Capítulo 4

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Assim que a porta se fechou atrás de mim, olhe em direção a parede de vidro que dava visão a área dos funcionários. Todos me encaravam com curiosidade, mas assim que notaram que eu os olhava, voltaram suas atenções para os monitores. 

Todos com exceção de Crissa que não olhava em minha direção, mas sim para os papéis em meu braço. O pavor evidentemente estampado em seu rosto.

Caminhei até a entrada do imenso escritório, que comportava ao todo dez funcionários. 

Aproveitei aquele momento o máximo que eu consegui. 

Minha ideia jamais foi chegar com o poder, mas algo de estranho pairava sobre aquela empresa e aquele era o momento de demonstrar a minha força. Se eu me deixasse abalar agora, possivelmente sofreria as consequências posteriormente. 

-Olá, senhores - chamei. 

A maioria fingiu não notar minha presença, enquanto apenas três pessoas - contando com Crissa que ainda encava os papeis - me olhavam diretamente. Esse comportamento só evidenciava que eu teria um longo caminho a percorrer até ser respeitada por aqueles funcionários.

-Sei que estão todos escutando, mas mesmo que não tenham a educação me olhar irei lhes passar o comunicado - falei e isso despertou a atenção de todos, que imediatamente me olharam. 

Crissa estava sentada sobre uma mesa e logo se acomodou na cadeira de forma desajeitada. 

-A partir de agora nenhum documento passará para assinatura do senhor presidente sem a minha verificação - falei com firmeza. - Toda e qualquer documentação deverá ser entregue em minha mesa e somente após a minha leitura o presidente assinará. 

Muitos se entreolharam, preocupados. Estava nítido que esse tipo de atitude ainda não havia sido tomada por outras funcionárias. O que justificava a confiança de Iago a mim.

-Somente por agora, qualquer dúvida estou a disposição - não deixei que falassem nada e voltei a caminhar em direção a minha mesa. 

Por sorte, meu local de trabalho era escondido o suficiente para que ninguém tivesse acesso visual sobre o que eu estava fazendo. Me permitindo diminuir a tensão e relaxar por alguns segundos.

Olhei o conjunto de folhas, ao todo pelo menos umas vinte paginas. Eu levaria um turno inteiro para finalizar aquela leitura. 

Como era meu primeiro dia, eu não havia feito horário de almoço e já sentia minha barriga em rebuliço. 

Olhei o relógio. 17 horas e 35 minutos. 

O expediente já estava se finalizando.

-Senhorita Fell - Crissa se aproximou com relutância, mal havia ouvido seu salto agulha. 

O olhar apavorada tentava ser encoberto por uma falsa simpatia. 

-Sei que lhe causei muitos problemas - ela falava com os olhos grudados nos documentos a minha frente. - Mas acho que podemos relevar toda a situação e..

Levantei minha mão, cortando o que iria dizer. 

-Engraçado - falei segurando uma caneta sob o meu queixo. - Ao falar com o senhor Moonligh nada foi relevado.

Seus olhos imediatamente ficaram grandes, ela estava realmente assustada. Citar a fofoca pareceu surtir algum efeito sobre a mulher. A mesma já não tinha o olhar superior e o aspecto rude que havia utilizado comigo mais cedo. Crissa poderia ser facilmente confundida com uma criança que acaba de ser pega com o batom de sua mãe.

-Podemos esquecer essa situação, senhora Fell - ela falou com a voz tremula. 

-Claro, senhorita Crissa, ficarei contente que possamos reestabelecer nossa relação dentro da empresa - a respondi. 

A moça pareceu relaxar. 

-Então não se importa se eu verificar novamente os documentos, no nervosismo acho que deixei passar alguns erros de português - ela falou estendendo a mão.

Recolhi ainda mais os papéis, deixando bem claro que eles não sairiam da minha posse. 

Realmente havia algo de suspeito naquele comportamento e ia muito além de uma rixa com a novata. Havia algo naqueles papéis que ela temia.

-Não precisa temer, senhorita Crissa, eu mesmo faço as correções - falei tranquilamente. - Muito obrigada pela sua proatividade, mas não precisa se incomodar. 

O olhar espantado voltou a tomar seu rosto. Sentia sua alma escapando lentamente de seu corpo.

No mesmo instante a porta da presidência se abriu e Iago nos olhou assustado.

A visão de Crissa apavorada o deixou surpreso.

-Senhorita Crissa, aconteceu algo? - o homem perguntou preocupado.

A mulher recuou um passo e chacoalhou as mãos na frente de seu corpo.

-Não, senhor Moonlight - disse com a voz trêmula. - Estava apenas me desculpando com a senhorita Fell sobre o ocorrido de mais cedo, mas já vou indo.

Ela fez um breve cumprimento e saiu apressada em direção aos demais funcionários.

O rapaz se aproximou e sentou sobre a mesa, sem conseguir disfarçar a curiosidade que o levava a encarar o setor administrativo.

-O que disse a ela? - perguntou como uma criança.

Não pude deixar de soltar uma gargalhada. Iago oscilava muito entre o chefe bravo e uma criança teimosa.

-Ela queria corrigir o documento - balancei os papéis no ar.

-E você obviamente se manteve firme - ele constatou, pensativo.

Balancei a cabeça e retomei minha atenção aos documentos.

-Seja lá o que tenha nesses documentos, é algo que a senhorita Crissa não quer que eu saiba - comentei. - O que me fez querer saber ainda mais a respeito.

Iago colocou a mão sobre a minha cabeça, como um treinador faz com um cachorro adestrado. Ele abriu um imenso sorriso em seu rosto, esbanjando uma expressão de contentamento.

-Voce é a melhor, Emma - falou.

Minhas bochechas imediatamente queimaram, como uma resposta ao seu toque.

-Obrigada, senhor Moonlight - o respondi em um sussurro desajeitado.

Ele retirou a mão do topo da minha cabeça e sorriu novamente.

-Vamos, quero levá-la a um lugar - disse.

O olhei desconfiada.

-Não estou dando em cima de você - ele riu ao perceber que eu o estudava. - Mas preciso que faça hora extra.

O encarei, não com desconfiança, mas com curiosidade.

-Te explico no caminho - ele disse enquanto se levantava e ia em direção ao corredor, ignorando os demais presentes no local.

Apenas juntei os documentos em minha mão em uma pasta que encontrei dentro de uma das gavetas, abracei o objeto e corri em direção ao Iago, que já estava dentro do elevador sorrindo em minha direção.

BordôWhere stories live. Discover now