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A campanhia nem chega a tocar, no instante em que ouvimos o carro velho e barulhento de Stella estacionando na frente da casa da Maddie descemos as escadas correndo e abrimos a porta como se fossemos crianças a espera do papai Noel.
— Trouxe cafés especiais para nós  — Stella ergue a bandeja descartável com os 3 copos grandes de café e meu estomago se agita.
Estou faminta.
Não me recordo a última vez em que comi algo decente e o cheiro do café gelado com chantilly que inunda minhas narinas me deixa tonta.
— Eu já disse que te amo? — Maddie retira a bandeja das mãos de Stella que entra na casa com um sorriso que deveria ser imoral de tão bonito.
Na verdade ela é linda, não só seu sorriso ou seus longos cabelos escuros e brilhantes, nem seus olhos que sorriem junto com seus lábios ou seu corpo de curvas elegantes.
Stella é linda porque ela é uma mulher cheia de amor, um amor que preenche tudo a sua volta, e que a faz sorrir mesmo dirigindo um carro velho e barulhento porque tudo que ganha dando aula para adolescentes podres de rico é para ajudar a sua irmã doente
— Já mas eu não me importo se disser mais uma. — ela coloca sua bolsa e as chaves em cima da mesa e seguimos Maddie até a cozinha onde ela coloca a bandeja e se vira para pegar uma caixa de biscoitinhos amanteigados que fazem minha boca salivar.
— Essa é a maior prova de amor que eu poderia te dar. — ela chacoalha a caixa no ar, o cheiro doce fazendo meu estômago doer e minhas mãos suarem como se eu estivesse prestes a ser torturada. E estou.
— O que é isso?  — Stella faz um coque enquanto se senta e puxa um copo para si.
— Os biscoitinhos mágicos da Madalena. — respondo.
— Então quer dizer que sopas não são suas únicas especialidades?
— Na verdade, essa é uma receita de família, minha avó dizia que sua tataravó trouxe de Portugal em um navio negreiro. — Maddie dá um sorriso triste, mas cheio de orgulho enquanto conta como uma garota assustada, decorou a receita de sua mãe e ficou repetindo-a incansavelmente para fugir dos horrores que a escravidão lhe proporcionou.
Elas engatam um papo emocionante sobre tradições familiares e eu me pego encarando o copo a minha frente, me desligando do assunto, sentindo o peso das calorias queimarem as pontas dos meus dedos enquanto meu estomago súplica por algo. A guerra entre a razão e a emoção,  entre minha mente e meu corpo.
Levo o canudo a boca, sentindo os dedos tremerem em contato com o material gelado, gemo quando a explosão de sabores preenche minha boca inundando cada sentido do meu corpo.
É mágico,  intenso, delicioso.
Devo ter choramingado porque de repente o assunto acaba e tem dois pares de olhos me encarando como se eu tivesse acabado de fazer algo impróprio.
— O que foi? — pergunto sem graça, sentindo o café revirando em meu estomago vazio.
— Você estava gemendo. — Stella diz, com seu sorriso irritantemente bonito.
— Não estava não.  — defendo-me afastando o copo como se fosse radioativo.
— Estava sim. — Maddie concorda e reviro os olhos irritada por ter sido pega fazendo algo tão... estranhamente bom.
— Enfim, tanto faz. — ergo os ombros e esmigalho um biscoitinho, torturando-me de vontade de comê-lo.
— Mas e aí? Porque vocês me chamaram? —Stella muda de assunto como se pudesse sentir minha tensão.
— A Cindy que deu a ideia. — minha amiga linguaruda diz.
E então me dou conta da realidade, Maddie é mesmo minha amiga, ao longo desse ultimo ano nos aproximamos e pouco a pouco a linda garota negra de olhos suaves e gentis se tornou alguém importante para mim. Alguém para quem eu corro quando estou me afogando.
Uma amiga de verdade, não uma companheira de balada.
— A Cindy? É mesmo? — Stella pergunta surpresa.
— Não foi bem isso, a gente só achou que você poderia querer... — olho em volta sem saber o que dizer.
— Ver um filme? — Maddie completa.
— Isso, ver um filme com a gente.
Stella olha para Maddie e em seguida para mim e tenho certeza que ela não acreditou em merda nenhuma do que estou dizendo.
Droga, eu nem sei o que estou fazendo, desde quando me tornei uma menininha insegura e melosa que se entope de açúcar e fica rindo de bobagens ao lado de garotas que suspiram por palavras de amor escritas em um papel? Desde quando deixei que essas duas pessoas se tornassem assim tão importantes para mim?
Eu não posso deixar que elas entrem tão fundo assim no meu coração, porque toda vez que alguém se aproxima de mim eu a machuco, e não quero machucar Maddie e Stella. Elas são especiais demais.
Não vou suportar ver mais uma pessoa que amo sofrer por minha causa. É o que digo para mim todos os dias, é o motivo pelo qual venho aguentando tudo,  para que nada de ruim aconteça a elas, assim como foi com ele, assim como faço a minha vida inteira, sou a represa que protege a vila, o escudo que recebe a flecha. Eu sofro para que ninguém que eu amo sofra, é por isso que sou a vadia de Monte Mancante, porque assim mantenho a dor longe das pessoas que importam de verdade.
É assim que tem que ser.
Afasto a cadeira e me levanto quando sinto um aperto em meu coração com a simples ideia de que algo ruim possa acontecer com elas, o barulho chamando a atenção das duas.
— Acho que preciso ir.
Dou as costas para elas e caminho em direção a porta, ignorando os chamados, sem sequer me dar conta do que estou fazendo.
— Cindy. — Maddie me chama, mas não me viro, continuo andando pelo longo corredor de mármore os olhos fixos na porta que me livrará dessa situação terrível em que me meti.
Quando finalmente estou do lado de fora caminho por mais alguns metros e sento-me na grama recém aparada, respiro fundo, enchendo meu pulmão de ar fresco do fim de tarde. Fecho os olhos e me deito sentindo o calor aquecer minha pele fria e exausta, ouço os passos e não me importo em ser vista desse jeito, sinceramente, metade da população dessa cidade já me viu em situações muito piores.
— Eu tava pensando em Amor e Outras Drogas. — Stella diz, provavelmente deitada do meu lado direito.
— Eu prefiro Meu Primeiro amor. — Maddie diz do lado esquerdo.
—Vai a merda Maddie. — abro os olhos e encaro seus cachos extravagantes espalhados pela grama, estendo a mão e estapeio seu braço. Ela ri.
— Podemos assistir Romeu e Julieta, você sabe eu nunca me canso deles.
— Stella. — viro-me para encara-la. — Eu vou te mandar a merda, e não estou nem aí se você é minha professora.
— Aqui eu sou apenas uma garota, pronta para apoiar uma amiga que está precisando de... como foi que me disseram outro dia? — Stella bate o indicador no queixo. — Lembrei! Sororidade — ela pisca para mim. Meus olhos pinicam, desvio o olhar e encaro o céu sem nuvens acima de nós porquê de repente ficou quase insuportável olhar para elas.
Sinto suas mãos segurarem as minhas no momento em que as lágrimas atrevidas escapam dos meus olhos.
Ninguém diz nada
As vezes o silêncio é a coisa mais bonita que alguém pode te oferecer.

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Olá pessoal!!!

Antes de mais nada gostaria de agradecer a todos que foram lá no meu insta conferir a capa oficial do nosso loirão,  estou muito feliz com a recepção que ele teve.

Hoje trago para vocês o que na minha humilde opinião,  é o capítulo mais bonito de todos!!!

Eu amo essas meninas, amo o que elas representam uma para a outra.

E por último,  quero avisar que amanhã sairá o último capítulo da degustação de Ivan aqui no wattpad, em breve vocês poderão ler tudinho lá na Amazon e já estou ansiosa para saber a opinião de vocês

Beijos e até amanhã!!!!

IVAN (capa provisória)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora