Capítulo 6

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"A fuga nunca levou ninguém a nenhum lugar" (Antoine de Saint-Exupéry – O Pequeno Príncipe)..


Senti-me com bruxismo, de tanto que apertava meus dentes. William segurava minha mão de forma apertada e protetora.

— Felipe, vai mais devagar! – pedi.

— Não quero um lunático nos seguindo – devolveu.

Por toda a viagem até em casa, Felipe corria tanto, apenas acionando meu medo. Quando passamos pelo tal lago, recusei-me e olhar para lá. Tomei mais um comprimido para dor e William deitou sua cabeça em meu ombro.

Afaguei os cabelos loiros de meu filho e de olhos fechados suspirei. Eu só conseguia me lembrar daqueles olhos verdes folhas-secas com bordas escuras. Eu via esses olhos todos os dias. Olhei para Will que me devolveu o olhar intensamente aprovando minha teoria.

Não consegui encarar meu próprio filho pela primeira vez. Eu só não podia acreditar nisso, mesmo parecendo tão óbvio. Eu não podia aceitar. Eu... não podia.

Felipe não me encarou, mas notei uma gota escorrer por sua face. Estávamos todos esgotados. De cansaço ou de mentira, eu não sabia.

"Oh meu Deus e se eu traí Felipe no nosso passado com esse tal James?" – O pensamento me fez pôr a mão na boca e agradeci por Will ter adormecido ou veria meu pânico.

Assim que cruzamos a porteira de nossa casa, senti um amargor na língua. Aqui sempre foi um lar para mim, mas hoje parecia outra dimensão.

Coloquei William na cama e fui tomar banho. Tranquei a porta, liguei o chuveiro na temperatura mais quente que ele suportava e escorreguei pelo box. Mordi meus dedos em punho para não liberar o grito estrangulado.

Tantas coisas passaram por minha mente, mas pareciam peças de um quebra-cabeça grande demais para unir e fazer sentido. Eu não estava com paciência, eu estava amedrontada.

Ao ouvir batidas na porta, saltei assustada e Felipe falou através da porta:

— Amor, você já está aí há um tempo. tudo bem?

Neguei com a cabeça, mesmo ele não podendo ver e nem ouvir. Suspirei e me levantei murmurando "já estou saindo". Eu tinha que ser forte por William e mesmo com medo, precisava unir essas peças do passado e presente. Admito que não queria. Dependendo da verdade, mudaria tudo.

💉📚🎶

— Precisamos enfrentar o grande elefante branco, Felipe.

Passamos o resto do dia no automático com Felipe me evitando e estando mais perto do celeiro do que em casa e, agora que estávamos indo dormir, eu simplesmente não conseguiria sem saber a verdade.

— Tudo bem, meu amor, vem cá – chamou, mas apenas sentei-me com as pernas cruzadas e o encarei.

Felipe parecia miserável. Seu rosto estava abatido e seu maxilar tenso. Ele mal podia me encarar e senti meu estômago revirando.

— Quem é James? – sussurrei.

— Eu não sei.

Pela primeira notei sinceridade genuína em sua voz e isso me pegou desprevenida.

Eu (não) me lembro [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now