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Duas semanas depois...

As duas últimas semanas têm sido super preenchidas e têm-me devolvido uma alegria e uma energia que eu nem me tinha apercebido que tinha perdido. Inscrevi-me em 3 mini-cursos sobre jornalismo e comunicação de empresas, comecei a praticar exercício físico, retomei o meu ritmo de leitura e enviei imensos currículos para diferentes locais. Além de tudo isto, tenho ido trabalhar para o café 3 dias por semana. Ter uma agenda preenchida, com várias coisas para fazer que me dão prazer, tem sido realmente bom e eu sinto que estou no comando da minha própria vida, uma sensação ótima que eu tinha esquecido.

Depois de todos os e-mails que enviei, finalmente recebi resposta a um deles, para ir a uma entrevista para um jornal online em Manchester – o Manchester Evening News. É verdade que Manchester fica a cerca de 45 minutos de viagem de carro de Holmes Chapel e, obviamente, eu não vou sair de Holmes Chapel, mas se não surgirem mais oportunidades de emprego e eu for aceite nesta, eu não me importo. Há gente que percorre diariamente distâncias maiores para ir trabalhar e, uma vez que tenho transporte próprio, as coisas ficam mais facilitadas. Além disso, o jornal em causa é muito conhecido e importante, por isso é um grande prestígio se conseguir o emprego.

A entrevista está marcada para as 10h, mas planeio sair de casa uma hora mais cedo, visto que o trajeto ainda é longo e eu não conheço muito bem o caminho, por isso prefiro ter algum tempo de margem para o caso de acontecer algum imprevisto. Acabei de acordar e já tomei o pequeno-almoço, por isso resta-me tomar um duche rápido e arranjar-me para sair.

Estou um pouco nervosa, mas também muito entusiasmada. Quero muito voltar a trabalhar e não me importo que isso implique levantar-me todos os dias muito cedo para conduzir para o trabalho. Quero voltar a fazer aquilo que gosto e essa oportunidade está muito perto, só espero conseguir agarrá-la.

Decido que o melhor é optar por uma roupa mais profissional, por isso visto umas calças tipo fato, azuis escuras, e uma blusa branca com riscas fininhas azuis. Escolho um blazer do mesmo tom das calças, mas não demasiadamente formal, e uns sapatos cinzentos com um pouco de salto. Coloco os meus pertences numa mala de cor semelhante à dos sapatos e coloco apenas uns brincos de pérolas e um relógio para completar o outfit. Coloco uma maquilhagem muito simples e discreta, apenas com base, rímel e um batom nude, e realço as ondas naturais do meu cabelo com ajuda da prancha. Estou pronta mesmo antes da hora planeada, por isso visto um casaco mais quente por cima, porque estamos em novembro e isso significa que o tempo já é o de inverno, e saio de casa.

Durante todo o caminho, vou a ouvir música na rádio e a cantarolar todas aquelas de que sei a letra, porque preciso de libertar a cabeça, se não fico ainda mais nervosa. Felizmente, não tenho nenhum percalço nem apanho demasiado trânsito, por isso faço o caminho em cerca de 45 minutos, chegando vinte minutos antes da entrevista. Aproveito que, junto à sede do jornal, existe um pequeno café para comer qualquer coisa e beber um café. Sinto-me realmente ansiosa, mas de uma forma boa, porque é um sinal do quão isto é importante para mim.

À hora combinada, eu entro no gabinete de recursos humanos para a entrevista. A senhora que me entrevista é extremamente simpática e faz questão de me fazer sentir muito à vontade, o que ajuda muito a que eu não me sinta tão nervosa. Na verdade, não parece realmente uma entrevista, mas mais uma conversa. Ela faz-me várias perguntas e eu respondo com a maior das naturalidades, nem dando pelo passar do tempo.

- Não devia dizer-lhe isto, mas... Eu sei que a menina é uma das candidatas favoritas. – a senhora, por volta dos 50 anos de idade, pisca-me o olho – Receberá novidades muito em breve, fique atenta ao telemóvel e ao e-mail.

- Muito obrigada! – despeço-me da simpática senhora e saio do edifício.

Mesmo que não fique com o lugar, fico feliz com esta experiência e sinto que correu bastante bem, por isso, sem dúvida, missão cumprida. Agora, resta-me esperar, porque já não está mais nada nas minhas mãos. Faço o caminho de volta a casa muito mais calma, com a sensação de dever realmente cumprido. Se não conseguir este emprego, hei de conseguir outro. Não me posso cobrar este tipo de coisas, quando não está totalmente sob o meu controlo.

Quando chego a casa, o meu estômago já está a dar horas e eu não estou propriamente com vontade de cozinhar, por isso opto por ir almoçar a um pequeno restaurante do bairro. Sinto-me estranhamente leve e bem-disposta. Depois de almoço, vou até à pastelaria, apesar de hoje não ser o meu dia. Sinto que, se ficar fechada em casa, posso começar a ficar demasiado stressada, por isso prefiro manter-me ocupada, nem que seja a servir às mesas.

- Então, que está a minha querida sobrinha a fazer aqui? – o meu tio pergunta, ao ver-me entrar. Eu sorrio e aproximo-me dele para trocar um abraço – Aconteceu alguma coisa?

- Não. Tive aquela entrevista de emprego, hoje de manhã, em Manchester. – relembro e ele assente.

- E como correu? – ele pergunta.

- Eu acho que correu bem... Mas agora resta-me esperar. Por isso, eu vim ver onde é precisa a minha ajuda, porque não me apetece ficar em casa, hoje. – explico.

- Pronto, estás à vontade, querida. Isto é tudo teu. – ele sorri – Eu vou estar no escritório a tratar da papelada dos fornecedores. Se quiseres, podes ficar aqui pelo balcão ou vir para lá. Como quiseres.

- Então, acho que vou ficar por aqui. Mas se precisares de ajuda, chama-me! – afirmo e ele assente, deixando um beijo na minha testa antes de se retirar para as traseiras do estabelecimento.

Passo a tarde de um lado para o outro, a recolher, preparar e entregar pedidos. Na verdade, a minha ajuda até veio em bom dia, porque, ao fim do dia, chega um carregamento de material e, assim, pude ficar a segurar as pontas enquanto o Luccas e a Alisha tratam de descarregar e arrumar as coisas. Ajudo o meu tio a fechar o estabelecimento, por volta das 20h30, seguindo depois para casa. Mais uma vez, não tenho grande vontade de cozinhar, por isso opto por aquecer uma lasanha que tinha no congelador e sentar-me em frente à televisão, a ver um filme enquanto janto.

Por mero descargo de consciência, sem verdadeira fé de que houvesse uma resposta para mim, decido verificar o e-mail antes de ir dormir. Não sei se foi um instinto ou o meu sexto sentido, mas ainda bem que fui. Um e-mail, por abrir, do gabinete de recursos humanos do Manchester Evening News está ali, bem à minha frente, à espera de ser lido. Hesito bastante antes de o abrir, porque tenho receio que as minhas expetativas sejam totalmente defraudadas e que uma resposta negativa possa pôr em causa a minha evolução pessoal das últimas semanas. Contudo, a minha mãe sempre me disse que o mundo é dos corajosos, por isso acabo por abril o e-mail, sem pensar muito.

Miss Walker,

Vimos por este meio comunicar-lhe que foi aceite para a vaga de jornalista no Morning Evening News. O diretor do jornal ficou muito satisfeito com o seu currículo e com a sua carta de motivação, assim como a pessoa que a entrevistou esta manhã. Preenche todos os requisitos necessários para o trabalho.

Gostaríamos de marcar uma reunião consigo para daqui a dois dias, às 10h, na sede do jornal. Queremos assentar todos os pormenores do contrato para que possa começar a trabalhar o mais rápido possível. Por favor, confirme a sua disponibilidade. Ficamos a aguardar uma resposta.

Os melhores cumprimentos,

Gabinete de Recursos Humanos – Morning Evening News.

Eu releio o e-mail duas ou três vezes. Quando, finalmente, caio em mim, começo aos saltos pela sala, enquanto gargalho alto. Nem acredito que fui aceite! Estou muito feliz e entusiasmada com esta nova fase! Quando me acalmo, respondo imediatamente ao e-mail, agradecendo a oportunidade e confirmando que a data marcada me parece ótima.

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