeu somente, desviando o olhar em seguida — Você não fez nada, somente estou pensativa sobre algumas coisas.

— Que coisas, Delilah? — suspirou — Eu quero saber, de verdade. Talvez eu possa ajudar.

Não, você não pode.

— Izuna, está tudo bem. — forçou um sorriso, por mais que a expressão não estivesse feliz — Não se preocupe comigo, está tudo certo.

O olhar do Uchiha ainda insistia, e antes que ele pudesse continuar com seus questionamentos, sua esposa se despediu às pressas, saindo do recinto e deixando o Beaufay sozinho novamente.

Torta de Maçã (TobiIzu)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant