CAPÍTULO 02

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Violet

Consegui chegar ao clube cedo e, em consequência, tive mais tempo para me arrumar. Hoje é dia de show principal, ou seja, todas irão dançar no palco enquanto os frequentadores olham e jogam seus dólares, e depois, quem quiser, paga por uma sala privativa. Termino minha maquiagem e coloco a roupa para causar, assim dizendo, puro glamour e sensualidade.

— Lolla, você já arranca homens demais de nós, hoje você quer que eles façam fila? — Carola, uma das dançarinas, me pergunta em tom de brincadeira me fazendo rir.

— Até parece que você não faz o mesmo, acha que eu não vi aqueles dois homens discutindo pra saber quem iria te levar para sala privativa? — vejo ela abrir um sorriso safado.

— Foi só um mal-entendido, mas acabei resolvendo — ela sorri e passa rímel em seus cílios, deixando-os mais curvados do que já são.

— Qual foi o desfecho da história? — pergunto enquanto passo mais batom em meus lábios.

— Fiz os dois entrarem em acordo e os dois foram comigo até a sala, foi uma noite bem longa, sabe?

Ela pisca o olho para mim e sai do camarim em que nos arrumamos. Eu não devia me surpreender, mas dessa vez a fala me pegou de surpresa, quanta coragem. Respiro fundo antes de sair e avisto o Éric, ele sempre está sério e atento, mas é um homem bom, pai de família e sempre que pode me dá conselhos aos quais eu dou todo-ouvidos.

— Lolla, no palco em dez minutos.

— Ok, Éric.

— Está bem para dançar hoje? Sei que essa pergunta é ridícula, por saber que não gosta de fazer isso. Mas mesmo assim... — ele olha para mim e cruza os braços.

— Estou bem, Éric, foi apenas um dia longo e quero que acabe logo.
Ele me olha uma última vez e depois fala:

— Sabia que tenho uma filha da sua idade? Ela hoje ficou brava comigo por eu não deixar ela sair com as amigas para uma balada, era em um bairro perigo... não acho que seria seguro para ela — ele fala e eu abro um sorriso tímido.

— Eu daria tudo pra ter um pai assim, na verdade, eu daria tudo pra ter um pai! Com certeza eu não estaria aqui, ele não permitiria, certo? — Éric me olha com pesar.

— Claro que não! Com certeza ele faria de tudo para você ter uma vida melhor.

Olho pra longe e respiro fundo, tentando afastar as lágrimas. Eu nunca conheci meu pai ou minha mãe, na verdade, não me lembro deles, não sei se tenho parentes que se preocupam comigo, e se tenho, não os conheci. Fui encontrada em uma vala, desacordada, com cinco ou quatro anos, não estou certa. Eu estava sem memória.

A mulher que me achou chamou a polícia e logo me levaram para o hospital, eu tinha um corte na nuca, até hoje tenho a cicatriz. Quando acordei, fizeram exames e várias perguntas, mas eu não sabia responder nada, nem mesmo o meu nome.

Na verdade, até hoje eu não sei o meu nome verdadeiro. No hospital, me deram um nome provisório antes de me levarem para um orfanato, desde então sou Violet, apenas Violet. Eu teria sobrenome quando alguma família me adotasse, mas isso nunca aconteceu.

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