Capítulo 1

15 4 0
                                    

   Quando alguém fica completamente alheio a tudo e todos a sua volta,as pessoas costumam falar que aquela pessoa está no mundo da lua. Eu,por outro  lado estou nesse mundo desde quando nasci...
  
   Prazer,meu nome é Lua!! Se eu pudesse falar um pouco sobre quem eu sou,a melhor definição é: completamente perdida,indecisa e preocupada!! Tenho 16 anos e uma porrada de coisas que não entendo sobre o mundo e as pessoas que nem habitam. A minha mãe claramente me descreveria como "uma estrela que sente medo de brilhar" e os meus gatos,bom,se eles falassem eu ja não estaria entre os vivos!!
  
    A minha vida é com certeza igual a de alguma pessoa que você conhece,mas nunca parou pra prestar atenção. Aliás,eu agradeço que ninguém saiba da minha tão ilustre existência terrestre!!
   
    As férias para mim são um período entediante,mas curiosamente era a única coisa que se passava pela minha cabeca enquanto finalizava a última prova do ano. Todo mundo em silêncio,pernas balançando e outras pessoas pareciam tão perdidas na própria mente que a maior prova era não se estressar com o mundo. Ao entregar aquele papel com letras  e deixar metade do meu cérebro para trás,minha única preocupação se tornou:abrir a mochila,pegar meu fone e escutar música.
   
  As pessoas costumam se refugiar em lugares que se sentem bem,o meu refúgio são as mais variadas músicas da minha playlist. Todas as minhas emoções estão entre faixas e albuns. A sensação de escutar uma música enquanto vê as pessoas seguindo as próprias vidas; ter mais emoção ao imaginar por que aquela menina tão bonita  sempre chora no banheiro; observar o casal que sempre anda junto,mas ninguém nunca viu eles conversando... dentre outras coisas que a música me proporciona.

  A única coisa que me tirou do meu mundinho foi o barulho ensurdecedor do sinal.

-Tenham um bom dia,pessoal! - A professora falou,mas a maioria estava mais preocupado em ir embora logo. - Lua,será que eu posso conversar com você um minutinho?

Meu coração gelou. "Será que eu sem querer fiz alguma coisa que ela não gostou?" Mas eu sou uma mosca morta...

Assenti com a cabeça e ela me deu um leve sorriso.

-Olha, você com toda certeza é uma das minhas melhores alunas. Não me causa nenhuma dor de cabeça e tem uma inteligência muito admirável,mas se não se importa eu gostaria de te dar uma dica...- buscou em mim a aprovação e eu sacudi a cabeça novamente. - Durante o ano eu pude perceber que o seu potencial talvez seja oque alguém por ai precise. Nessa sala temos cabeças diferentes e as vezes falta a diferença de alguém em você. - fez uma pausa e eu me mantive atenta naquela conversa. - Bom,talvez você não me entenda agora mas pense nisso!

Finalizou sorrindo gentilmente e eu retribui o gesto. Fiquei me perguntando o porque da observação tão profunda e enigmática,porém lembrei que Dona Ângela era professora de filosofia.

  Chegar em casa era libertador! A sensação avassaladora de se jogar em cima da cama e sentir seu corpo relaxar...simplesmente incrível!! Isso me faz pensar que as vezes pareço uma senhora de 70 anos no corpo de uma adolescente,tristemente triste. Nuvem estava deitada no meu travesseiro enquanto observava meus rotineiro costume de colocar um pijama e as minhas meias coloridas de cano alto. Espancando a moda. Quem liga pra isso quando ta dentro de casa?

-- Filha,a comida ta pronta!! - escutar aquilo fez meu estômago roncar de felicidade.

Me apressei em sair do quarto,mas não sem antes mandar um beijo para Nuvem que miou em resposta!
  Ao chegar na cozinha encontrei minha mãe retirando o avental branco e pendurar na parede. Boa parte da minha genética foi herdada da minha mãe; a altura na faixa dos 1,75 , o cabelo preto, o corpo magro e os olhos verdes. A única diferença ta no tom da cor, os verdes da minha mãe parece mais como "menina risonha que ri e que sonha",já o meu parece com "Pântano de lágrimas inesgotáveis"!

-Filha,como foi na escola? - A mais velha se sentou ao lado oposto da mesa ficando cara a cara comigo.

- Hoje tivemos nossa última prova...de filosofia. - intercalava entre comer e falar -  Por ser quarta feira,só vamos precisar esperar 2 dias pra saber os resultados.

- Isso é muito bom! Assim pelo menos vocês não se matam de ansiedade. - olhei para ela com uma cara de dó. - Que foi?

- Mãe,é filosofia. Todo mundo passa a maior parte das aulas dormindo ou conversando. As únicas pessoas que prestam atenção são:os projetos de hippie e Eu!

  A mais velha soltou uma risada e eu acompanhei:
 
- É tão ruim assim? - confirmei com veemência - Mas você pareceu gostar a uns tempos atrás.

- Eu até gosto,mas so não gosto da ideia de ter que fazer uma prova sobre isso. Pra mim, filosofia vem de dentro de você,as respostas não precisam estar certas ou erradas porque tudo vai depender de quem vai ler.

Minha mãe largou os talheres e me aplaudiu enquanto tentava imitar gritos entusiasmados. Na mesma hora um sorriso surgiu no meu rosto. Um dos motivos pelo qual eu amava muito ela,era porque sempre tentava de tudo para me entender e quando não sabia de nada do que eu tava falando,procurava saber um pouco mais. Uma lembrança referente a isso aconteceu quando eu ganhei a nuvem e o Gastón,ela passava horas assistindo vídeos de como cuidar de gatos e depois me ensinava de uma forma super animada e dinâmica.

-Me sinto privilegiada em ter uma filha filósofa contemporânea. Nem sei como reagir! - fingiu secar lagrimas e eu não aguentei segurar a risada.

~\\~ ~\\~ ~\\~ ~\\~

Sabe quando você acorda de tarde sem entender se dormiu ou morreu? isso é exatamente o que aconteceu. Acordei meio desnorteada e me assustei quando percebi que o quarto estava todo escuro,olhei pro lado e percebi que o meu pequeno cochilo tinha durado 4 horas. Eram 18:30.

    Respirei fundo e desfrutei do silêncio mortal que estava aquela casa. Bom,isso foi minutos antes de ouvir o barulho da porta sendo destrancada e uma mãe furiosa sair gritando no corredor:
   
    - Eu odeio aquele homem!! Aaaaa eu odeio muito ele. - pelo tom de voz percebi de quem se tratava. - insensível !! filho da puta.

    Gaston e Nuvem que estavam antes de dormindo agora prestavam atenção. Me levantei e suspirei fundo antes de abrir a porta do quarto. Caminhei até a sala que ficava no final do corredor e me sentei no sofá observando a mulher mais velha andar de um lado para o outro com o celular na mão.
   
    - Foi ele denovo? - perguntei um pouco apreensiva.
    finalmente notou minha presença e pareceu chateada.
   
    - Desculpe por chegar assim,o homem que se diz seu pai me ligou. - passou a mão na testa enquanto se apoiava no balcão da cozinha.

- Porque você ainda se estressa com ele? Não vale a pena. - o ódio ja começava a se instalar em mim - Ele não tem uma filha e eu não tenho um pai.

Era simples demais. Ja faziam 2 meses que eu não tinha notícias sobre o cara que era pra ser meu pai,toda vez que ele sumia,voltava cheio de falsas promessas e eu tinha certeza que naquela situação era exatamente o que tava acontecendo.

-- Lua...Lua!! - fui tirada dos meus pensamentos com a voz baixa ao meu lado. - Filha,eu sei que você ja está cansada de ouvir isso e acredite,eu também estou,mas ele ligou e disse que gostaria de ver você.

sorri sem humor.

-- Você quis dizer que ele vai marcar um dia né,agora se ele vai aparecer ai ja é outra coisa. - me virei para encarar a mulher que me analisava com cautela. - Avisa pra ele que eu não vou.

Ela concordou e depois me deu um abraço. Eu sabia o que aquilo significava. Era o mesmo abraço que eu recebia desde os 7 anos. Ele significava proteção,carinho e principalmente apoio.

Me levantei e fui atrás dos meus gatos. Juntando tudo que você ja sabe sobre mim,é decadente uma adolescente de 16 anos ter como melhores amigos os próprios animais de estimação. E la estavam os dois;Gaston quase uma parte do tapete e Nuvem deitada no meu travesseiro. Sorri e fiz questão de dar um beijinho em cada um.

Entre Galáxias Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum