Capítulo 1 - O Anfitrião e o Teatro

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"O Anfitrião e o Teatro"

Na maioria das vezes tendemos a acreditar que estamos corretos sobre o que acreditamos. Sim, acreditamos estar na maior parte do que pensamos corretos. Deus nos deu não só a possibilidade de buscar a verdade, mas também o dom de desejá-la. Talvez por isso imaginemos que, após toda a nossa busca e experiência estamos mais próximos da verdade do que antes. O que as vezes podemos nos esquecer é que não somos donos da verdade, pois a realidade não é apenas criada por nós, assim como nós não apenas fazemos parte da realidade; nem um extremo nem outro. Na verdade, tudo que existe, até mesmo nós, é o que chamamos de realidade. Encontramos a realidade dentro de nós, porquê afinal somos um só com ela. mas meu desejo é que você reflita sobre até onde pode ir nossa compreensão se não dividirmos o que está fora do que está dentro.

Na verdade ao contrário do que alguns pensam, é esta divisão que nos faz acreditar que somos o próprio Deus, e não o contrário. Achar que somos nós que contemos a realidade única e exclusivamente dentro de nós, é o mesmo que de fato dizermos que nós somos o próprio Deus, mesmo que digamos que o somos em conjunto com o resto da criação. Acredito que você também possa sentir que, não importa o quão grandes nós sejamos seja em coragem ou seja em inteligência, existe algo maior que nós. É no encontro com este algo maior, no encontro com a Causa de Todas as Causas, que encontramos o sentido da existência.

Pensar ser o mesmo que Deus é como sentir solidão. Pode haver sentido em estar sozinho, mas ninguém vê sentido na solidão. Estar sozinho é diferente da solidão, pois solidão é quando nos sentimos totalmente vazios, quando sentimos que alguém o qual não sabemos pronunciar o nome, e apenas este alguém, seria o suficiente para que a vida bastasse. Se fossemos Deuses com D maiúsculo, será que ainda teríamos este mundo sofrido e fragmentado?

Mas por mais inconcebível que pareça a existência desse pensamento ele é um fenômeno da divisão. A primeira divisão é a divisão do que chamo de Ego Patológico, aquele que divide à nós mesmos do resto da criação. Podemos pensar da seguinte forma: Se nos elevarmos aos céus, para acima da atmosfera, e flutuarmos além de todas as coisas existentes, teríamos de ir ao ponto onde essa realidade acaba? Não seríamos capazes de chegar à tal lugar, o mundo onde estamos é o mundo da criação, o mundo que tem sua origem em algo que vem antes dele. Este mundo que tem seu lugar antes de nós, nós chamaremos aqui de Céus,  ele é aonde habita a morada de Deus. mas os céus não estão separado de nós...

A Bíblia, no livro de Gênesis narra o início do mundo. O início narrado em Gênesis muitas pessoas acreditam ser literal, e esse modo de ver tem seu valor. Mas vejo que a Bíblia assim como todos os livros sagrados, é um livro de verdades espirituais. O que o Gênesis nos aponta é que o mundo criado é como um reflexo dos céus, os céus não só interagem com nosso mundo como também tocam o nosso mundo. Os céus e a Terra estão no mesmo espaço, fazem parte da mesma dimensão. Estas verdades aqui ditas estão contidas na pequena e reveladora passagem:

"No princípio criou Deus o céu e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas." (Gênesis capítulo 1 versículos 1 e 2). 

A terra era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo. Esta terra é toda a nossa realidade existente, e o que sustenta essa realidade é o tempo e o espaço (havia trevas sobre a face do abismo). O Espírito "se move sobre a face das águas", isso significa que sua glória é presente nos céus e na terra e nossa realidade é um reflexo do seu mover. A palavra "mover" é o mesmo que "ação", o que a Bíblia também chama de "Verbo". Como está no livro de João:

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez." (João capítulo 1 versículos 1 ao 3).

Este Verbo, também chamado de Logos, é aquilo pelo qual tudo é possível. Ele é a palavra, aquele em quem estão contidas todas as leis universais, aquele que é a fonte dos códigos do universo, aquele onde se encontram todos os mais altos ideais,  que torna todas as abstrações e as mais sublimes ideias possíveis, e gerador de todas as possibilidades, o criador da própria "possibilidade". Ele é o que vem antes não só do nosso mundo, mas o que torna possível o código fonte, o código binário da realidade. Ele é o Logos: Ele é o Anfitrião e ao mesmo tempo o próprio Teatro onde se encontra o palco da realidade!

Religare - A Arte de Unir Todas as CoisasOnde histórias criam vida. Descubra agora