Camellia

c a p í t u l o ✿ 1 0

— Você nunca pensou em fazer stream? — Twister perguntou. — Você é bonita, joga pra caralho, ia ter muito perdedor te dando dinheiro.

— Tipo a gente — Nathan brincou, arrancando um riso de Bianca.

Claro que já tinha pensado. Stream de jogos, onde as pessoas transmitiam ao vivo suas partidas enquanto conversavam com o público, era um negócio muito popular hoje em dia. Na verdade, seu maior sonho por muito tempo foi começar um canal no youtube, mas sempre ficava um pouco receosa.

Ser mulher na comunidade de jogos era difícil. Durante as partidas, Bianca sempre usava o masculino para evitar caras que lhe enchessem o saco, mas não raramente deduziam que era garota por causa dos seus nicks e começavam a lhe xingar de graça. Ou pior, também tinha aquele estereótipo de que garotas streamers só queriam surfar na moda dos jogos e ganhar dinheiro por causa de suas aparências (apesar de Twister estar brincando com "ia ter muito perdedor te dando dinheiro", aquilo só reforçava o pensamento enraizado).

Bianca acompanhava algumas jogadoras profissionais e era sempre terrível ler o chat de suas streams — ou posts no Instagram, Twitter... Sinceramente, não as deixavam em paz em lugar nenhum. Não sabia se teria autoestima para isso.

— Eu não sei — Bianca começou a responder, pensando em como expressar seus receios, mas nunca teve a chance de continuar a frase, pois no segundo seguinte, algo chamou a atenção dos garotos.

— Meu Deus, olha quem tá vindo! — Daniel retirou o braço do seus ombros (algo que por si só, já era de partir o coração). O que quer que fosse, lhe arrancou um sorriso que Bianca nunca tinha visto antes.

Nathan, Twister e VH acompanharam seu olhar e também expressaram a mesma felicidade. Confusa, Bianca esticou o pescoço para tentar descobrir do que se tratava.

— Olha só quem está viva!

Imediatamente, sentiu seu estômago embrulhar. A garota que se aproximava era alta. E magra. E absolutamente maravilhosa. Com um sorriso confiante e postura despretensiosa, aproximava-se com o skate. A pele escura tinha um brilho dourado sob o sol de fim de tarde e a cor laranja dos dreadlocks parecia ainda mais intensa.

— Porra, ninguém me avisou que estava cheio de perdedor aqui. — Ela debochou, colocando o pé na parte de trás do skate para parar logo em frente ao banco que estavam sentados. Que ódio, até o tom de voz calmo era bonito. — Não volto mais nesse lixo de lugar.

"Haha" Bianca pensou, contendo a vontade de revirar os olhos. Só era engraçado quando eles se chamavam de perdedores.

Observou enquanto Daniboy praticamente pulava do banco e puxava a garota para um abraço apertado. Ela era só alguns centímetros mais baixa que ele e mesmo Twister, que era o mais alto com seus 1,90m, nem precisava se quebrar todo para cumprimentá-la, que nem fazia com Bianca.

Assistiu enquanto os garotos a recebiam com a empolgação de quem vê uma celebridade. Pareciam ter uma intimidade imensa, mesmo que ela nunca a tenha visto ali.

O quão babaca ela era por já estar puta? Tipo, Bianca sempre foi acostumada a fazer parte de grupos de garotos, e a regra nunca mudava: todas as namoradas ou amigas a odiavam porque juravam que Bianca estava dando em cima de todos eles apenas porque jogavam juntos.

— Tá melhor? — perguntou Twister, pousando a mão calorosamente sobre a cintura da garota nova.

A segundanista sentiu uma pontadinha de ciúmes. Já havia reparado em como todos os garotos eram bastante carinhosos em suas expressões de amizade, com toques constantes (mas não de maneira sexual ou coisa assim) e abraços despretensiosos. Ela gostava de amizades assim, mas achava que era um negócio, bom, entre ela e eles.