CAPÍTULO 4

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Ivan

Meu melhor amigo sempre me disse uma coisa sobre a felicidade.
Ela é perigosa.
O problema é quando o perigo vem disfarçado, ai não há muito o que fazer além de aceitar o que ele tem a nos oferecer.
Eu convivo com o perigo a tanto tempo, que hoje eu já não o temo mais, ao contrário, hoje eu o chamo de amor.
Não que seja algo que eu fale para alguém, ninguém sabe, nem mesmo meu melhor amigo, absolutamente ninguém.
Amar pode ser solitário, triste, doloroso, ao menos para mim é.
Eu amo minha amiga, a garota com quem aprendi tudo, eu a amei desde sempre, até quando ela disse que não gostava mais de mim, eu continuei amando, porque não posso evitar, acho que sou viciado em ama-la, ou talvez meu vício seja na dor, na tristeza, na solidão que significa amar uma garota tão complicada como Cindy Fontanelle.
Acho que Dominic não é o único esquisito dessa cidade, a diferença entre nós é que ele não esconde isso de ninguém, já eu continuo fingindo ser o riquinho babaca pegador de Monte Mancante.
Apenas pontos de vista diferente de uma mesma mente doentia.
E então sigo minha vida esquisita, enquanto observo a garota que amo transar com todos, beber e fumar, se destruir e sorrir, fingir que está feliz, quando na verdade ainda posso ouvir seu choro ao telefone quando ela me liga no meio da noite só porque teve um pesadelo, sem nunca perguntar porque ainda estou acordado.
É acho que no fim das contas, eu precisava mesmo daqueles remédios. Talvez se eu tivesse aceitado, hoje eu não estaria tão fodido.
— Ei bebê. — ela diz enquanto beija minhas costas. — Tá na hora de acordar.
— Eu já estou acordado. — digo ainda de olhos fechados, tentando me concentrar em seus beijos que continuam descendo por minhas costas.
— Já são quase sete, você vai se atrasar.
— Não tem problema.
— Não quero que você perca aula por minha causa.
— Relaxa Solana, você sabe que eu sempre me livro das encrencas.
Viro-me de frente no instante em que seus beijos chegam a meu quadril e coloco sua boca no lugar exato em que gosto de vê-la, e então fazemos o que sabemos fazer de melhor.
Nos usamos.
Ela para descontar a raiva pelo marido que a trai com uma garotinha que tem idade de ser a filha dele e eu para provar que posso ter a mulher que eu quiser em minha cama.
Ilusão, uma grande merda eu sei, mas as vezes é tudo o que nos resta.

***

Meia hora depois paro minha Hilux no estacionamento da escola, ignoro o cansaço por mais uma noite mal dormida e puxo o celular do bolso enquanto caminho desviando de carros e pessoas. Já estou acostumado com o pesar em minhas costas, a visão nublada, a dor de cabeça constante, não dormir é como estar eternamente de ressaca, e isso me torna um cara mau humorado, incompreendido pela maioria das pessoas que me julgam sem me conhecer.
Mas beleza, tô de boas com isso, tenho merdas maiores para me preocupar.
— Pelo jeito a noite foi boa. — Nuno meu melhor amigo diz se aproximando, olho para sua cara idiota, a mesma que vejo todos os dias, nos últimos dezessete anos da minha vida, mas que ultimamente vem carregando um sorriso idiota tão grande que poderia iluminar Monte Mancante inteira e eu sei bem o motivo para ele estar tão feliz.
Nossa professora de literatura.
Surreal eu sei, ainda me pego as vezes olhando para eles e imaginando se algo assim teria acontecido se eles não tivessem se pegado em um festival de música do outro lado do estado, sem se darem conta de quem eram.
Provavelmente não.
Stella é linda e gostosa pra caralho, nove em cada dez alunos de Santo Egídio matariam para ficar com ela, mas hoje sei que ela é certinha demais para sequer olhar para seus alunos de outra forma, Nuno foi uma falha, um erro, um deslize na sua conduta impecável, que está cobrando um preço caro dela.
E deixando meu amigo completamente maluco de amor.
— Vai se foder Nuno. — resmungo ainda olhando para a tela do celular, sem enxergar nada que valha a pena.
— Qualquer dia você vai chegar sem um pedaço de pele cara, sério, olha isso, Solana as vezes me dá medo. — ele enfia seu dedo no meu pescoço e leva um tapão que o faz gargalhar.
Ainda não tenho certeza se gosto muito desse Nuno idiota e apaixonado, é irritante demais ver esse sorriso enorme colado em seu rosto como aqueles filtros de aplicativo, nada no mundo parece capaz de arranca-lo. Na verdade, a única coisa capaz de tirar meu amigo do sério é Tony, nosso professor. O motivo para termos atravessado São Paulo na noite passada e gastado uma grana violenta em um jantar que eu nem estava afim de comer. Mas sinceramente, eu faço qualquer coisa para ver esse sorriso besta no rosto do meu amigo de novo.
Fazer o que, é irritante, mas eu gosto demais desse italiano insuportável pra reclamar.
— Não enche caralho. — coloco o celular no bolso e ergo o rosto tentando manter os olhos abertos no sol.
— Não consigo, é mais forte do que eu. — seu celular se acende e o que eu imaginei que era impossível acontece, seu sorriso aumenta.
— Semana passada você tava com um chupão do tamanho do Grand Canyon no pescoço e nem por isso fiquei te enchendo o saco. — resmungo.
— Hãn? — o idiota ergue os olhos e reviro os meus sem paciência.
— Deixa pra lá.
Ergo os olhos para a enorme escultura que separa os edifícios da escola e da universidade, sorrio como em todas as vezes que me recordo do dia em que ela foi inaugurada e do orgulho que senti ao vê-la pronta. Me pergunto se algum dia o responsável por elas voltará a criar algo tão grandioso e meu coração dói porque não preciso de muito tempo para obter a resposta. Eu já sei.
Não.
É,  a vida tem dessas coisas, o que hoje parece importante para uns, no dia seguinte pode não significar nada.
Seguimos entre os enormes corredores do colégio em um silencio estranho, mas que vem se tornando comum entre nós, não que seja culpa dele, na verdade Nuno já cansou de tentar me fazer falar, mas não consigo. as vezes quando algo se afunda dentro de nós, tão profundamente, por tanto tempo, se torna quase impossível dividir essa dor com alguém, se torna parte de nós.
Cumprimentamos algumas pessoas, paramos para conversar com outras que nos convidam para festas que já não temos mais vontade de ir. Nuno por estar apaixonado demais para isso e eu por não ter mais saco.
— Decidiu voltar para a escola turista? — Maddie se aproxima deixando um beijo carinhoso em Nuno e em mim.
— Vim trazer alguns trabalhos que estava devendo. — ele ergue uma pasta no ar e ela sorri, é sempre fácil estar ao lado de Madalena, ela é leve, simples, tranquila, além de bonita e inteligente de um jeito que faz a gente perceber que já não é mais o mesmo moleque de antes, de vez em quando me pego pensando em como deve ser namorar alguém como ela, deve ser bom, sem conflitos e dramas igual o relacionamento do meu amigo, sem magoas e medos.
Deve ser bom, deve ser muito bom.
— Está tudo bem Ivan? — ela pergunta agora dedicando sua atenção a mim.
— Tudo. — passo a mão em meu pescoço sentindo-me um pouco cansado.
Levi se junta a nós e caminhamos para a primeira aula, Nuno segue na direção oposta já que ele não faz mais aulas tradicionais conosco, uma das suas exigências para aceitar o acordo com seu pai.
Infelizmente não posso fazer o mesmo e preciso de todas as minhas forças para suportar um longo e exaustivo dia de aula quando tudo o que eu mais queria era poder ir para minha casa e dormir, o dia inteiro de preferência.

***

Uma das coisas que mais gosto na vida é treinar, e não tem absolutamente nada a ver com músculos e um abdômen perfeito, apesar de que eu tenha um, embora acredito que seja algo de família, genética e essas coisas já que Nicolas sempre teve um bom físico e Zacharias não corresponde a faixa de homens acima dos trinta casados e com aquela barriga ridícula.
A genética dos Schwertner é boa.
Treinar para mim significa gastar energia até a exaustão, fazer meu coração bater acelerado pelo motivo certo, significa esvaziar a mente, manter meus pensamentos longe, o mais longe possível de Monte Mancante, das coisas que não posso controlar, dos problemas que não posso resolver, da frustração, da raiva, da tristeza, treinar é a certeza de que ao chegar em casa, estarei tão exausto que mal terei forças para tomar um banho e dormir.
Então eu treino.
Até minhas pernas arderem, até meus braços tremerem, treino até as veias quase explodirem, até o suor molhar o chão, até que eu mal consiga andar até o vestiário e tomar um banho, até que minha mente esteja tão vazia que eu não sinta nada.
Hoje é um dia bom, já estou cansado quando entro no centro de treinamentos e decido  fazer só uma hora de treino, três horas de sono cobram seu preço de qualquer um e se para isso eu precisar me foder puxando ferro, é isso que vou fazer. Venho tendo noites infernais já faz um tempo, mas nos últimos meses só piorou.
Ainda estou montando o equipamento quando ouço passos se aproximando, a essa hora a escola está praticamente vazia, principalmente a área de esportes, mas os passos aumentam e então ouço uma voz, uma que faz meu coração se agitar e eu me xingar por ser tão idiota assim.
Ela está conversando com alguém e sua risada faz os pelos do meu pescoço se arrepiarem de agitação e meu corpo se retesar, Cindy tem um histórico ruim de atividades extra curriculares, a ultima me machucou tanto que achei que iria morrer quando soube que ela e Nuno foram pegos no banheiro, juntos.
É estranho como as vezes saber não nos prepara para a dor.
Eu já sabia que eles se pegavam, e embora eu quisesse matar meu melhor amigo, não pude fazer nada além de assistir a minha desgraça,  porque falar significaria me importar, e eu prefiro arrancar minhas bolas foras a dar esse prazer a Cindy.
Porém agora que Nuno sabe, tenho certeza que seria mais fácil o inferno congelar do que ele olhar para ela desse jeito, isso não significa que ela parou, só deve ter encontrado outro cara que tope suas aventuras.
E agora não faço ideia de quem seja o infeliz da vez e quando dou por mim estou jogando os pesos no chão sem dar a mínima para o que estou fazendo e caminho até a porta, é só uma espiadinha de nada, digo a mim mesmo, não estou controlando com quem ela conversa ou o motivo para ela ainda estar aqui na escola, nem estou planejando um esbarrão violento no maldito durante o intervalo, eu só preciso ver que tá tudo bem com ela, só uma mania esquisita pra caralho, mas da qual não consigo evitar.
Caminho até o fim do corredor, Cindy está de costas para mim, seus enormes cabelos balançam de um lado para o outro em um rabo de cavalo que ela fez na aula de educação física e ainda não soltou, ela parece animada de um jeito que odeio, mas que ela faz sem nem ao menos perceber. Ela está flertando.
Estou quase me virando e voltando para a sala, decidido a passar mais de uma hora aqui, lambendo meu rabo e castigando meu corpo, quando reconheço o cuzão que está ao seu lado.
Porra.
É ele, o desgraçado do professor Tony, o cara que vem tirando o sono de Nuno por causa das fofocas sobre ele e Stella, o novo queridinho das meninas da escola e claro, o novo objeto de desejo de Cindy.
Preciso de tudo de mim para me forçar a não ir até eles e puxa-la para longe dele, odeio esse cara e sinceramente não tem absolutamente nada a ver com ela, não gosto da forma como ele olha para todas as garotas da escola, sejam do primeiro ou do ultimo ano, é como se ele pudesse come-las com seu olhar de predador.
Volto para a sala, sabendo que não adianta nada ir até lá e fazer uma cena, seria apenas mais munição para Cindy usar contra mim e na boa, já tivemos brigas o suficiente para uma vida inteira. Ela sabe o que faz, ela sempre sabe, se eu for bem honesto, devo ter pena é desse babaca, não vai sobrar nada quando ela terminar com ele.
Cindy destrói tudo que ela toca, é sua maldição, seu dom, seu poder, tanto faz, não é da minha conta. Não mesmo.
Então eu aumento o peso, e malho, fingindo ser o playboyzinho vaidoso, mau humorado e vazio que o resto do mundo pensa que sou.

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Olá pessoal!!!
Tem jeito melhor de começar a semana? Eu desconheço,  sério.
Estou muito feliz em ver o quanto Ivan e Cindy vem mexendo com vocês e desejo que esses dois explodam o coração de vocês como veem fazendo com o meu.
Então bom capítulo,  se entreguem ao mau humorado mais lindo do mundo!

IVAN (capa provisória)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt