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A luz quase me cega e estou começando a ficar irritado com tantas perguntas.
— O ideal era você ir ao hospital. — o tal irmão medico do meu salvador diz enquanto analisa minhas pupilas.
— Eu já disse estou de boa.
— Você foi pisoteado dentro de uma piscina, desmaiou lá dentro, eu gostaria de ver alguns exames de imagem.
— Prometo que se eu sentir alguma dor eu vou. — minto porque nem fodendo vou por livre e espontânea vontade em um hospital.
— Você ingeriu alguma substancia ilícita?
— Eu não me droguei, só estava me divertindo.
— Quanto de álcool você ingeriu?
— Mas que merda, eu to bem, já disse. — resmungo quando ele começa a anotar alguma coisa.
— Vai com calma ai irmão, ele só tá querendo ajudar. — o salva vidas diz parecendo um pouco irritado agora.
— Eu to bem, já disse, não uso drogas, só uma erva as vezes para relaxar e hoje eu to de boas, tomei alguns drinks e acho que passei do ponto, mas foi só.
— Alcool e agua não são boas combinações. — o jovem medico diz enquanto começa a guardar suas coisas.
— É, to ligado.
— Você bateu a cabeça, desmaiou, se afogou, provavelmente teve um concussão, se sentir tontura, dor de cabeça ou em alguma parte do corpo sugiro que vá ao hospital. Esse é o meu cartão, estarei de plantão amanha a noite, mas conheço um bom medico que pode te atender caso precise.
— Valeu.
— Ah, se vomitar, vá para o hospital.
— Certo.
— E se puder, de uma pausa na farra por alguns dias, só para garantir que está tudo bem com você.
— Certo.
O homem se afasta e quando tento me mexer na cama sinto uma pontada em minha costela.
— Quer que eu te receite um analgésico?
— Não valeu.
Ele olha para mim como se estivesse tentando entender o que diabos eu tenho contra medicação, infelizmente ele vai continuar sem saber, não estou muito interessado em ficar explicando meus traumas por ai, ainda não bati a cabeça tão forte assim.
Ele vai até seu irmão e diz alguma coisa, os dois cochicham algo e antes que ele saia o chamo.
— Ei doutor, e a garota que desmaiou?
— Ela está no quarto ao lado, ainda está um pouco fraca, mas está bem.
— Ela se machucou?
— Não, só estava um pouco desidratada, está tomando um pouco de soro.
— Que merda, isso aqui acabou virando um hospital. — o salva vidas brinca, mas ninguém ri.
— Podia ter se tornado a cena de uma tragédia, vocês deveriam tomar mais cuidado. — o médico o repreende. — Bom, a gente conversa depois, Ivan, se cuida.
— Obrigado doutor.
Ele acena para mim e sai acompanhado do seu irmão, e então estou sozinho, em uma cama macia e confortável de um quarto desconhecido, ainda ouço as vozes lá embaixo, mas a música parou e imagino que a festa tenha acabado.
Jogo-me para trás ignorando a dor que sinto em todas as partes do meu corpo e fecho os olhos tentando entender o que aconteceu aqui hoje.
Eu quase morri.
Volto a pensar na voz que imaginei ter ouvido, não pode ter sido real, ela estava longe demais para isso, mas eu ouvi, era como um sussurro em meu ouvido, me impedindo de ir embora.
Ela me salvou.
Não foi o garoto assustado que fez a manobra de Heimlich, mas ela, ou a versão dela que se importa o suficiente para me pedir para não deixa-la. Ou talvez seja a alta dose de Red Label em minha corrente sanguínea.
— Cuzão do caralho. — sussurro encarando o teto e pensando em como diabos vou fazer para dar o fora daqui sem que me olhem como se eu estivesse maluco por não ter ido ao hospital.
Meia hora se passa sem que eu sequer consiga me mover, meus braços parecem pesar uma tonelada e minha garganta ainda arde, penso em chamar Nuno, mas ele deve estar com a Stella e o cara vai pirar se souber que o idiota do amigo quase morreu pisoteado em uma piscina, então decido que se ficar aqui mais meia hora talvez eu me sinta melhor e é isso que eu faço. Fecho os olhos, só para descansar um pouquinho...
Quando acordo já é de dia, o sol entra pela janela e há um cobertor sobre mim, estou aninhado na cama como se estivesse na minha casa e me sinto como se tivesse tomado uma surra enquanto dormia.
Deus, tudo dói.
Tento me levantar, mas preciso respirar um pouco para isso e coloco a mão onde parece que tem uma faca em meu esterno, respiro fundo e forço meus pés a tocarem o chão, eu só preciso chegar ao meu carro e então tudo vai ficar bem.
Não consigo achar meu celular e imagino que a essa altura ele deve ter sido levado, ou pisoteado como o dono, tanto faz, não quero falar com ninguém agora mesmo. Caminho até a porta tentando pensar em como sair daqui sem chamar a atenção, mas no instante em que abro a porta, me assusto com o que vejo.
— Que diabos você está fazendo aqui? — minha voz soa esquisita, mas ao menos é alta o suficiente para que Nuno se levante em um pulo.
— Merda Ivan. — ele se joga sobre mim e dou um passo para trás e solto um palavrão quando sinto uma fisgada.
— Porque você estava sentado no corredor?
— Você tava... pálido demais, eu não consegui ficar olhando para essa sua cara branquela e toda...fodida.
A voz dele estremece e percebo então o que aconteceu, claro que ele não conseguiu, me ver deitado naquela cama deve ter trazido a meu amigo algumas lembranças de Matteo. Que droga!
— Tá, mas eu to bem, agora será que dá pra me soltar? — empurro-o e ele se afasta, mas suas mãos continuam sobre mim enquanto ele me analisa.
— Cara nunca mais faça isso está me ouvindo? — ele me chacoalha e sinto vontade de socar a sua cara idiota, mas ele parece tão assustado que desisto e apenas aceito sua demonstração de afeto.
— Tá, já chega, você está me apertando. — empurro-o e Nuno se afasta ainda me xingando por quase te-lo matado de susto. — Como você soube? — pergunto, mas nem preciso da sua resposta, é claro que sei a resposta. — Onde ela está? — desvio do meu amigo e caminho até a porta ao lado, abro-a sem me importar, mas tudo o que encontro é uma cama vazia e um suporte com um saco de soro vazio.
Um buraco se forma em meu estomago quando me dou conta de que ela foi embora sem nem ao menos falar comigo, droga, nem mesmo uma experiencia de quase morte foi capaz de desatar a merda do nó que se formou entre nós.
— Ela foi para casa, mas ficou com você até eu chegar.
— Ficou? Como assim ficou?
— Cara você apagou, eu tentei te acordar, mas parecia que você não dormia a anos e simplesmente não acordava, a Cindy pediu para não te incomodar e deixar você descansar.
— Ah porra! — esfrego as mãos em meu rosto e gemo quando pressiono uma parte machucada e inchada.
—  Ela está bem Ivan, mas você sabe como é a Cindy, ela não lida bem com esse tipo de situação.
Encaro meu amigo por alguns segundos.
—  Ela não lida bem comigo você quer dizer né?
—  Achei que vocês tinham conversado.
—  Acredite, a gente tentou.
—  Não é possivel, vocês são amigos, mais que isso, droga.
—  Nuno para.
—  Tá,tá, eu vou parar. — ele ergue as mãos.
— Só vamos embora logo, preciso de um banho e de uma dipirona.
Dou alguns passos, mas Nuno não me acompanha e quando me viro para ele, encontro meu amigo parado no meio do quarto, olhando para mim como se eu fosse uma alma penada.
—— Eu fiquei assustado de verdade. — Nuno diz.
—  Eu sei.
—  Quando a Cindy me falou eu... —  ele desvia o olhar e respira fundo. —  Eu achei que nunca mais iria olhar para essa tua cara.
— Me desculpa, eu não pude evitar, eu...
— Não faz mais isso, por favor, eu não posso perder você.
— Isso soou esquisito. — brinco.
— Vai se foder seu cuzão. — Nuno vem até mim. — Vamos dar o fora daqui, a empregada chegou e tá querendo matar meio mundo. — ele passa o braço em volta do meu ombro e me puxa para perto, sei o quanto ele deve ter ficado assustado e me desculpo mais uma vez enquanto deixo que ele me arraste para fora do quarto.
— Tua cara tá linda, só pra você saber.
—  Tenho certeza que está muito melhor que a sua.
—  Há quem diga que isso é impossível.
—  A Stella não conta.
—  Por falar em Stella, ela tá preocupada, depois manda um alô.
—  Pode deixar, eu faço uma chamada de vídeo, assim posso tirar a duvida sobre o quanto ela acha a minha cara linda.
Nuno solta uma gargalhada e sorrio enquanto ignoro as dores que sinto, principalmente aquela que parece apertar a merda do meu coração.

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Oieeee pessoal!
Quem me acompanha no Instagram já viu que essa noite eu finalmente finalizei esse bebê e estou tão feliz que resolvi liberar um capítulo hoje.
Espero que gostem da surpresa há e comentem bastante.
Beijoooss e até a próxima

IVAN (capa provisória)Where stories live. Discover now